Christian Neef - Der Spiegel
Pavel Golovkin/AP
Flores, velas e cartazes são mantidos no local onde Boris Nemtsov, líder da oposição russa e forte crítico ao presidente Vladimir Putin, foi morto a tiros em 27 de fevereiro, perto do Kremlin, em Moscou
Em um período de quatro semanas, dois eventos ocorreram na Rússia que, à primeira vista, parecem ter pouca ligação um com o outro. Mas à segunda vista, eles parecem estreitamente relacionados. O primeiro foi o assassinato do político de oposição Boris Nemtsov. O segundo foi o encontro do Fórum Conservador Russo há uma semana no domingo, em São Petersburgo. Ambas as ocorrências – o assassinato descarado do lado de fora do Kremlin e a tentativa de criar uma espécie de Internacional nacionalista em solo russo – provam a mesma coisa: a Rússia está política e moralmente à deriva.
O evento em São Petersburgo contou com a presença de 150 membros de partidos de extrema direita, incluindo o extremista de direita NPD da Alemanha, para examinar as "tendências políticas conjuntas" que podem encontrar com a liderança russa.
Políticos que apreciam abertamente Adolf Hitler estavam entre eles. Russos mais liberais – ao menos aqueles que ainda prestam atenção em notícias desse tipo – ficaram estarrecidos. Afinal, o evento contou com neonazistas marchando por uma cidade em cujas ruas centenas de milhares de civis morreram de fome durante o cerco a Leningrado (como a metrópole era chamada na época) na Segunda Guerra Mundial.
Aquelas mortes ocorreram pelas mãos da Alemanha de Hitler, um evento horrível que transformou a cidade em um símbolo da resistência heroica contra os nazistas. Ainda pior é o fato de que o 70º aniversário da vitória da União Soviética sobre Hitler será celebrado com grande pompa em 9 de maio.
O porta-voz do presidente russo Vladimir Putin disse que não podia comentar sobre o evento em São Petersburgo, dizendo que "não estava em nossa agenda". Mas um dos organizadores do evento foi o partido político russo Ródina (Pátria), que foi cofundado por Dmitri Rogozin, o vice-primeiro-ministro e um herdeiro da indústria de armas do país. Ele até mesmo esteve sentado ao lado de Putin durante uma recente reunião do comitê para os preparativos para o 9 de maio no Kremlin. Mas há mais.
Há não muito tempo, a emissora de televisão de oposição "Dozhd" perguntou aos seus telespectadores se não teria sido melhor deixar Leningrado ser tomada pelos nazistas durante a guerra, e assim salvar centenas de milhares de vidas. O Kremlin reagiu imediatamente, mostrando que a história da guerra de São Petersburgo está muito presente em sua "agenda". A emissora quase foi levada à falência.
Resumindo, está claro que o círculo de liderança de Putin não apenas tolerou o recente encontro da extrema direita europeia, como também o fez com grau significativo de benevolência.
Tendências nacionalistas
O incidente demonstra o grau de confusão política que está atualmente presente na Rússia. O jornal moscovita "Nezavisimaya Gazeta" escreveu que a elite política russa abandonou seus instintos fundamentais e não consegue mais avaliar de modo confiável o que é aceitável e o que não é.
A palavra "fascismo", por exemplo, é usada com tanta frequência pelo Kremlin atualmente que poucas pessoas no país ainda sabem o que significa. A "Junta" em Kiev é fascista, diz o Kremlin, assim como o que está ocorrendo na Europa no momento. No leste da Ucrânia, voluntários russos estão igualmente combatendo fascistas.
Nenhuma das pessoas de Putin parece perceber que as tendências nacionalistas liberadas na Rússia pela anexação da Península da Crimeia prepararam o terreno no país para uma forma perigosa de radicalismo. Mas deveria ser óbvio. Algumas dessas pessoas que estão lutando no leste da Ucrânia não se intimidaram em rotular Putin como traidor, por ter aceito um cessar-fogo ucraniano com o Ocidente durante as negociações em Minsk.
