sexta-feira, 24 de abril de 2015

Vivendo acima e abaixo do nível da água em Amsterdã
Christopher F. Schuetze - TINYT
Peter Dejong/AP
23.abr.2015 - Holandeses têm uma relação especial com os rios de Amsterdã 23.abr.2015 - Holandeses têm uma relação especial com os rios de Amsterdã
Quando perguntado sobre sua casa flutuante de três andares em uma nova parte cintilante de Amsterdã, Kees Harschel, um amsterdamês de 65 anos, gosta de comparar sua situação a ganhar na loteria.
"Esta casa é na medida para nós, como uma segunda pele", disse Harschel, um professor aposentado de educação física, sentando em sua sala de jantar no térreo – ou neste caso, no nível da água – da casa que ele compartilha com sua esposa, Monique Spierenburg, desde que o casal a construiu sete anos atrás.
No caso de Harschel, a comparação com o jogo é mais do que apenas orgulho de ser proprietário: para se tornar parte da comunidade de 36 casas flutuantes em um lago artificial em Steigereiland, uma das várias ilhas artificiais que formam o novo bairro crescente de IJburg, Harschel competiu com mais de 400 candidatos.
"Minha esposa disse: vá em frente, aposte – você não tem nada a perder, então tente", disse Harschel, que vivia em uma casa no rio Amstel antes de se mudar para IJburg. Mas ganhar uma vaga na pequena comunidade – como o casal conseguiu em 2007 – foi apenas o primeiro passo em uma jornada que incluiu a contratação de um arquiteto renomado e travar as batalhas burocráticas que envolvem ser um pioneiro de construções na Europa.
O resultado é uma expressão tanto do amor do casal pela água e por um modo de vida inovador pelo qual os holandeses – conhecidos por séculos por suas casas ornamentadas – estão ganhando reputação internacional.
IJburg, atualmente lar de cerca de 20 mil habitantes, deverá futuramente abrigar 45 mil. Ele vem crescendo ao longo da última década em uma sucessão de ilhas artificiais ao sudeste do centro da cidade, concebido para aliviar uma escassez crônica de imóveis residenciais. A área atrai muitas famílias jovens e profissionais que, com uma linha de bonde recém construída, podem chegar ao centro de Amsterdã em 10 minutos.
A cidade se preocupou em criar uma comunidade mista, com mansões, casas populares e apartamentos com preço de mercado e aluguel fixo, todos compartilhando pátios, praças públicas, parques, shopping centers e canais.
E enquanto as 36 casas na parte do bairro de Harschel e Spierenburg são todas projetadas e construídas individualmente, as do outro lado do lago foram construídas por uma única construtora. Algumas são alugadas e algumas são de propriedade de seus moradores.
A casa do casal, que tem nove metros de altura, se ergue apenas sete metros e meio acima da água (o 1,5 metro submerso faz parte de um piso plenamente funcional), com sete metros de largura e 10 metros de comprimento. (A largura da casa é determinada pelo tamanho do dique que conecta IJmeer ao pequeno lago que se tornaria o lar deles.) Ao todo, o projeto tem 175 metros quadrados de área total, mais um terraço de 35 metros quadrados.
O interior é a essência da simplicidade holandesa. O piso principal conta com a cozinha e a sala de jantar, onde o casal realiza grande parte de suas atividades sociais. Vastas janelas asseguram que o interior seja banhado por luz refletida difusa e oferece vistas de IJmeer e do restante do bairro flutuante.
O piso superior é dividido entre a sala de estar e um pátio ao ar livre. Quando as portas são abertas no verão, o espaço se torna um só, lembrando arquitetura de climas mais quentes.
Projetado para atender ao casal, o porão inclui dois quartos, um banheiro master, uma sauna de infravermelho, uma sala de leitura e, segundo Harschel, um dos cômodos mais importantes da casa: uma oficina de carpintaria e reparos de 2,5 metros quadrados.
Apesar da casa parecer normal, ela na verdade flutua sobre sua fundação de concreto. (Eletricidade, água e outros serviços são fornecidos por uma doca fixa, que também serve como acesso à terra, instalada e mantida pela prefeitura.) Janelas na altura dos olhos no porão proporcionam vistas pouco acima da superfície.
Sua construção incomum permitiu que a casa fosse construída a quilômetros de distância de onde agora flutua, e se o código de construção de Amsterdã não proibir, seus proprietários poderão simplesmente levá-la quando se mudarem.
"Eu sou um marinheiro", disse Harschel, que pilota botes do canal frequentemente usados para passeios privados em Amsterdã. Seu Thalamus Working Boat de sete metros está ancorado ao lado da sala de estar.
"Nas noites de verão, nós podemos tomar cerveja, vinho e jantar no lago", disse Harschel, que no verão passado velejou até o sul da Inglaterra, tendo sua casa como ponto de partida e chegada.
Na rara ocasião em que o lago congela, Spierenburg coloca seus patins e sai no gelo sem precisar deixar sua casa para ir a um rinque.
"É mais um portal para a liberdade do que apenas um lugar para morar", disse Koen Olthuis, que projetou a casa e cujo escritório de arquitetura, Waterstudio, é especializado em projetar construções flutuantes em todo o mundo. "Patinar ao redor da casa, nadar ao redor da sua casa – é maravilhoso."
Tanto o proprietário quanto o arquiteto reconhecem que ser uma das primeiras casas no píer teve seu custo.
"Elas pagaram um bocado pelas coisas que aprendemos", disse Olthuis, explicando que as famílias pioneiras pagaram – em dinheiro, tempo e frustração – pelo que a cidade está aprendendo sobre planejamento urbano na água.
"Foi um livro dessa espessura, mas estamos livres", brincou Harschel, folheando um volume de código de edificações imaginário.
Olthuis notou que a casa foi construída seguindo um código para casas terrestres, que, visando cumprir a ordem de construir casas mais verdes na Holanda, estipula janelas de vidro triplo, isolamento pesado e até mesmo um permutador de calor para reter o calor –algo que a maioria das casas flutuantes, que tendem a ser casas leves em uma fundação pesada, evitam.
Harschel estima que o casal gastou 350 mil euros para construir a casa (o aluguel do terreno é de 600 euros por mês) e calcula que o valor do imóvel provavelmente mais que dobrou nos anos desde que foi construído.
"Essas pessoas que estão morando aqui são pioneiras; elas estão dispostas a correr um risco, dispostas a tentar algo diferente", disse Olthuis. "Todas elas têm um senso forte de liberdade. É o motivo para terem vindo para cá."
Tradutor: George El Khouri Andolfato 

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