sexta-feira, 24 de abril de 2015

Apesar da derrota da independência, nacionalismo volta a crescer na Escócia
Steven Erlanger - NYT
Cathal McNaughton/Reuters
Nicola Sturgeon, chefe do SNP (Partido Nacionalista Escocês, na sigla em inglês) e primeira-ministra da Escócia Nicola Sturgeon, chefe do SNP (Partido Nacionalista Escocês, na sigla em inglês) e primeira-ministra da Escócia
"A Escócia enlouqueceu", escreveu Chris Deerin, um colunista escocês, tentando compreender o aumento do nacionalismo apenas sete meses após o referendo da independência ter sido derrotado por uma margem sólida de 10 pontos percentuais.
"É uma coisa estranha, começar a pensar que sua terra natal pode ser um tanto confusa", ele escreveu para o site "CapX", de autoria de uma instituição de pesquisa de centro-direita. "É ainda mais estranho quando sua terra natal é a Escócia, berço do Iluminismo, motor do Império."
O julgamento é duro, mas a mudança de maré na Escócia é um dos maiores dramas da eleição britânica de 7 de maio, casada com o colapso do Partido Liberal Democrata e a ascensão do Partido da Independência do Reino Unido. Enquanto alguns liberal-democratas estão migrando para o Partido Trabalhista, os eleitores trabalhistas escoceses estão migrando para o Partido Nacional Escocês (SNP), que provavelmente conquistará a maioria das 59 cadeiras da Escócia, dando nova força à ideia sem custo calculado da independência.
Até mesmo Glasgow, território do Partido Trabalhista Escocês, está se voltando para o mais fervorosamente esquerdista SNP. Segundo uma pesquisa de intenção de voto, o líder do Partido Trabalhista Escocês, Jim Murphy, pode perder sua cadeira, juntamente com seu ministro das Relações Exteriores paralelo, Douglas Alexander.
A aniquilação na Escócia poderia custar ao líder trabalhista Ed Miliband um lugar em Downing Street ou forçá-lo a lidar com o SNP. E por mais empolgante que tudo isso possa ser para os escoceses, isso levanta novas dúvidas sobre o futuro do Reino Unido.
Uma Escócia tão dominada pelo SNP poderia fazer o Partido Trabalhista se transformar em apenas mais outro partido inglês, como o Partido Conservador. Como a principal meta do SNP é a independência, outros britânicos questionam se a Escócia deveria se beneficiar desproporcionalmente do sul mais rico.
A Inglaterra canaliza dinheiro para o norte que paga por universidades gratuitas e medicamentos prescritos para os escoceses, benefícios não disponíveis para os outros britânicos.
Devido a uma fórmula regional, a Escócia gasta 10% mais per capita do que a média britânica. Segundo as projeções do Escritório para Responsabilidade Orçamentária, o déficit fiscal líquido da Escócia será de 8,6% do produto interno bruto, em comparação a 4% do Reino Unido.
Isso não importa em um país unificado, mas importará se o SNP agir apenas no interesse da Escócia ou pressionar duramente seu rival escocês, mas parceiro putativo de Westminster, o Partido Trabalhista, por mais gastos.
A líder do SNP, Nicola Sturgeon, impressionou o restante do Reino Unido nos debates televisionados. Ela exige um fim da austeridade, mas é vaga sobre como financiá-lo ou reduzir o déficit. Nem abordou o colapso dos preços do petróleo, que causaria outro grande rombo na receita de uma Escócia independente. Mas como ministra principal da Escócia, ela nem mesmo está concorrendo a uma cadeira. Entretanto, seu antecessor, Alex Salmond, está, e quer forçar qualquer governo trabalhista a adotar uma postura mais esquerdista.
Essa conversa agrada aos conservadores, que argumentam que um governo Miliband dependente do SNP significaria "caos" e "irresponsabilidade econômica". Boris Johnson, um conservador, comparou Sturgeon e Miliband a um escorpião nas costas de um sapo.
Então a famosa "questão de West Lothian" se torna mais aguda –por que os membros escoceses do Parlamento votam em assuntos que afetam a Inglaterra, enquanto os políticos de Westminster não têm direito de votar em assuntos escoceses? Essas decisões são tomadas pelo governo regional cada vez mais poderoso da Escócia, comandado pelo SNP.
Com a Inglaterra representando 85% da população do Reino Unido, os conservadores já levantaram a questão dos "ingleses votando por leis inglesas". Levada à sua conclusão lógica, isso significaria Parlamentos separados.
O jornalista Martin Wolf escreveu no "Financial Times" que o SNP como "fazedor permanente de reis" coloca em risco a "estabilidade da união".
Para "um partido interessado principalmente em ter seu bolo e comê-lo" deter o equilíbrio de poder, ele disse, "não me parece um preço que vale a pena ser pago pela união".
Tradutor: George El Khouri Andolfato 

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