A Rússia se tornou uma fortaleza. "Somos nós contra o mundo", é o ponto de vista que se transformou em uma espécie de ideologia nacional. Rússia contra Estados Unidos é a forma russa de se diferenciar da cultura podre do Ocidente; se você não é patriota, você é um traidor. O pensamento na Rússia se tornou limitado por esses ultimatos.
A televisão russa propaga essa visão – popular antes da revolução, mas também durante os tempos soviéticos – de que o povo russo é o povo escolhido por Deus e que a Rússia é o mais brilhante farol da paz existente. A visão utópica de ser a melhor nação do mundo retornou.
É óbvio que aqueles que se isolam desse modo terão dificuldade em encontrar amigos no mundo – e têm pouca escolha a não ser se transformarem em nacionalistas, neonazistas e antissemitas.
Mas não se trata apenas de política. Ainda pior é o que essa dose diária de ódio e fúria faz às mentes da população. Em Moscou e São Petersburgo, ainda existem alguns poucos liberais. Mas em lugares mais distantes? Milhões de russos vivem em cidades e vilarejos carentes, em casas decrépitas sem água encanada e com apenas um fogão a lenha como aquecimento.
Mas até mesmo o casebre mais remoto possui uma antena parabólica, "como uma espécie de ouvido artificial", como já escreveu um jornalista do jornal "Moskovskij Komsomolets". "À noite, os moradores dessas cidades pobres e sujas sentam-se diante de seus televisores. Eles acompanham extasiados os moderadores, que lhes dizem que o mundo inteiro odeia os russos apenas por serem russos." Eles não percebem que estão se distanciando cada vez mais da realidade.
Medo da Rússia
O patriotismo que tomou conta do país dá até mesmo aos russos mais impotentes e oprimidos do interior a sensação de serem superiores àqueles que vivem em países muito mais prósperos e democráticos. Eles amam quando Putin envia bombardeiros de longo alcance ao Atlântico, quando ele encena outra "manobra não planejada" envolvendo dezenas de milhares de soldados, quando as pessoas ficam falando da nova "arma milagrosa" russa. E amam o fato de o Ocidente estar novamente com medo da Rússia.
O problema é que essa sensação de superioridade está cada vez mais casada com ódio. Ódio pelo próximo com uma opinião diferente. Ódio pela Ucrânia. Ódio pelo Ocidente. Esse ódio, somado com as mentiras mais despudoradas, é nutrido pela televisão russa.
"O povo russo sempre foi caracterizado pela gentileza, generosidade e solicitude", diz Andrei Zvyagintsev, diretor do filme "Leviatã", que trata das condições feudais em uma província russa e que foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. "Mas agora, complexos inumanos e demoníacos de vingança, autoafirmação e ódio estão sendo despertados dentro e sendo exibidos –características que estavam dormindo profundamente dentro de nós até um ou dois anos atrás."
Isso explicaria as reações de ódio diante do assassinato de Boris Nemtsov. O vice-reitor da universidade onde o filho de Nemtsov estuda disse sobre o assassinato: isso é o que acontece com "prostitutas". Agora, ele prosseguiu, "há um porco imundo a menos" no país.
O fato de o Parlamento nacional, a Duma, ter se recusado a fazer um minuto de silêncio pelo homem – que já foi vice-primeiro-ministro – não chega a causar surpresa. O sentimento que muitos russos têm de terem sido insultados pelo mundo se tornou uma espécie de mitologia nacional.
Mas essa obstinação intransigente está se infiltrando na psique russa há mais tempo do que Zvyagintsev acredita. Em Moscou, se ouve com frequência pessoas dizerem que a vida humana valia pouco durante os tempos soviéticos e que o país só conseguiu derrotar os nazistas porque Stálin doutrinou a população com a ideia de que a vitória valia qualquer sacrifício, independente de quão grande.
Isso, dizem as pessoas, ajuda a explicar por que as batalhas políticas também se tornaram tão impiedosas. A escritora Svetlana Alexievich fala de uma "síndrome de violência" da qual a Rússia não consegue escapar. Ela diz que o país esteve em guerra quase constantemente ao longo de sua história, um fato que produziu um tipo de pessoa com uma "incapacidade fundamental de viver uma vida civil pacífica". Em vez disso, ela prossegue, os russos veem tudo pelo prisma da vitória ou derrota.
