Jack Healy - NYT
Andy Cruz/The Denver Post/AP
Em imagem de arquivo, James Holmes (à esquerda), acusado de atirar em várias pessoas dentro de um cinema em Aurora, Colorado (EUA), em 2012
O caderno espiral marrom que James E. Holmes enviou para seu psiquiatra pouco antes de abrir fogo em uma sessão de cinema lotada é uma das provas mais importantes, e muito bem guardada, em seu julgamento. Ele foi mantido sob sigilo, e as fantasias homicidas e os escritos ao acaso em seu interior foram protegidos da visão do público. Na terça-feira (26), os promotores incluíram o caderno como prova no julgamento e distribuíram cópias na sala do tribunal, dando aos jurados um dos vislumbres mais sombrios e diretos da mente de Holmes, ex-estudante de neurociência que matou 12 pessoas e feriu 70 outras naquela sala de cinema de Aurora, Colorado (EUA), em julho de 2012.
"Qual é o sentido da vida?", escreveu. "Qual é o significado da morte?"
As páginas do caderno dão um prisma do estado mental de Holmes, e cada lado no caso tenta levar os jurados na direção de trechos que marcam a forma como entendem sua mente. Os promotores enfatizam páginas nas quais o acusado refletia sobre a maneira mais cruel para matar pessoas e pensava qual cinema atacar. Os advogados de defesa, que não contestam que ele é o assassino, mas argumentam que ele não é culpado por razões de insanidade, destacam páginas com símbolos rúnicos, equações sem sentido sobre a vida e a morte, o infinito e o "infinito negativo", e páginas cobertas com a indagação "por quê?"
Em uma passagem, ele debate se deveria atacar um aeroporto, mas decide que não, dizendo que a segurança seria muito estrita e que suas ações poderiam ser interpretadas como terrorismo.
"A mensagem não é o terrorismo", escreveu ele. "A mensagem é que não há mensagem."
Os promotores, que estão pedindo pena de morte, chamam Holmes de assassino meticuloso e calculista, que fez um ataque para reforçar sua autoestima depois de largar seu curso de pós-graduação e de sua namorada terminar com ele. Os advogados de defesa dizem que ele sofre de esquizofrenia e estava no meio de um episódio psicótico na noite do tiroteio.
"O caderno será extremamente importante para ambos os lados", escreveu em um e-mail David M. Beller, presidente do Colorado Criminal Defense Bar. "Tanto a acusação quanto a defesa vão usar muito tempo isolando determinadas palavras e frases que dão base às suas próprias posições. A acusação destaca o planejamento complexo e detalhado, enquanto a defesa se concentra nas divagações incoerentes de um homem doente."
Diferentemente de muitos Estados, o Colorado coloca o ônus sobre os promotores de provarem, além de qualquer dúvida razoável, que Holmes não estava louco no momento dos assassinatos. Diversos especialistas em saúde mental que examinaram o réu e seus escritos devem testemunhar ao longo do julgamento.
Em última análise, os jurados terão de decidir se Holmes estava tão perturbado mentalmente que não podia distinguir entre o certo e o errado na hora do tiroteio. O caderno pode fornecer um caminho para essa decisão.
"Raramente existe um caso como este, em que o réu oferece ao júri um diário do que aconteceu em sua cabeça antes do crime por meses, semanas e dias", disse Beller.
O caderno foi descoberto no dia 23 de julho de 2012, nos frenéticos primeiros dias após o tiroteio. Ele foi encontrado em um envelope lacrado, numa sala de correspondência no campus da Universidade do Colorado, onde Holmes tinha cursado a pós-graduação, endereçado à Dra. Lynne Fenton, psiquiatra que o atendia na escola. Como Holmes tinha montado armadilhas com explosivos em seu apartamento, um esquadrão antibombas foi chamado para se certificar de que o pacote não seria outro artefato explosivo.
O envelope para Fenton tinha 16 selos Forever, homenageando vários cientistas --entre eles, um botânico notável, um bioquímico, um químico e um físico--, em um aceno aos interesses de Holmes. O pacote tinha notas de US$ 20 queimadas, no valor de US$ 400, e um adesivo com o símbolo do infinito semelhante ao de um calendário em seu apartamento marcando a data do tiroteio.
O sargento Matthew Fyles, da polícia de Aurora, prestou depoimento sobre o caderno, sua embalagem e conteúdo na terça-feira (26), apresentando-o para os jurados. O nome na capa: James Holmes. Curso acadêmico: "Sobre a vida".
Guiado pelas perguntas de Karen Pearson, procuradora-chefe adjunta do distrito, Fyles descreveu desenhos e leu passagens em que Holmes fala sobre sua "obsessão em matar". Holmes debatia se deveria explodir uma bomba, fazer um ataque biológico ou assassinatos em série em um parque nacional, mas rejeitou essas ideias em favor de um ataque a um cinema.
Ele então discute qual sala no complexo de cinemas Century 16 deveria ser seu alvo e o momento oportuno para atacar. Ele escreve uma lista de coisas a fazer, dizendo a si mesmo para comprar uma arma de choque, uma faca dobrável e uma armadura, pesquisar doença mental e praticar tiro longe de sua casa em Aurora.
"As reviravoltas do destino são cruéis com os menos afortunados", escreve ele em um ponto.
