Um miniguia para enfrentar a falta de água e luz que começou na Região Sudeste e já se espalha pelo país
VEJA - Blog do Ricardo Setti
1. A água acabará de vez?
Não, mas está mais escassa. Há três motivos fundamentais. O primeiro é climático, pois desde o ano passado chove 40% abaixo do esperado. Em segundo lugar, a grande concentração de pessoas em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro faz com que, proporcionalmente, o volume de água disponível para cada uma delas seja semelhante ao de populações do sertão nordestino. Por fim, houve demora das autoridades em revelar a crise, e com isso a população não se preocupou em reduzir o consumo.
2. A situação é irreversível?
A curto prazo, sim. Em um cenário otimista, o nível dos reservatórios paulistas e fluminenses só voltará ao normal em dois anos, desde que a chuva siga no ritmo atual e o consumo não cresça. Fazer chover, por óbvio, é impossível – mas controlar o consumo é muito plausível.
3. A atual escassez poderia ter sido evitada?
Em termos. Há pelo menos dez anos os especialistas já intuíam que as mudanças climáticas levariam à falta de água no Brasil, mas não havia como prever a secura fora da linha histórica. Poderiam ter sido tomadas, sim, medidas como o controle do vazamento em tubulações, a vigilância contra os chamados “gatos”, para evitar perdas comerciais, e o incentivo ao reúso de água de esgoto, além de campanhas de adoção de hábitos sustentáveis.
4. A conta de água vai aumentar?
Ainda não, embora técnicos em infraestrutura defendam um reajuste proporcional ao consumo como forma de forçar a economia de água e governos, como o de São Paulo, estudem a medida (no estado paulista, começaria a partir de abril). Mas descontos para quem economizar e multas para quem elevar o gasto de água já são aplicados em São Paulo e logo mais serão também em Minas Gerais.
5. Como conseguir água durante os cortes de abastecimento, já admitidos pela Sabesp, em São Paulo?
Se a caixa-d’água não der conta de manter o abastecimento durante o corte, a opção mais segura é contratar caminhões-pipa. O preço, no entanto, aumentou. Um caminhão de 15 000 litros passou a custar em torno de 1 200 reais, 50% a mais do que antes da crise. Para beber, a melhor alternativa é comprar galões de água mineral, que também tiveram o preço elevado em 15% no último ano.
6. Furar poços artesianos é uma opção viável?
Depende. Estima-se que já existam 12 000 poços apenas na Grande São Paulo, a maioria deles clandestina. Para fazer diferença no abastecimento, seria preciso dobrar esse número, mas não há empresas de perfuração do solo credenciadas em quantidade suficiente para o trabalho. Tampouco é possível fiscalizar com eficácia a qualidade da água que será extraída.
Regiões com postos de combustível, por exemplo, não podem ter poços, porque as substâncias químicas contaminam o solo. O mesmo vale para lugares perto de lixões e áreas em que o esgoto é despejado irregularmente. Ou seja, só adote essa tática se contratar especialistas técnicos para implementá-la.
7. Escolas, shoppings, hospitais, restaurantes e lojas vão fechar?
Talvez temporariamente. Escolas e hospitais têm prioridade no fornecimento de caminhões-pipa, mas, se chegarem a ponto de não poder manter banheiros funcionando, a orientação é que fechem as portas. O mesmo vale para o comércio, como os shoppings.
8. Se parte da população sair das cidades afetadas, o problema será contornado?
Não. Na Grande São Paulo, por exemplo, vivem 20 milhões de pessoas. Para haver uma migração que faça diferença no sistema, seria preciso um improvável êxodo de milhões de pessoas, deixando para trás a casa e o emprego. Isso é ficção.
9. Até quando será preciso manter o consumo reduzido?
Pelo menos até a temporada de chuvas do segundo semestre deste ano, que tem início no fim de setembro. No entanto, se as médias de precipitação novamente ficarem abaixo das marcas históricas, como ocorre há dois anos, a crise poderá se estender.
10. A água do volume morto é potável?
Depois de tratada, sim. Toda água que chega às torneiras tem a qualidade exigida para o consumo. Uma associação de consumidores testou sua potabilidade, e a aprovou. Mas é normal que ela chegue com aparência e cheiro um pouco diferentes, pois, na origem, está dentro do solo, e a diminuição da vazão em reservatórios faz com que ela fique um pouco esbranquiçada logo depois que a pressão é aumentada novamente.
11. Quando a oferta de água será normalizada?
Dois anos é o prazo mínimo para que o sistema se recupere. Isso se forem mantidas as atuais condições de consumo e de chuvas, e se o governo adotar esperadas medidas de reestruturação do abastecimento. No entanto, como a população urbana só tende a aumentar e a demanda por bens e serviços também, o recomendado é adotar os padrões sustentáveis de consumo de forma definitiva para evitar crises futuras.
12. Por que, se não há água, é grande o risco de ocorrer um apagão de luz?
Três quartos da geração de energia no Brasil são garantidos por hidrelétricas, que dependem de água para funcionar. Se falta chuva para abastecer as usinas, não se pode confiar na capacidade delas para continuar com a produção. Neste verão, o aumento do uso de energia já sobrecarregou as usinas e foi necessário cortar o fornecimento por um período.