Um estado de guerra permanente
Após o ataque a Boris Nemtsov na ponte que cruza o Rio Moscou, houve um breve momento em que vozes proeminentes tanto da esquerda quanto da direita pediram por um pouco de reflexão. "Nós temos que fazer uma pausa por um momento", disse Anatoli Chubais, o ex-líder da Administração Presidencial e agora presidente de uma empresa estatal, "as pessoas no poder, a oposição, os liberais, comunistas, nacionalistas, conservadores – todos. Nós temos que pensar por pelo menos um minuto sobre para onde estamos conduzindo a Rússia".
Até mesmo um dos incendiários nacionalistas mais conhecidos do país pediu pela reconciliação. Mas o momento passou rapidamente. E a televisão não deu muita atenção aos pedidos e continuou agindo como se o país estivesse em um estado permanente de guerra.
Esse é o solo no qual a atual filosofia política da Rússia está enraizada. O populista de direita Vladimir Zhirinovski formulou desta forma: o conflito na Ucrânia "nos forneceu uma oportunidade de voltarmos ao círculo das grandes potências. É essencial que a Rússia se torne novamente um império como era sob os czares ou durante os tempos soviéticos. Assim que conseguirmos isso, nós poderemos nos concentrar no desenvolvimento de nossa economia. Mas primeiro, temos que nos libertar do Ocidente".
Essa filosofia é absurda e reflete a mentalidade russa. O caminho para a força e atração não leva exatamente à direção oposta? O foco não deveria ser primeiro na prosperidade do próprio país em vez de buscar sonhos geopolíticos? A Rússia ganhou somas imensas com a exportação de matérias-primas – mas ainda não conseguiu construir uma estrada decente entre Moscou e São Petersburgo.
Nas cidades do interior do país, fábricas, hospitais e escolas estão fechando enquanto os homens estão seguindo para o leste da Ucrânia para lutar por um mundo russo imaginário. Eles recebem uma despedida celebrativa quando partem, com a bênção dos poderes constituídos. É uma situação grotesca.
O assassinato de Nemtsov e o encontro em São Petersburgo são uma indicação de que a mania de revanchismo político contagiou a elite política da Rússia. É uma mania que repercute entre todos os russos que estão desinteressados no estabelecimento de uma vida normal dentro das atuais fronteiras do país ou que são incapazes de fazê-lo, escreveu um jornalista do site gazeta.ru de Moscou. Isso, prosseguiu o jornalista, só pode terminar "em uma imensa catástrofe nacional".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
O evento em São Petersburgo contou com a presença de 150 membros de partidos de extrema direita, incluindo o extremista de direita NPD da Alemanha, para examinar as "tendências políticas conjuntas" que podem encontrar com a liderança russa.
Políticos que apreciam abertamente Adolf Hitler estavam entre eles. Russos mais liberais – ao menos aqueles que ainda prestam atenção em notícias desse tipo – ficaram estarrecidos. Afinal, o evento contou com neonazistas marchando por uma cidade em cujas ruas centenas de milhares de civis morreram de fome durante o cerco a Leningrado (como a metrópole era chamada na época) na Segunda Guerra Mundial.
Aquelas mortes ocorreram pelas mãos da Alemanha de Hitler, um evento horrível que transformou a cidade em um símbolo da resistência heroica contra os nazistas. Ainda pior é o fato de que o 70º aniversário da vitória da União Soviética sobre Hitler será celebrado com grande pompa em 9 de maio.
O porta-voz do presidente russo Vladimir Putin disse que não podia comentar sobre o evento em São Petersburgo, dizendo que "não estava em nossa agenda". Mas um dos organizadores do evento foi o partido político russo Ródina (Pátria), que foi cofundado por Dmitri Rogozin, o vice-primeiro-ministro e um herdeiro da indústria de armas do país. Ele até mesmo esteve sentado ao lado de Putin durante uma recente reunião do comitê para os preparativos para o 9 de maio no Kremlin. Mas há mais.
