Gérard Courtois - Le Monde
Enrique de la Osa/Reuters
No futuro será contado como anedota que a campanha presidencial de 2017
começou no dia 19 de maio de 2015 em Carcassonne. Nesse dia, em frente a
um público de parlamentares locais, François Hollande não se contentou
em saudar, como convém, os valores do departamento de Aude, que são
"tenacidade, honestidade, resistência, fidelidade". Ele os tomou para si
para pronunciar um discurso interminável, "falar sobre o caminho
percorrido há três anos e o que resta a cumprir", e firmar as bases do
combate que ele obviamente está impaciente para conduzir contra a
direita e a extrema direita.
O presidente da UMP não teve dúvidas. Já no dia seguinte, Nicolas
Sarkozy denunciou "a mistura de papéis de um presidente que está em sua
segunda viagem do tipo – após a recente viagem de Hollande às Antilhas -
, na qual não se sabe se é o presidente da República ou o candidato à
futura eleição presidencial que está falando". Sem esperar o congresso
fundador de seu novo partido, Os Republicanos, no dia 30 de maio em
Paris, ele repetiu mais uma vez sua acusação contra os três anos de
"enganações", de "fracassos", de "reformas inúteis", de "desprezo" e de
"sectarismo", que a seu ver resume o mandato de seu sucessor.A vivacidade de sua reação demonstra, como se necessário fosse, como Sarkozy está levando a sério a entrada – mais que implícita - do chefe de Estado na campanha presidencial. É compreensível. Até pouco tempo atrás, François Hollande parecia sem salvação. A rejeição dos franceses ao presidente da República era abissal. A economia estava estagnada havia três anos, e o desemprego a cada mês batia assustadores recordes. Ameaçado de perder sua maioria parlamentar, o governo foi obrigado a recorrer ao artigo 49-3 da Constituição para conseguir a aprovação do projeto de lei Macron.
As eleições departamentais confirmavam o colapso eleitoral da esquerda. Mesmo dentro de seu próprio campo algumas figuras convidavam o presidente a se submeter a uma humilhante primária caso quisesse se candidatar à reeleição. Enfim, sob pressão de rebeldes de todas as espécies, o congresso do Partido Socialista, programado para 5 a 7 de junho, prometia ser de alto risco.
Contudo, essa perspectiva calamitosa aos poucos começou a melhorar. Claro, nada de impressionante. O divórcio com a opinião pública aparentemente continua irremediável. Segundo uma pesquisa do instituto Odoxa para o "Le Parisien" do dia 23 de maio, somente 21% dos franceses – e 44% dos simpatizantes de esquerda – querem que François Hollande volte a se candidatar em 2017. Mas entre a esquerda essa vontade ganhou 16 pontos desde outubro de 2014. E, embora tenha perdido parte da recuperação de confiança registrada após os atentados parisienses de janeiro, o chefe do Estado conteve sua descida aos infernos do outono de 2014.
Da mesma forma, o câncer do desemprego continuou avançando nos últimos meses e Hollande sabe perfeitamente que isso o condenará caso ele não encontre uma solução nos próximos meses. No entanto, os sinais de uma recuperação econômica são animadores: apesar de suas fragilidades, o PIB francês cresceu 0,6% em relação ao primeiro trimestre e o crescimento deverá registrar, ou até ultrapassar, uma recuperação de 1,2% em 2015 e ainda mais em 2016.
Quanto ao Partido Socialista, agora ele está sob controle. Depois de manobras diversas, seu primeiro-secretário, Jean-Christophe Cambadélis, saiu como grande vencedor da votação sobre as moções apresentadas no congresso de Poitiers. Com uma maioria, ainda que heterogênea, de 60% dos votos, ele tem condições de consolidar sua influência sobre o partido e de colocá-lo a serviço da candidatura de François Hollande. A hipótese de uma primária foi, pelo mesmo motivo, deixada para segundo plano, e a própria ala esquerda do PS reconhece que a revolta parlamentar dos últimos meses já ficou para trás. Por fim, o Palácio do Eliseu pode confiar em Cambadélis, incansável arquiteto da esquerda plural, para refazer os laços com os verdes e os comunistas.
"Não aceito o imobilismo"
Então o dispositivo político do presidente da República está esclarecido e estabilizado, e ele não precisou para isso passar mais para a ofensiva. O discurso que ele pronunciou em Carcassonne mostra que sua vontade de lutar continua firme. Sobre o fato de há muito tempo ele ser visto como vago ou hesitante, ele diz: "Fiz escolhas há três anos", escolhas difíceis, impopulares, mas "conformes ao interesse nacional", ele insiste ao defender, uma a uma, cada uma de suas decisões.Sobre a suspeita de estar tentado a desistir de assumir riscos nos próximos dois anos: "Nada é pior que o status quo. O erro seria esperar que o desemprego caísse automaticamente. Não aceito o imobilismo. Precisamos de projetos para avançar", ele diz traçando a agenda das próximas reformas. Sobre a acusação de ele ter renegado as promessas de seu grande discurso de início de campanha, no Bourguet, em 2012: ele mesmo as comenta, ponto por ponto, para melhor proclamar sua "fidelidade às promessas". E sobre o inventário de seus fracassos? Ele declara confiar no "sucesso das escolhas que fizemos."
Por fim, ele expõe aquilo que, a seu ver, será a escolha de 2017. Entre "o risco da destruição, do fechamento para o lado de fora e a ruptura do lado de dentro" e "a opção da repetição, com menos atenção a cada um e mais tensões para todos", ou seja, entre a extrema direita e a direita, "existe o caminho que estou propondo, que é o do sucesso compartilhado" e, a exemplo de François Mitterrand em 1988, da França unida e reunida.
Mas, segundo seus próprios termos, só falta "o mais difícil": restaurar a confiança que "não se proclama", mas "se conquista". Essa é, mais do que nunca, a luta de François Hollande.
Nenhum comentário:
Postar um comentário