Richard Branson - NYT
Lenny Ignelzi/AP
Seus agressores se aproximaram. Armados com facões e machados, eles impiedosamente fizeram a vítima indefesa em pedaços, levando o que consideravam suas partes mais preciosas. Por horas, seus dois filhos permaneceram sentados ao lado de sua mãe morta e desfigurada, caída em sua poça de sangue seco, esperando que ela se mexesse.
Esse tipo de violência, movida pela ganância, não é rara em algumas partes do mundo. As vítimas neste caso não são seres humanos, mas a população de rinocerontes-brancos-do-sul da África. Os chifres desses animais majestosos são altamente procurados em muitos países, incluindo a China e o Vietnã, onde muitas pessoas os consideram presentes de luxo ou remédios naturais, apesar de pesquisa ter provado repetidas vezes que chifre de rinoceronte não tem nenhuma qualidade medicinal.
Os matadores de rinocerontes costumam ser membros de grupos paramilitares altamente treinados que contam com armamentos avançados. Essas gangues dispõem de mais recursos do que as polícias e guardas florestais locais, além de suas armas serem infinitamente superiores. Como resultado, a frequência de ataques aos rinocerontes aumentou dramaticamente nos últimos anos, para mais de 1.200 em 2014 apenas na África do Sul.
O comércio ilícito de animais selvagens é uma indústria global que movimenta bilhões de dólares a cada ano. Espécies ameaçadas estão cada vez mais próximas da extinção ao serem visadas para uso como alimento ou animais de estimação, para produção de ornamentos, móveis, couros, medicamentos ou cosméticos. Esse comércio representa uma enorme ameaça à biodiversidade de nosso planeta.
A magnitude do problema pode ser vista no declínio do número de rinocerontes. Em 2007, as autoridades na África do Sul relataram que apenas 13 rinocerontes-brancos-do-sul foram mortos, um número que levou a uma esperança cautelosa de que o problema estava sendo contido. Mas as coisas pioraram rapidamente, à medida que a demanda por chifre de rinoceronte começou a crescer entre os consumidores cada vez mais ricos da Ásia. Em alguns países, um quilo de chifre de rinoceronte vale mais que seu peso em ouro. Em 2012, o número de rinocerontes mortos na África do Sul subiu para quase 670, e então dobrou de novo dos dois anos seguintes.
A proteção e monitoramento dos parques nacionais da África é apenas uma pequena parte do problema, já que a caça ilegal e o tráfico são problemas que cruzam fronteiras. O comércio lucrativo atrai grupos do crime organizado que formam as gangues de caça ilegal. Apesar dos principais traficantes serem conhecidos, eles operam com impunidade, protegidos por autoridades corruptas que se beneficiam do status quo.
Há um efeito cascata: a caça de algumas das espécies mais incríveis do planeta até a extinção não ameaça apenas a biodiversidade; ao permanecer sem controle, ela pode enfraquecer o estado de direito, desestabilizar as comunidades e países inteiros. Trata-se de uma crise que exige uma solução internacional multilateral.
Algumas abordagens tecnológicas são promissoras. Novos sistemas de software como a Spatial Monitoring e Reporting Tool pode ajudar a tornar o patrulhamento da vida selvagem mais eficaz. Melhor vigilância aérea, incluindo o uso de drones, também pode fazer a diferença. Mas é impossível separar oferta e demanda. Nós precisamos de uma estratégia global que abranja toda a cadeia de valor –uma que resguarde as áreas de vida selvagem protegidas, monitore os aeroportos e portos para o comércio, e impeça a demanda do consumidor.
O problema pode ser resolvido por meio da colaboração entre estes três grupos: as organizações de conservação, que entendem a dinâmica social e econômica do comércio de vida selvagem melhor do que todos; os governos nacionais, que podem implantar planos de ação e ajudar a aplicar uma regulação internacional eficaz; e o setor privado, que pode promover mudanças por meio de inovação e investimento, assim como encorajando práticas responsáveis. Isso apenas ocorrerá com pressão por parte do público informado, que deve ser mobilizado por meio das plataformas locais de redes sociais e outros canais.
Nós sabemos o que é preciso para acabar com a caça ilegal. O que precisamos fazer agora é reunir a vontade coletiva para agir. Nós podemos –e devemos– fazer melhor.
3 formas de resolver problemas insolúveis
1. Explorar novas soluções tecnológicas: às vezes pequenas inovações podem lhe dar uma vantagem –mantenha-se atento aos desenvolvimentos nos campos relacionados.
2. Fale com seu representante político local: assegure que esteja ciente dos obstáculos que seu setor enfrenta e veja se as autoridades locais estão empoderadas para ajudar.
3. Crowdsourcing: considere o uso das plataformas de redes sociais para ver o problema sob novos ângulos e alistar outros para oferecer ideias ou ajuda.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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