Há não muito tempo, a emissora de televisão de oposição "Dozhd" perguntou aos seus telespectadores se não teria sido melhor deixar Leningrado ser tomada pelos nazistas durante a guerra, e assim salvar centenas de milhares de vidas. O Kremlin reagiu imediatamente, mostrando que a história da guerra de São Petersburgo está muito presente em sua "agenda". A emissora quase foi levada à falência.
Resumindo, está claro que o círculo de liderança de Putin não apenas tolerou o recente encontro da extrema direita europeia, como também o fez com grau significativo de benevolência.
Tendências nacionalistas
O incidente demonstra o grau de confusão política que está atualmente presente na Rússia. O jornal moscovita "Nezavisimaya Gazeta" escreveu que a elite política russa abandonou seus instintos fundamentais e não consegue mais avaliar de modo confiável o que é aceitável e o que não é.
A palavra "fascismo", por exemplo, é usada com tanta frequência pelo Kremlin atualmente que poucas pessoas no país ainda sabem o que significa. A "Junta" em Kiev é fascista, diz o Kremlin, assim como o que está ocorrendo na Europa no momento. No leste da Ucrânia, voluntários russos estão igualmente combatendo fascistas.
Nenhuma das pessoas de Putin parece perceber que as tendências nacionalistas liberadas na Rússia pela anexação da Península da Crimeia prepararam o terreno no país para uma forma perigosa de radicalismo. Mas deveria ser óbvio. Algumas dessas pessoas que estão lutando no leste da Ucrânia não se intimidaram em rotular Putin como traidor, por ter aceito um cessar-fogo ucraniano com o Ocidente durante as negociações em Minsk.
A Rússia se tornou uma fortaleza. "Somos nós contra o mundo", é o ponto de vista que se transformou em uma espécie de ideologia nacional. Rússia contra Estados Unidos é a forma russa de se diferenciar da cultura podre do Ocidente; se você não é patriota, você é um traidor. O pensamento na Rússia se tornou limitado por esses ultimatos.
A televisão russa propaga essa visão – popular antes da revolução, mas também durante os tempos soviéticos – de que o povo russo é o povo escolhido por Deus e que a Rússia é o mais brilhante farol da paz existente. A visão utópica de ser a melhor nação do mundo retornou.
É óbvio que aqueles que se isolam desse modo terão dificuldade em encontrar amigos no mundo – e têm pouca escolha a não ser se transformarem em nacionalistas, neonazistas e antissemitas.
Mas não se trata apenas de política. Ainda pior é o que essa dose diária de ódio e fúria faz às mentes da população. Em Moscou e São Petersburgo, ainda existem alguns poucos liberais. Mas em lugares mais distantes? Milhões de russos vivem em cidades e vilarejos carentes, em casas decrépitas sem água encanada e com apenas um fogão a lenha como aquecimento.
Mas até mesmo o casebre mais remoto possui uma antena parabólica, "como uma espécie de ouvido artificial", como já escreveu um jornalista do jornal "Moskovskij Komsomolets". "À noite, os moradores dessas cidades pobres e sujas sentam-se diante de seus televisores. Eles acompanham extasiados os moderadores, que lhes dizem que o mundo inteiro odeia os russos apenas por serem russos." Eles não percebem que estão se distanciando cada vez mais da realidade.
Medo da Rússia
O patriotismo que tomou conta do país dá até mesmo aos russos mais impotentes e oprimidos do interior a sensação de serem superiores àqueles que vivem em países muito mais prósperos e democráticos. Eles amam quando Putin envia bombardeiros de longo alcance ao Atlântico, quando ele encena outra "manobra não planejada" envolvendo dezenas de milhares de soldados, quando as pessoas ficam falando da nova "arma milagrosa" russa. E amam o fato de o Ocidente estar novamente com medo da Rússia.
O problema é que essa sensação de superioridade está cada vez mais casada com ódio. Ódio pelo próximo com uma opinião diferente. Ódio pela Ucrânia. Ódio pelo Ocidente. Esse ódio, somado com as mentiras mais despudoradas, é nutrido pela televisão russa.
"O povo russo sempre foi caracterizado pela gentileza, generosidade e solicitude", diz Andrei Zvyagintsev, diretor do filme "Leviatã", que trata das condições feudais em uma província russa e que foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. "Mas agora, complexos inumanos e demoníacos de vingança, autoafirmação e ódio estão sendo despertados dentro e sendo exibidos –características que estavam dormindo profundamente dentro de nós até um ou dois anos atrás."