13. Então, além de água, ficaremos sem luz?
Não necessariamente. Para restringir o uso de hidrelétricas, no ano passado o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidiu aumentar a capacidade de geração das termelétricas, que custam mais caro. E soluções emergenciais, como a importação de energia de países vizinhos, já são aplicadas.
Mas o consumidor sentirá no bolso o efeito dessa substituição: a conta de luz chegará mais cara quando as termelétricas forem ativadas com mais intensidade e a importação começar para valer.
14. Como reverter a situação?
É preciso chover, antes de mais nada. Os dois subsistemas com maior capacidade de geração de energia hidrelétrica – o Sudeste/Centro-Oeste e o Nordeste – estão operando com menos de 20% de seu potencial, o que só melhorará quando o nível de água armazenada nos reservatórios subir.
15. Como economizar?
Não se pode culpar a população pela crise, um efeito da combinação de imprevisíveis mudanças climáticas (veja a reportagem na pág. 80) com ingerência governamental. Mas, agora que a seca está estabelecida e apagões energéticos podem ocorrer a qualquer momento, cada cidadão pode fazer sua parte para aliviar a situação. De modo geral, a regra é prestar atenção em hábitos diários e reduzir o consumo ao máximo.
Algumas dicas para economizar água…
• tome banhos de no máximo cinco minutos
• feche a torneira enquanto escova os dentes, faz a barba e lava a louça
• não deixe o chuveiro ligado enquanto se ensaboa
• reaproveite a água, utilizando baldes para reciclar o que é gasto em máquinas de lavar e para armazenar a água fria da ducha enquanto espera que ela esquente
• não lave carros, calçadas, pátios nem regue jardins que possam captar água das chuvas
• se for dono de um comércio ou empresa, é possível adotar ações como trocar os copos de vidro pelos de plástico
• no trabalho, estimule colegas a aderir às mesmas atitudes sustentáveis (e lembre que é preciso economizar também no escritório)
…E luz
• não deixe luzes acesas sem necessidade, como quando não há pessoas em um cômodo
• desligue aparelhos, mesmo televisores e computadores, quando não estiverem sendo utilizados
• reduza o uso do ar-condicionado em casa e, se possível, no trabalho
• aproveite a luz solar durante o dia: em vez de utilizar lâmpadas, abra janelas para ganhar iluminação
• troque as lâmpadas quentes pelas frias, mais econômicas
• opte pela compra de eletrodomésticos que gastem menos energia
VEJA - Blog do Ricardo Setti
1. A água acabará de vez?
Não, mas está mais escassa. Há três motivos fundamentais. O primeiro é climático, pois desde o ano passado chove 40% abaixo do esperado. Em segundo lugar, a grande concentração de pessoas em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro faz com que, proporcionalmente, o volume de água disponível para cada uma delas seja semelhante ao de populações do sertão nordestino. Por fim, houve demora das autoridades em revelar a crise, e com isso a população não se preocupou em reduzir o consumo.
2. A situação é irreversível?
A curto prazo, sim. Em um cenário otimista, o nível dos reservatórios paulistas e fluminenses só voltará ao normal em dois anos, desde que a chuva siga no ritmo atual e o consumo não cresça. Fazer chover, por óbvio, é impossível – mas controlar o consumo é muito plausível.
3. A atual escassez poderia ter sido evitada?
Em termos. Há pelo menos dez anos os especialistas já intuíam que as mudanças climáticas levariam à falta de água no Brasil, mas não havia como prever a secura fora da linha histórica. Poderiam ter sido tomadas, sim, medidas como o controle do vazamento em tubulações, a vigilância contra os chamados “gatos”, para evitar perdas comerciais, e o incentivo ao reúso de água de esgoto, além de campanhas de adoção de hábitos sustentáveis.
4. A conta de água vai aumentar?
Ainda não, embora técnicos em infraestrutura defendam um reajuste proporcional ao consumo como forma de forçar a economia de água e governos, como o de São Paulo, estudem a medida (no estado paulista, começaria a partir de abril). Mas descontos para quem economizar e multas para quem elevar o gasto de água já são aplicados em São Paulo e logo mais serão também em Minas Gerais.
5. Como conseguir água durante os cortes de abastecimento, já admitidos pela Sabesp, em São Paulo?
Se a caixa-d’água não der conta de manter o abastecimento durante o corte, a opção mais segura é contratar caminhões-pipa. O preço, no entanto, aumentou. Um caminhão de 15 000 litros passou a custar em torno de 1 200 reais, 50% a mais do que antes da crise. Para beber, a melhor alternativa é comprar galões de água mineral, que também tiveram o preço elevado em 15% no último ano.
6. Furar poços artesianos é uma opção viável?
Depende. Estima-se que já existam 12 000 poços apenas na Grande São Paulo, a maioria deles clandestina. Para fazer diferença no abastecimento, seria preciso dobrar esse número, mas não há empresas de perfuração do solo credenciadas em quantidade suficiente para o trabalho. Tampouco é possível fiscalizar com eficácia a qualidade da água que será extraída.
