Pilar Bonet - El País
Alexander Zemlianichenko/AP
Dançarino salta sobre outros durante ensaio de peça no teatro Bolshoi, em Moscou, na Rússia
O ministro da Cultura da Rússia, Vladimir Medinski, destituiu nesta segunda-feira o diretor do Teatro Estatal de Ópera e Balé de Novossibirsk, Boris Mezdrich, por causa de uma versão da ópera "Tannhäuser", de Richard Wagner, que irritou a hierarquia da Igreja Ortodoxa e os setores mais conservadores dessa comunidade na capital da Sibéria Ocidental.
A ópera romântica, em versão de Timofei Kuliabin, estreou em dezembro passado no teatro pelo qual Mezdrich era responsável. Em 26 de janeiro, o metropolita (arcebispo) Tijon de Novossibirsk denunciou a encenação à promotoria local, por considerar que empregava símbolos religiosos de forma inadequada e ofendia os sentimentos dos fiéis. Um tribunal de primeira instância considerou que não havia objeto de delito e se negou a aceitar o caso, mas o líder religioso recorreu.
Em 2013, foi incorporado ao Código Penal russo um artigo que permite condenar a três anos de prisão os que ofenderem os sentimentos religiosos dos fiéis. Em um comunicado divulgado nesta segunda-feira, o Ministério da Cultura, do qual depende o Teatro Estatal de Ópera e Balé de Novossibirsk, afirma que sua intervenção foi necessária devido à "situação insana" que se criou na cidade.
Em sua versão de "Tannhäuser", Kuliabin moderniza o argumento original e em vez de um trovador o protagonista é um diretor de cinema que apresenta em um concurso um filme sobre um suposto período desconhecido da vida de Jesus Cristo, no qual este teria sido prisioneiro na gruta de Vênus e convivido com a deidade. Nos setores ortodoxos mais conservadores, causou especial mal-estar o cartaz da obra, onde se podia ver uma cruz por entre as pernas de uma figura feminina. O cartaz foi suprimido, mas Mezdrich se negou a retirar a obra e a desculpar-se, como exigia o ministro da Cultura.
Em sua nota explicativa, o ministério acusa Mezdrich de "falta de desejo de considerar em suas atividades os valores que se formaram na sociedade", de "não respeitar a opinião dos cidadãos" e de "não cumprir as recomendações dos patrocinadores".
O departamento de Medinski tentou fazer que o diretor "compreendesse que as atividades que permitia [eram] incorretas" e lhe deu uma "oportunidade de corrigir a situação". Entretanto, o agora ex-diretor, dizem, "não compreendeu que à margem de sua atitude em relação a uma religião, os sentimentos dos fiéis têm direito de ser respeitados".
"Quando [esses sentimentos] são submetidos a uma zombaria demonstrativa, provocam duros confrontos na sociedade que muitas vezes produzem vítimas humanas, como vimos há pouco", salienta o comunicado, em aparente alusão ao atentado contra o semanário satírico francês "Charlie Hebdo".
Um teatro acadêmico federal é, primeiro, "uma instituição educativa" e não "um estabelecimento para escandalizar, provocar e fazer propaganda por conta do Estado", salienta o comunicado.
Em declarações ao jornal "Izvestia", Mezdrich alegou que não podia se desculpar, como exigia o ministro, diante de pessoas que não haviam visto a obra. Ao saber de sua destituição, o diretor se disse satisfeito por não ter cedido às pressões e ter defendido a encenação de Kuliabin. Mezdrich, que recebeu numerosas demonstrações de solidariedade por parte de outros diretores de teatro da Rússia, agradeceu aos concidadãos que não tenham se dobrado diante de um "público agressivo que se escuda na ortodoxia e nos cânones eclesiásticos".
Resta ver se a hierarquia eclesiástica ortodoxa vai retirar a denúncia, tal como o ministério sua nota. Esse departamento também pediu aos dirigentes ortodoxos que compreendam que "o respeito à igreja não se alcança mediante denúncias aos órgãos de ordem pública, senão com a pregação paciente e reflexiva e a explicação de seu sistema de valores". As questões "criativas e artísticas não devem ser discutidas em reuniões de massas nem em julgamentos", apontam.
O vice-chefe da Administração Presidencial em Moscou, Magomedsalam Magomedov, disse que não se pode permitir o insulto aos sentimentos dos fiéis e acrescentou: "No futuro tentaremos que todos os teatros importantes ponham em cena obras dirigidas para unir nossa sociedade, e não dividi-la". Dmitri Peskov, secretário de Imprensa de Vladimir Putin, disse que o Estado tem o "direito a esperar que os coletivos teatrais apresentem encenações que não causem uma reação tão forte por parte da opinião pública".
Como novo diretor do teatro foi nomeado Vladimir Kejman, um dos maiores importadores de frutas da Rússia, que dividirá seu novo cargo com a direção do Teatro Mikhailov de São Petersburgo.
