A insegurança da indústria
O Estado de S.Paulo
Investir para crescer deveria ser o mote da economia brasileira,
depois de quatro anos muito ruins, mas o empresário industrial continua
à espera de sinais mais animadores para aumentar e modernizar a
capacidade produtiva. Os planos de aplicar dinheiro em máquinas,
equipamentos e instalações nos próximos seis meses são hoje menores do
que há um ano, segundo sondagem da Confederação Nacional da Indústria
(CNI). O índice de intenção de investimento ficou neste mês em 52
pontos, 9,5 pontos abaixo do nível de janeiro de 2014. O índice varia de
0 a 100 e números acima de 50 indicam avaliação positiva ou expectativa
favorável. Os próximos meses continuam sendo de muita escuridão para os
dirigentes do setor, principalmente para os da indústria de
transformação, de acordo com a pesquisa. Mudar essa percepção é uma das
tarefas mais complicadas do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e,
no fim das contas, a mais importante: crescimento depende de
investimento e investimento depende de confiança para assumir
compromissos e riscos.
A intenção de investir
diminuiu durante a maior parte do ano passado, aumentou ligeiramente no
trimestre final e voltou a murchar neste mês. A piora da disposição em
janeiro parece muito natural depois do recuo da produção em dezembro,
mais acentuada, segundo a sondagem, que a dos anos anteriores. O
indicador de produção despencou no fim do ano de 45,4 para 38,3 pontos, o
nível mais baixo da série iniciada em janeiro de 2010. O porcentual de
uso da capacidade instalada baixou de 70 para 68 em um ano.
A
baixa disposição de investir combina também com as modestas
expectativas de negócios nos próximos seis meses. O indicador de
expectativa da demanda recuou de 55,8 pontos em janeiro de 2014 para
50,9 pontos neste mês. O da quantidade exportada diminuiu de 51,1 para
50,2 pontos. Para as indústrias pequenas e médias os dois índices
ficaram abaixo de 50. Para as grandes, ficaram ligeiramente positivos
nos dois casos - 52,5 pontos para a demanda e 51,3 para a exportação. As
pequenas e médias, como tem sido normal no Brasil, continuam operando
com maiores dificuldades em relação ao crédito e a outras condições
essenciais para o crescimento e, muitas vezes, para a sobrevivência.
Os
últimos dados oficiais sobre o desempenho da indústria são de novembro e
foram divulgados no começo de janeiro pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). De janeiro a novembro, a produção
industrial foi 3,2% menor que a de um ano antes. As comparações foram
negativas para todos os grandes conjuntos: bens de capital,
intermediários e de consumo - duráveis e semiduráveis. A maior queda foi
a da produção de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. O
resultado ficou 8,8% abaixo do acumulado entre janeiro e novembro de
2o13. Como a importação de bens de capital também foi menor que a do ano
anterior, a conclusão é inevitável: mais uma vez as compras de bens de
produção diminuíram. Mais uma vez, portanto, deixou-se de cuidar da
produtividade e da competitividade.
A afirmação vale para o
conjunto da economia, embora ainda se desconheçam os dados finais do
Produto Interno Bruto (PIB) e de sua composição. Mas o investimento,
medido pela formação bruta de capital fixo, muito dificilmente deve ter
melhorado, pelo menos de forma significativa, nos últimos três meses. No
terceiro trimestre, o total investido pelo setor público e pelo setor
privado foi 8,5% menor que o de um ano antes. O valor investido nesse
período equivaleu a 17,4% do PIB, a menor taxa para esse trimestre desde
2008, quando atingiu 20,7%.
Durante anos o crescimento
econômico do Brasil foi puxado pelo consumo, mas essa mágica - muito
confortável para o governo, econômica e politicamente - deixou de
funcionar em 2011. O novo ministro da Fazenda anunciou a mudança de
ênfase do consumo para o investimento, repetindo promessa de seu
antecessor. Seriedade e firmeza - da presidente, em primeiro lugar -
poderão criar as condições necessárias.
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