A pergunta que não quer calar
Antigamente, a rapina ao patrimônio público era
ação de indivíduos, solitária ou em pequenas quadrilhas. Hoje, é
sistêmica e se dá na casa dos bilhões
Ruy Fabiano - Blog do Noblat
A ruína do projeto político do PT – e o governo Dilma é sua mais
eloquente síntese e tradução - dá-se em meio ao silêncio de entidades da
sociedade civil, que, ao longo da história contemporânea, tiveram amplo
protagonismo na cena pública.
Onde estão a OAB, a ABI, a UNE e a CNBB, entre outras siglas que se
associaram à história da reação popular aos maus governantes? – eis a
pergunta que não quer calar.
No momento em que a corrupção sistematizada, comandada de dentro do
Estado, apresenta sua conta – Mensalão, quebra da Petrobras, violação da
Lei de Responsabilidade Fiscal, falência da economia -, é no mínimo
ensurdecedor o silêncio de quem sempre soube falar tão alto em momentos
de crise e de má governança.
O final do governo militar deveu-se a uma conjunção de fatores, que se
resumem na falência de seu modelo econômico e na falta de
representatividade de seu modelo político.
Foram essas entidades que romperam a mordaça da repressão, articularam a
sociedade e levaram às ruas o “basta” da população. Exerceram, naquela
oportunidade, uma vigilância cívica decisiva para que o país se
reencontrasse com a democracia.
Mas essa vigilância, que prosseguiu nos primeiros governos civis – os
de Sarney, Collor, Itamar e FHC -, começou a minguar até desaparecer por
completo desde a posse de Lula, festejada por elas como se o país,
enfim, tivesse chegado ao Paraíso.
O que se constata é que, a exemplo do que aconteceu com o próprio
Estado brasileiro, essas entidades foram mutiladas na sua essência.
Transformaram-se em células partidárias, corresponsáveis pelo projeto
político em curso, de índole revolucionária.
A lógica revolucionária, como se sabe, é a da ruptura, que começa por
dividir a sociedade e a colocá-la em conflito. Promove o caos e depois
acena com a ordem totalitária para consertar o que ela mesmo quebrou. O
país está em meio a esse processo.
O projeto do PT postula uma “sociedade hegemônica”, que é o avesso de
uma sociedade democrática, em que o poder se alterna entre os diversos
partidos que se organizam para exercê-lo. Numa sociedade de pensamento
único, não cabe a liberdade de imprensa, o que explica a obsessão
petista por controlar a mídia.
Esse projeto de poder, gestado no Foro de São Paulo – entidade criada
por Lula e Fidel Castro em 1990, para reunir as esquerdas do continente
em torno de um projeto único de poder, a Grande Pátria -, já está em
estágio mais avançado em países vizinhos, menos complexos que o Brasil.
Temos então a oportunidade de contemplar etapas pelas quais ainda não
passamos, mas que, mantidas as ações em curso, fatalmente passaremos. E
isso explica as dimensões estratosféricas da rapina petista ao Estado
brasileiro.
Não foi o PT que inventou a corrupção, mas nada nem ninguém a elevou ao
patamar em que se encontra. E o que temos corresponde apenas a um
início de devassa numa única estatal. Como disse Paulo Roberto Costa,
ex-diretor da Petrobras, o que lá se fez também se fez nas demais
estatais, ainda não investigadas.
Antigamente, a rapina ao patrimônio público era ação de indivíduos,
solitária ou em pequenas quadrilhas. Hoje, é sistêmica e se dá na casa
dos bilhões. Para onde foi esse dinheiro, que se tem por irrecuperável?
Se só um gerente, Pedro Barusco, braço direito do Renato Duque, operador
do PT na estatal (e que está solto), se dispôs a devolver 100 milhões
de dólares, quanto está em jogo?
Não apenas: se o rombo já constatado – e, repito, estamos falando de
apenas uma estatal – chega quase a 90 bilhões de reais, pergunta-se para
onde foi essa montanha de dinheiro. Ninguém acredita que o dinheiro que
Barusco vai devolver era só dele.
A lógica indica que ele era um laranja. O dinheiro, guardado em conta
no exterior, serve à causa, assim como os demais 88,6 bilhões que a
própria Graça Foster admite não ser o total. O dinheiro é do Foro e
serve aos interesses da Grande Pátria, de que falava Hugo Chávez, o
projeto de unificação socialista do continente. É dinheiro demais até
para um partido com a voracidade do PT. É destinado a um projeto
geopolítico – afinal, revolução é verba -, cujos adeptos dominam hoje as
principais entidades da sociedade civil.
Daí o silêncio cúmplice com que acompanham os maiores desmandos já
registrados na História não apenas do país e do continente, mas do
próprio mundo moderno, como registrou o The New York Times. Em que
medida esse ideário psicótico afetou as instituições, sobretudo o
Judiciário, teremos a oportunidade de ver, nos desdobramentos da
Operação Lava-Jato.
Aguarda-se para depois do carnaval a denúncia do procurador geral da
República, Rodrigo Janot, e o posicionamento do relator do processo no
STF, ministro Teori Zavascki. Eles dirão em que estágio de subserviência
e deterioração estão as instituições desta Sereníssima República.
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