sexta-feira, 1 de maio de 2015

A difícil volta de empresários ao mundo dos assalariados
Catherine Quignon - Le Monde
Se os assalariados que deixam seus empregos para se aventurarem como empresários aparecem muito na mídia, isso raramente acontece com aqueles que trilham o caminho inverso. Nem sempre a volta ao mundo dos assalariados é algo fácil para os ex-empreendedores, pois empregadores costumam ter um olhar desconfiado para essas figuras independentes, com fama de serem difíceis de administrar.
Romain Lhez passou por isso. O jovem criou, em 2009 --junto com um amigo--, uma start-up de internet e conheceu as dores e as delícias de ser um empresário. "Ao final de dois anos, decidi voltar a ter um emprego assalariado para voltar a ter mais estabilidade do ponto de vista financeiro e pessoal", ele explica. Lhez se lançou então na busca por um trabalho como gerente de produtos web e, apesar de sua experiência nesse domínio, ele teve de enfrentar a desconfiança dos empregadores: "O fato de ter sido empresário assusta a grande maioria dos recrutadores", ele acredita. "Eles têm medo de que a pessoa se canse logo e só fique pouco tempo".
É difícil saber qual o índice de empreendedores que voltam a procurar um emprego assalariado. Considerando o número de falências de empresas na França --mais de 60 mil a cada ano--, Lhez não é um caso isolado. A associação "60.000 Rebonds", que acompanha os empreendedores em dificuldades, acredita que, dos 150 membros acompanhados a cada ano, de 30% a 40% deles voltam a uma atividade assalariada.
São muitos os que se lançam no empreendedorismo por quererem mais liberdade. Uma vez que se deparam com a precariedade, as rendas irregulares e as folgas inexistentes, parte deles se sente tentada a voltar a um emprego assalariado. "Muitos ex-empresários querem voltar a ter uma separação entre trabalho e vida pessoal, ou ainda buscam escapar de uma gestão administrativa muito pesada", afirma Thierry Andrieux, fundador da consultoria Humanessence. Sem contar aqueles muitos que vão parar no vermelho.

Temor

Mas esses perfis "iconoclastas" nem sempre são bem vistos pelos empregadores, que veem neles candidatos compelidos pelo fracasso de suas empresas. "Os recrutadores temem que um empreendedor fique frustrado como assalariado", ressalta Andrieux. "Eles têm dúvidas se esse candidato aguentará se submeter à gerência de outra pessoa." Mas há nuances de acordo com os perfis: "Existe uma diferença entre um jovem executivo de 35 anos que acaba de criar sua empresa e um mais velho que por muito tempo tenha sido seu próprio chefe e se afastado do mercado de trabalho", afirma Emmanuel Stanislas, da consultoria de recrutamento Clémentine.
No entanto, candidatos como esses possuem muitas qualidades úteis às empresas. "Esse perfil representa um verdadeiro poder de ideias e de decisões", enfatiza Andrieux. "Ele é operacional e tem uma real capacidade de trabalho". E o fundador da consultoria "Humanessence" acaba com o mito do empresário inadministrável: "Um patrão também tem chefes que são seus clientes, o banco, acionistas... ele nunca decide sozinho", ele ressalta.

Contatos

Mas, às vezes, os temores dos recrutadores são justificados: a vontade de independência de ex-jovens talentos pode prevalecer. Após o fracasso de sua start-up, Delphine Pinon conseguiu arrumar um cargo de consultora empresarial na CCI (Câmara de Comércio e de Indústria) de Paris. Como ela nunca havia sido assalariada até então, Pinon experimentou pela primeira vez horários regulares e férias pagas.
"Esse emprego primeiro me trouxe segurança de renda, bem como uma certa paz de espírito", ela explica. "As coisas não dependiam mais só de mim". Essas vantagens não a impediram de deixar seu cargo ao final de somente seis meses para entrar... em uma start-up, a 1001menus. "Eu estava tranquila na CCI, mas nunca me senti realizada", ela confessa. "Eu estava em um cargo sem autonomia, totalmente chefiada e sem nenhuma responsabilidade. Para mim, era um emprego de transição."
Será que para um ex-empreendedor, o empregador ideal seria um outro empreendedor? "É preciso mirar na empresa com o tamanho certo, que pode ter interesse em um perfil polivalente", acredita Andrieux. As empresas em crescimento podem enxergar no candidato o potencial de um futuro associado e lhe dar sua chance em postos de responsabilidade, onde se desenvolverão suas qualidades de iniciativa e de autonomia. Além disso, o empreendedor em busca de um emprego tem interesse em usar seus bons contatos. "Seu principal trunfo são seus clientes, sua rede pessoal", afirma Andrieux.
Lhez confirma: os perfis de empreendedores são mais bem vistos nas empresas que mantiveram o espírito "start-up" do início do que grandes empresas: "Primeiro me candidatei em empresas tradicionais, depois percebi que as marcas interessadas em meu perfil eram aquelas onde o fundador e a equipe diretora inicial ainda estavam no cargo". Essa estratégia valeu a pena. Após alguns meses procurando, o jovem encontrou um cargo de gerente de produtos em uma empresa de pequeno/médio porte.

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