Reinaldo Azevedo - VEJA
Se
os paulistanos querem morar num lugar bancada, devem escolher a São
Paulo que existe no discurso do prefeito Fernando Haddad (PT), o
Supercoxinha que segue sendo o preferido das redações. Basta que ele
faça uma faixa em “x” no Centro para ser tratado como um Schopenhauer.
Chega a ser patético. No domingo, aniversário da cidade, ele escreveu um
artigo para a Folha.
O homem do aposentado “Arco do Futuro” agora se dedica ao “Caminho para
o futuro”. É preciso ler para crer. O que não é risível é francamente
incompreensível.
O que
quer dizer, por exemplo, este trecho: “Na educação, recuperamos a
centralidade da escola com o fim da “aprovação automática” e com a
instalação de universidades nos CEUs”? Resposta: nada! Há inverdades que
insultam os fatos, como esta: “Mesmo com todo o esforço de outros
governantes, recebi a administração municipal em 2013 com o prognóstico
de quebra financeira, expansão caótica e obsolescência por falta de
investimentos.” O prefeito fala de “um projeto habitacional que
entregará 55 mil moradias até 2016, algo sem precedente na luta por
moradia”. Sem dúvida! Estamos em 2014. Em dois anos, ele entregou apenas
2.700.
Bem, nesta terça, o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) contestou na mesma Folha o seu artigo. Segue a íntegra do texto.
Crônica de uma cidade imaginária
Cada
vez que leio uma entrevista ou um artigo do prefeito Fernando Haddad
fico mais impressionado com seu desconhecimento da vida e dos problemas
de São Paulo. No último domingo (25), nesta seção, Haddad escreveu um
artigo sobre uma cidade que só ele conhece. Bem distante da São Paulo
real, na qual os moradores são diariamente castigados pela incúria da
administração.
Haddad
afirma que é uma “falsa dialética contrapor a prefeitura-zeladora, que
coleta impostos, tapa buracos e recolhe lixo, à prefeitura-planejadora,
que inova e olha a cidade do futuro”. Não existe falsa dialética, mas
uma dupla incompetência: a prefeitura não cumpre sua função de zelar nem
de planejar o futuro.
Mesmo
contando com a boa vontade dos críticos, é inegável que Haddad piorou a
cidade. Ele a recebeu após as gestões José Serra (2004-06) e Gilberto
Kassab (2006-12) com R$ 885 milhões de superávit, além de um amplo
acervo de obras concluídas nas áreas de saúde, educação e
infraestrutura. Até agora, Haddad nada de positivo criou.
O
prefeito insiste em dizer que precisa disputar palmo a palmo a versão
dos fatos, mas os fatos insistem em desmentir as versões. A prefeitura
diz que mais de 80% dos dependentes que vivem na cracolândia foram
recuperados. Porém, mais de mil pessoas vagam desassistidas como zumbis
pela região.
Ele
diz que a culpa pela queda recorde de árvores neste verão foi de um
vendaval semelhante ao Katrina, mas se esquece de falar da total
ausência de manutenção e de podas dos galhos em sua gestão.
O
discurso dá menos trabalho do que a prática, mas os fatos são
implacáveis. Ao ser empossado, Haddad se comprometeu com 123 metas.
Dessas, apenas 16 foram cumpridas. A meta para os primeiros dois anos na
saúde era construir 38 UBSs, mas fez apenas quatro.
Na
habitação, a promessa era concluir 19 mil casas até a metade do mandato
–foram entregues 2.700. Haddad havia prometido construir 243 creches.
Contudo, apenas 26 foram concluídas.
O prefeito não “desliza investimentos”, ele os engaveta por inépcia ou por inviabilidade.
As
finanças foram comprometidas. O superávit herdado já virou déficit. Nos
últimos dois anos, Haddad gastou mais do que arrecadou. A tão celebrada
renegociação da dívida com a União, que o prefeito pinta como mérito
exclusivo dele, é um processo que vem desde a administração Kassab.
O
prefeito, que não conhece São Paulo, insiste em compará-la a Nova York, o
que demonstra desconhecimento de ambas. Ao citar Janette Sadik-Khan,
ex-chefe do departamento de trânsito de Nova York, ele omitiu um fato
essencial: ela apenas alcançou bons resultados na implantação de
ciclovias depois de discutir com toda a sociedade.
Em entrevista a esta Folha,
ela explicou que organizou 2.000 encontros por ano, durante seis anos,
para definir rotas –enquanto por aqui tudo é feito no afogadilho.
O
prefeito quer dar a impressão de “moderninho descolado” quando fala de
grafites, wi-fi e micropraças, mas continua esquecendo o sofrimento dos
que vivem na periferia, onde os programas de habitação, limpeza de
córregos e do sistema de drenagem não saem do discurso.
No
artigo de domingo, o prefeito já preparou a desculpa pela falta de
resultados –os ” tempos sofridos”. Se quisesse ser mesmo solidário,
deveria gastar a verba de publicidade da prefeitura em campanhas
esclarecedoras de como poupar energia elétrica e água, em vez de mostrar
uma cidade que não existe.
O
verdadeiro furacão que passa por São Paulo é a atual gestão municipal,
que está devastando a cidade, a despeito das palavras moderninhas de
Haddad e de sua gestão “protossocialista” — como disse a secretária de
Planejamento de Haddad, Leda Paulani, que, de cidade, só conhece a
universitária.
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