Frédéric Lemaître - Le Monde
AFP
Oskar Gröning, o 'contador de Auschwitz'
Uma senhorinha de 81 anos comoveu o Tribunal de Lüneburg (Baixa Saxônia, Alemanha) na quarta-feira (22). No dia anterior, esse tribunal havia iniciado o julgamento de Oskar Gröning, 93, acusado de ter participado, como "contador de Auschwitz", da morte de pelo menos 300 mil pessoas entre maio e julho de 1944, exterminadas no decorrer da operação "Hungria". Essa mulher, presente como querelante e não testemunha, estava justamente entre esses deportados.
"Eu me
chamo Eva Kor. Em maio de 1944, quando nos levaram até Auschwitz, eu
ainda me chamava Eva Mozes. Minha família e eu fazíamos parte de um
comboio de húngaros."Uma senhorinha de 81 anos comoveu o Tribunal de Lüneburg (Baixa Saxônia, Alemanha) na quarta-feira (22). No dia anterior, esse tribunal havia iniciado o julgamento de Oskar Gröning, 93, acusado de ter participado, como "contador de Auschwitz", da morte de pelo menos 300 mil pessoas entre maio e julho de 1944, exterminadas no decorrer da operação "Hungria". Essa mulher, presente como querelante e não testemunha, estava justamente entre esses deportados.
A bordo estavam seu pai, Alexandre Mozes, de 44 anos, sua mãe, Jaffa, 38, suas irmãs Edit, de 14 anos, Aliz, de 12, e ela e sua irmã gêmea Miriam, de 10. "Depois de 30 minutos na rampa, Miriam e eu fomos separadas para sempre de nossa família. Só nós sobrevivemos porque fomos utilizadas nos experimentos do doutor Mengele", ela explicou. Este se interessava particularmente pelos gêmeos para comparar suas reações.
"Ela só tem mais duas semanas de vida"
Com os produtos que lhes foram injetados e a febre que elas tiveram, era para Miriam e Eva terem morrido. "Uma pena. Ela é tão jovem e só tem mais duas semanas de vida", dizia o doutor Josef Mengele, com sua risada sarcástica, da qual Eva se lembra até hoje. Dos 1.500 pares de gêmeos utilizados como cobaias para o "médico", menos de 250 pessoas sobreviveram, lembra Eva Kor."Incapaz de andar" e rastejando pelo chão, um dia ela acabou reencontrando sua irmã. No dia 27 de janeiro de 1945, as duas jovens ainda estavam vivas quando os russos libertaram o campo. Foi só vários meses mais tarde que elas se deram conta de que eram as únicas sobreviventes da família.
Sua irmã morreu em 1993, com rins do tamanho de uma criança de 10 anos. Os médicos nunca souberam que produtos Mengele teria injetado nela. Hoje, Eva Kor diz ter "perdoado os nazistas", mas explica que isso não "os isenta". Vinda de Indiana para ver e ouvir Oskar Gröning, antes da abertura do julgamento ela havia mostrado admiração pelo fato de que este iria falar. Mas, após o depoimento do acusado, ela afinal lamentou que ele "não tenha dito grande coisa". "Estou um pouco decepcionada", ela disse.
Na quarta-feira, Oskar Gröning detalhou o funcionamento do campo de Auschwitz e afirmou que só foi algumas vezes até a rampa onde era feita a triagem dos deportados, antes de serem enviados às câmaras de gás na maior parte dos casos. "A capacidade das câmaras de gás e dos fornos de cremação era realmente limitada", ele disse. "A gente se gabava de conseguir exterminar 5.000 pessoas por dia", ele contou.
"Os judeus que chegavam" dentro de vagões de gado carregados com 80 a 85 pessoas "não precisavam descarregar seus pertences na rampa, os funcionários faziam isso por eles", contou Gröning, que se descreve como um "pobre e mero cabo", e que, na terça-feira, durante o primeiro dia de audiência, reconheceu sua "culpa moral".
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