Isso explicaria as reações de ódio diante do assassinato de Boris Nemtsov. O vice-reitor da universidade onde o filho de Nemtsov estuda disse sobre o assassinato: isso é o que acontece com "prostitutas". Agora, ele prosseguiu, "há um porco imundo a menos" no país.
O fato de o Parlamento nacional, a Duma, ter se recusado a fazer um minuto de silêncio pelo homem – que já foi vice-primeiro-ministro – não chega a causar surpresa. O sentimento que muitos russos têm de terem sido insultados pelo mundo se tornou uma espécie de mitologia nacional.
Mas essa obstinação intransigente está se infiltrando na psique russa há mais tempo do que Zvyagintsev acredita. Em Moscou, se ouve com frequência pessoas dizerem que a vida humana valia pouco durante os tempos soviéticos e que o país só conseguiu derrotar os nazistas porque Stálin doutrinou a população com a ideia de que a vitória valia qualquer sacrifício, independente de quão grande.
Isso, dizem as pessoas, ajuda a explicar por que as batalhas políticas também se tornaram tão impiedosas. A escritora Svetlana Alexievich fala de uma "síndrome de violência" da qual a Rússia não consegue escapar. Ela diz que o país esteve em guerra quase constantemente ao longo de sua história, um fato que produziu um tipo de pessoa com uma "incapacidade fundamental de viver uma vida civil pacífica". Em vez disso, ela prossegue, os russos veem tudo pelo prisma da vitória ou derrota.
Um estado de guerra permanente
Após o ataque a Boris Nemtsov na ponte que cruza o Rio Moscou, houve um breve momento em que vozes proeminentes tanto da esquerda quanto da direita pediram por um pouco de reflexão. "Nós temos que fazer uma pausa por um momento", disse Anatoli Chubais, o ex-líder da Administração Presidencial e agora presidente de uma empresa estatal, "as pessoas no poder, a oposição, os liberais, comunistas, nacionalistas, conservadores – todos. Nós temos que pensar por pelo menos um minuto sobre para onde estamos conduzindo a Rússia".
Até mesmo um dos incendiários nacionalistas mais conhecidos do país pediu pela reconciliação. Mas o momento passou rapidamente. E a televisão não deu muita atenção aos pedidos e continuou agindo como se o país estivesse em um estado permanente de guerra.
Esse é o solo no qual a atual filosofia política da Rússia está enraizada. O populista de direita Vladimir Zhirinovski formulou desta forma: o conflito na Ucrânia "nos forneceu uma oportunidade de voltarmos ao círculo das grandes potências. É essencial que a Rússia se torne novamente um império como era sob os czares ou durante os tempos soviéticos. Assim que conseguirmos isso, nós poderemos nos concentrar no desenvolvimento de nossa economia. Mas primeiro, temos que nos libertar do Ocidente".
Essa filosofia é absurda e reflete a mentalidade russa. O caminho para a força e atração não leva exatamente à direção oposta? O foco não deveria ser primeiro na prosperidade do próprio país em vez de buscar sonhos geopolíticos? A Rússia ganhou somas imensas com a exportação de matérias-primas – mas ainda não conseguiu construir uma estrada decente entre Moscou e São Petersburgo.
Nas cidades do interior do país, fábricas, hospitais e escolas estão fechando enquanto os homens estão seguindo para o leste da Ucrânia para lutar por um mundo russo imaginário. Eles recebem uma despedida celebrativa quando partem, com a bênção dos poderes constituídos. É uma situação grotesca.
O assassinato de Nemtsov e o encontro em São Petersburgo são uma indicação de que a mania de revanchismo político contagiou a elite política da Rússia. É uma mania que repercute entre todos os russos que estão desinteressados no estabelecimento de uma vida normal dentro das atuais fronteiras do país ou que são incapazes de fazê-lo, escreveu um jornalista do site gazeta.ru de Moscou. Isso, prosseguiu o jornalista, só pode terminar "em uma imensa catástrofe nacional".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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