Neste fim de semana, os líderes ortodoxos de Novossibirsk pediram autorização para uma marcha de 3 mil pessoas; somente 1 mil participaram, segundo o serviço Taiga.info.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
A ópera romântica, em versão de Timofei Kuliabin, estreou em dezembro passado no teatro pelo qual Mezdrich era responsável. Em 26 de janeiro, o metropolita (arcebispo) Tijon de Novossibirsk denunciou a encenação à promotoria local, por considerar que empregava símbolos religiosos de forma inadequada e ofendia os sentimentos dos fiéis. Um tribunal de primeira instância considerou que não havia objeto de delito e se negou a aceitar o caso, mas o líder religioso recorreu.
Em 2013, foi incorporado ao Código Penal russo um artigo que permite condenar a três anos de prisão os que ofenderem os sentimentos religiosos dos fiéis. Em um comunicado divulgado nesta segunda-feira, o Ministério da Cultura, do qual depende o Teatro Estatal de Ópera e Balé de Novossibirsk, afirma que sua intervenção foi necessária devido à "situação insana" que se criou na cidade.
Em sua versão de "Tannhäuser", Kuliabin moderniza o argumento original e em vez de um trovador o protagonista é um diretor de cinema que apresenta em um concurso um filme sobre um suposto período desconhecido da vida de Jesus Cristo, no qual este teria sido prisioneiro na gruta de Vênus e convivido com a deidade. Nos setores ortodoxos mais conservadores, causou especial mal-estar o cartaz da obra, onde se podia ver uma cruz por entre as pernas de uma figura feminina. O cartaz foi suprimido, mas Mezdrich se negou a retirar a obra e a desculpar-se, como exigia o ministro da Cultura.
Em sua nota explicativa, o ministério acusa Mezdrich de "falta de desejo de considerar em suas atividades os valores que se formaram na sociedade", de "não respeitar a opinião dos cidadãos" e de "não cumprir as recomendações dos patrocinadores".
O departamento de Medinski tentou fazer que o diretor "compreendesse que as atividades que permitia [eram] incorretas" e lhe deu uma "oportunidade de corrigir a situação". Entretanto, o agora ex-diretor, dizem, "não compreendeu que à margem de sua atitude em relação a uma religião, os sentimentos dos fiéis têm direito de ser respeitados".
"Quando [esses sentimentos] são submetidos a uma zombaria demonstrativa, provocam duros confrontos na sociedade que muitas vezes produzem vítimas humanas, como vimos há pouco", salienta o comunicado, em aparente alusão ao atentado contra o semanário satírico francês "Charlie Hebdo".
Um teatro acadêmico federal é, primeiro, "uma instituição educativa" e não "um estabelecimento para escandalizar, provocar e fazer propaganda por conta do Estado", salienta o comunicado.
Em declarações ao jornal "Izvestia", Mezdrich alegou que não podia se desculpar, como exigia o ministro, diante de pessoas que não haviam visto a obra. Ao saber de sua destituição, o diretor se disse satisfeito por não ter cedido às pressões e ter defendido a encenação de Kuliabin. Mezdrich, que recebeu numerosas demonstrações de solidariedade por parte de outros diretores de teatro da Rússia, agradeceu aos concidadãos que não tenham se dobrado diante de um "público agressivo que se escuda na ortodoxia e nos cânones eclesiásticos".
Resta ver se a hierarquia eclesiástica ortodoxa vai retirar a denúncia, tal como o ministério sua nota. Esse departamento também pediu aos dirigentes ortodoxos que compreendam que "o respeito à igreja não se alcança mediante denúncias aos órgãos de ordem pública, senão com a pregação paciente e reflexiva e a explicação de seu sistema de valores". As questões "criativas e artísticas não devem ser discutidas em reuniões de massas nem em julgamentos", apontam.
O vice-chefe da Administração Presidencial em Moscou, Magomedsalam Magomedov, disse que não se pode permitir o insulto aos sentimentos dos fiéis e acrescentou: "No futuro tentaremos que todos os teatros importantes ponham em cena obras dirigidas para unir nossa sociedade, e não dividi-la". Dmitri Peskov, secretário de Imprensa de Vladimir Putin, disse que o Estado tem o "direito a esperar que os coletivos teatrais apresentem encenações que não causem uma reação tão forte por parte da opinião pública".
Como novo diretor do teatro foi nomeado Vladimir Kejman, um dos maiores importadores de frutas da Rússia, que dividirá seu novo cargo com a direção do Teatro Mikhailov de São Petersburgo.
Neste fim de semana, os líderes ortodoxos de Novossibirsk pediram autorização para uma marcha de 3 mil pessoas; somente 1 mil participaram, segundo o serviço Taiga.info.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Nenhum comentário:
Postar um comentário