Regiões com postos de combustível, por exemplo, não podem ter poços, porque as substâncias químicas contaminam o solo. O mesmo vale para lugares perto de lixões e áreas em que o esgoto é despejado irregularmente. Ou seja, só adote essa tática se contratar especialistas técnicos para implementá-la.
7. Escolas, shoppings, hospitais, restaurantes e lojas vão fechar?
Talvez temporariamente. Escolas e hospitais têm prioridade no fornecimento de caminhões-pipa, mas, se chegarem a ponto de não poder manter banheiros funcionando, a orientação é que fechem as portas. O mesmo vale para o comércio, como os shoppings.
8. Se parte da população sair das cidades afetadas, o problema será contornado?
Não. Na Grande São Paulo, por exemplo, vivem 20 milhões de pessoas. Para haver uma migração que faça diferença no sistema, seria preciso um improvável êxodo de milhões de pessoas, deixando para trás a casa e o emprego. Isso é ficção.
9. Até quando será preciso manter o consumo reduzido?
Pelo menos até a temporada de chuvas do segundo semestre deste ano, que tem início no fim de setembro. No entanto, se as médias de precipitação novamente ficarem abaixo das marcas históricas, como ocorre há dois anos, a crise poderá se estender.
10. A água do volume morto é potável?
Depois de tratada, sim. Toda água que chega às torneiras tem a qualidade exigida para o consumo. Uma associação de consumidores testou sua potabilidade, e a aprovou. Mas é normal que ela chegue com aparência e cheiro um pouco diferentes, pois, na origem, está dentro do solo, e a diminuição da vazão em reservatórios faz com que ela fique um pouco esbranquiçada logo depois que a pressão é aumentada novamente.
11. Quando a oferta de água será normalizada?
Dois anos é o prazo mínimo para que o sistema se recupere. Isso se forem mantidas as atuais condições de consumo e de chuvas, e se o governo adotar esperadas medidas de reestruturação do abastecimento. No entanto, como a população urbana só tende a aumentar e a demanda por bens e serviços também, o recomendado é adotar os padrões sustentáveis de consumo de forma definitiva para evitar crises futuras.
12. Por que, se não há água, é grande o risco de ocorrer um apagão de luz?
Três quartos da geração de energia no Brasil são garantidos por hidrelétricas, que dependem de água para funcionar. Se falta chuva para abastecer as usinas, não se pode confiar na capacidade delas para continuar com a produção. Neste verão, o aumento do uso de energia já sobrecarregou as usinas e foi necessário cortar o fornecimento por um período.
13. Então, além de água, ficaremos sem luz?
Não necessariamente. Para restringir o uso de hidrelétricas, no ano passado o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidiu aumentar a capacidade de geração das termelétricas, que custam mais caro. E soluções emergenciais, como a importação de energia de países vizinhos, já são aplicadas.
Mas o consumidor sentirá no bolso o efeito dessa substituição: a conta de luz chegará mais cara quando as termelétricas forem ativadas com mais intensidade e a importação começar para valer.
14. Como reverter a situação?
É preciso chover, antes de mais nada. Os dois subsistemas com maior capacidade de geração de energia hidrelétrica – o Sudeste/Centro-Oeste e o Nordeste – estão operando com menos de 20% de seu potencial, o que só melhorará quando o nível de água armazenada nos reservatórios subir.
15. Como economizar?
Não se pode culpar a população pela crise, um efeito da combinação de imprevisíveis mudanças climáticas (veja a reportagem na pág. 80) com ingerência governamental. Mas, agora que a seca está estabelecida e apagões energéticos podem ocorrer a qualquer momento, cada cidadão pode fazer sua parte para aliviar a situação. De modo geral, a regra é prestar atenção em hábitos diários e reduzir o consumo ao máximo.
Algumas dicas para economizar água…
• tome banhos de no máximo cinco minutos
• feche a torneira enquanto escova os dentes, faz a barba e lava a louça
• não deixe o chuveiro ligado enquanto se ensaboa
• reaproveite a água, utilizando baldes para reciclar o que é gasto em máquinas de lavar e para armazenar a água fria da ducha enquanto espera que ela esquente
• não lave carros, calçadas, pátios nem regue jardins que possam captar água das chuvas
• se for dono de um comércio ou empresa, é possível adotar ações como trocar os copos de vidro pelos de plástico
• no trabalho, estimule colegas a aderir às mesmas atitudes sustentáveis (e lembre que é preciso economizar também no escritório)
…E luz
• não deixe luzes acesas sem necessidade, como quando não há pessoas em um cômodo
• desligue aparelhos, mesmo televisores e computadores, quando não estiverem sendo utilizados
• reduza o uso do ar-condicionado em casa e, se possível, no trabalho
• aproveite a luz solar durante o dia: em vez de utilizar lâmpadas, abra janelas para ganhar iluminação
• troque as lâmpadas quentes pelas frias, mais econômicas
• opte pela compra de eletrodomésticos que gastem menos energia
Nenhum comentário:
Postar um comentário