Mas ele também parece ter escrito sobre sua luta com a doença mental. Um título refere-se à "mente de loucura", e em outra passagem ele descreve flashes e sombras em sua visão periférica e fala sobre breves sentimentos de invencibilidade seguidos de momentos catatônicos. Ele escreve que "lutou e lutou", mas que, no final, "abraçou o ódio".
"Essa é a minha mente", escreveu. "Está quebrada. Tentei consertá-la."
Tradução: Deborah Weinberg
As páginas do caderno dão um prisma do estado mental de Holmes, e cada lado no caso tenta levar os jurados na direção de trechos que marcam a forma como entendem sua mente. Os promotores enfatizam páginas nas quais o acusado refletia sobre a maneira mais cruel para matar pessoas e pensava qual cinema atacar. Os advogados de defesa, que não contestam que ele é o assassino, mas argumentam que ele não é culpado por razões de insanidade, destacam páginas com símbolos rúnicos, equações sem sentido sobre a vida e a morte, o infinito e o "infinito negativo", e páginas cobertas com a indagação "por quê?"
Em uma passagem, ele debate se deveria atacar um aeroporto, mas decide que não, dizendo que a segurança seria muito estrita e que suas ações poderiam ser interpretadas como terrorismo.
"A mensagem não é o terrorismo", escreveu ele. "A mensagem é que não há mensagem."
Os promotores, que estão pedindo pena de morte, chamam Holmes de assassino meticuloso e calculista, que fez um ataque para reforçar sua autoestima depois de largar seu curso de pós-graduação e de sua namorada terminar com ele. Os advogados de defesa dizem que ele sofre de esquizofrenia e estava no meio de um episódio psicótico na noite do tiroteio.
"O caderno será extremamente importante para ambos os lados", escreveu em um e-mail David M. Beller, presidente do Colorado Criminal Defense Bar. "Tanto a acusação quanto a defesa vão usar muito tempo isolando determinadas palavras e frases que dão base às suas próprias posições. A acusação destaca o planejamento complexo e detalhado, enquanto a defesa se concentra nas divagações incoerentes de um homem doente."
Diferentemente de muitos Estados, o Colorado coloca o ônus sobre os promotores de provarem, além de qualquer dúvida razoável, que Holmes não estava louco no momento dos assassinatos. Diversos especialistas em saúde mental que examinaram o réu e seus escritos devem testemunhar ao longo do julgamento.
Em última análise, os jurados terão de decidir se Holmes estava tão perturbado mentalmente que não podia distinguir entre o certo e o errado na hora do tiroteio. O caderno pode fornecer um caminho para essa decisão.
"Raramente existe um caso como este, em que o réu oferece ao júri um diário do que aconteceu em sua cabeça antes do crime por meses, semanas e dias", disse Beller.
O caderno foi descoberto no dia 23 de julho de 2012, nos frenéticos primeiros dias após o tiroteio. Ele foi encontrado em um envelope lacrado, numa sala de correspondência no campus da Universidade do Colorado, onde Holmes tinha cursado a pós-graduação, endereçado à Dra. Lynne Fenton, psiquiatra que o atendia na escola. Como Holmes tinha montado armadilhas com explosivos em seu apartamento, um esquadrão antibombas foi chamado para se certificar de que o pacote não seria outro artefato explosivo.
O envelope para Fenton tinha 16 selos Forever, homenageando vários cientistas --entre eles, um botânico notável, um bioquímico, um químico e um físico--, em um aceno aos interesses de Holmes. O pacote tinha notas de US$ 20 queimadas, no valor de US$ 400, e um adesivo com o símbolo do infinito semelhante ao de um calendário em seu apartamento marcando a data do tiroteio.
O sargento Matthew Fyles, da polícia de Aurora, prestou depoimento sobre o caderno, sua embalagem e conteúdo na terça-feira (26), apresentando-o para os jurados. O nome na capa: James Holmes. Curso acadêmico: "Sobre a vida".
Guiado pelas perguntas de Karen Pearson, procuradora-chefe adjunta do distrito, Fyles descreveu desenhos e leu passagens em que Holmes fala sobre sua "obsessão em matar". Holmes debatia se deveria explodir uma bomba, fazer um ataque biológico ou assassinatos em série em um parque nacional, mas rejeitou essas ideias em favor de um ataque a um cinema.
Ele então discute qual sala no complexo de cinemas Century 16 deveria ser seu alvo e o momento oportuno para atacar. Ele escreve uma lista de coisas a fazer, dizendo a si mesmo para comprar uma arma de choque, uma faca dobrável e uma armadura, pesquisar doença mental e praticar tiro longe de sua casa em Aurora.
"As reviravoltas do destino são cruéis com os menos afortunados", escreve ele em um ponto.
Mas ele também parece ter escrito sobre sua luta com a doença mental. Um título refere-se à "mente de loucura", e em outra passagem ele descreve flashes e sombras em sua visão periférica e fala sobre breves sentimentos de invencibilidade seguidos de momentos catatônicos. Ele escreve que "lutou e lutou", mas que, no final, "abraçou o ódio".
"Essa é a minha mente", escreveu. "Está quebrada. Tentei consertá-la."
Tradução: Deborah Weinberg
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