A batalha da comunicação
O Estado de S.Paulo
"Vamos falar mais" foi o que pediu a presidente Dilma Rousseff
aos ministros do seu governo, durante reunião na Granja do Torto. O
pedido, vindo de alguém que até aquela ocasião parecia ter entrado o ano
à sombra - diante do desastre administrativo que foi seu primeiro
governo e dos cabeludos escândalos a que o País vem assistindo, a
presidente mantinha-se muda -, surpreendeu o distinto público da
reunião.
No entanto, tendo em vista o longo tempo
que Dilma dedicou ao tema - apelidando-o de "batalha da comunicação" -, a
determinação para que os ministros falem mais define a sua visão sobre o
que é governar um país.
O Brasil tem graves problemas, a
começar pelos de infraestrutura precária e do sistema educacional
deficiente, que demandam a atenção integral da alta administração do
País. Mas, ao focalizar como o grande tema do início do seu segundo
mandato a "batalha da comunicação", a presidente mostra que, para ela,
governar é envolver-se em picuinhas. Já não se trataria de administrar
bem os recursos públicos, prover serviços públicos adequados, corrigir o
que está indo mal. O que lhe parece importar é construir uma imagem
favorável perante a opinião pública.
As verdadeiras
batalhas de um governo não são as batalhas psicológicas ou de
comunicação. Governar bem é promover o bem comum - melhorar as políticas
públicas, tornar mais eficiente a atuação do Estado, criar um ambiente
propício ao investimento e ao trabalho, fechar as torneiras da
corrupção. É para isso que um povo elege o seu governante.
O
discurso a respeito da batalha da comunicação revela também a
insegurança de Dilma, pois quatro anos de governo não foram suficientes
para dar consistência a uma personagem criada artificialmente na
campanha de 2010. A presidente parece ainda ter a insegurança da
debutante, que anseia continuamente olhar-se no espelho e saber o que
dela pensam os outros. Ora, o que dela se pensa reflete exatamente o que
ela faz ou deixa de fazer.
E o saldo de sua administração
é, para se dizer o mínimo, desastroso. Terá, portanto, de corrigir
rumos, mudar atitudes, esquecer preconceitos e lançar-se ao trabalho
árduo, seguindo diretrizes racionais, que não sejam produtos de uma
vontade que se esboroa no choque com a realidade.
A
distância entre governar para valer e governar para aparecer é abissal.
Essa diferença pode ser facilmente comprovada ao comparar o que cada
tipo de governo entrega à população. No governo encarado como uma boa
administração da coisa pública, a população recebe políticas públicas
adequadas, que se traduzem em desenvolvimento social e econômico. No
governo reduzido a uma batalha da comunicação, a população recebe, se
tiver sorte, um bom programa de TV.
Governar um país não é
promover uma contínua campanha eleitoral, na qual a cada dia se grava um
programa de rádio e de TV. A população espera muito mais dos seus
governantes. A população não quer explicações e mais explicações, como a
presidente Dilma ordena a seus ministros que façam. A população está
farta de explicações - ela quer fatos.
Caso sintomático é o
modo como o Palácio do Planalto vem tratando as denúncias de corrupção
envolvendo a Petrobrás, empreiteiras e partidos políticos. Até o
momento, o governo apenas deu explicações - e formulou promessas. Mas o
País ainda está à espera de providências efetivas na esfera
administrativa. Como afirmou o Ministério Público Federal, ao requerer a
prisão preventiva de Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional
da Petrobrás, ainda "não há indicativos" de que o esquema de corrupção
na estatal tenha sido estancado.
A visão de Dilma sobre o
que é governar - o governo como uma guerra psicológica, e não como um
serviço à sociedade - é uma vez mais a triste confirmação de que o
lulopetismo só se preocupa com a própria manutenção no poder. Deu as
costas para a população. Deu as costas para aquilo de que o País
precisa. Deu as costas para as suas responsabilidades constitucionais. E
agora doutrina os novos ministros para que façam o mesmo.
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