quinta-feira, 28 de maio de 2015

Aquários se unem contra caça a golfinhos no Japão
Aumentam críticas contra a tradicional captura anual de globicéfalos em Taiji
Philippe Mesmer - Le Monde
Ameaçados de exclusão pela Associação Internacional dos Zoológicos e Aquários (Waza), os aquários japoneses decidiram, no dia 21 de maio, não comprar mais golfinhos capturados em Taiji, pequeno porto de pesca do departamento de Wakayama, no centro do Japão. De tradição baleeira desde o século 17, Taiji todo ano é palco de uma grande e controversa campanha de caça aos golfinhos, na qual os pescadores os atraem para uma baía isolada antes de matá-los ou capturá-los.
Essa prática foi o tema de um documentário com imagens chocantes feitas em sua maioria sem o conhecimento dos habitantes de Taiji, "The Cove", premiado com um Oscar em 2010. A pequena cidade, cujos efetivos de polícia foram reforçados para evitar confrontos entre ativistas e pescadores, costuma ser criticada por causa dessa caça.
A embaixadora dos Estados Unidos no Japão, Caroline Kennedy, se dizia, em janeiro, "profundamente preocupada com a desumanidade da pesca de golfinhos por encurralamento", lembrando que Washington se opõe a essa prática.
Essas considerações levaram a Waza a ameaçar de expulsão seu braço japonês, a Associação Japonesa dos Zoológicos e Aquários (Jaza), em abril. Tal medida poderia ter consequências graves para os 89 zoológicos e 63 aquários membros da Jaza, e teria de fato complicado a obtenção de espécies raras no exterior.

Sérias consequências

A Waza fez essa ameaça pois ela mesma foi alvo de uma queixa de organizações de proteção de mamíferos marinhos que a criticam por tolerar a compra de golfinhos de Taiji, por parte de seus membros. De fato, a Waza aceitava a caça realizada em Taiji, com o argumento de que se tratava de uma tradição secular. Já os ativistas acreditam que a primeira caça em grande escala ocorreu só em 1969.
Para Taiji, a decisão tomada poderá ter sérias consequências. Desde que foi proibida a caça à baleia em 1986, a economia da pequena cidade de 3.400 habitantes tem dependido essencialmente da caça aos golfinhos.
Segundo a agência de pesca, 1.230 golfinhos --ou seja, menos que a cota estabelecida pelo governo-- foram pegos em 2013. A maior parte foi morta, exceto pelos 172 que foram capturados vivos para serem vendidos para aquários, tanto no Japão quanto em outros países, entre eles a China, onde a demanda vem aumentando.
Um golfinho vivo é negociado por no mínimo US$ 8.200 (quase R$ 26 mil), ou seja, dez vezes mais que os que são mortos para serem consumidos.
As reações à decisão da Jaza foram exaltadas no Japão. O govenador de Wakayama, Yoshinobu Nisaka, lamentou que estivessem sofrendo uma "espécie de perseguição do mundo inteiro". O porta-voz do governo, Yoshihide Suga, defendeu um "método de pesca sustentável, feita sob controle governamental e baseada em argumentos científicos". Para Suga, a caça é conduzida "com cuidado para não fazer os golfinhos sofrerem".
O prefeito de Taiji, Kazutaka Sangen, anunciou que a prefeitura pretendia criar uma zona de criação de golfinhos. Mas ele descartou abrir mão da caça. "O governo e o departamento reconhecem essa atividade", ele declarou. "Não há absolutamente nenhum mal nela."
A polêmica ocorre neste momento em que o Japão se encontra em negociação com a Comissão Baleeira Internacional (CBI) para retomar as operações de caça à baleia na Antártida, interrompidas em 2014 depois que o Tribunal Internacional de Justiça decidiu que ele disfarçava uma atividade comercial como programa de pesquisas.

Nenhum comentário: