Dilema existencial
Deputados e senadores do PT oscilam entre a satisfação que devem a
seus eleitores e o compromisso com a retomada econômica do país
FSP
Aos poucos, cada vez mais integrantes do PT, da base aliada do governo
Dilma Rousseff (PT) e do próprio Planalto parecem perceber a real
dimensão dos problemas econômicos atuais.
Dão-se conta de que não bastarão alguns poucos meses de austeridade para
que o país reconquiste a confiança de empresários, investidores e
consumidores e retome o rumo do crescimento.
A recessão de fato se aprofunda, e medidas como as que alteram
benefícios trabalhistas e previdenciários, embora necessárias para o
reequilíbrio das contas públicas, são impopulares no curto prazo.
Constadas as grandes dificuldades pela frente, surgem as fissuras.
Enquanto uns começam a criticar o ajuste, outros enxergam sua
importância para que o país possa voltar a se desenvolver num período de
tempo o mais breve possível.
A gravidade dos problemas deriva de dois erros principais. O primeiro
diz respeito à gestão econômica equivocada durante o primeiro mandato de
Dilma, que fragilizou o Orçamento, fez colapsar a confiança e paralisou
a economia.
No ano passado, a irresponsabilidade superou até os largos limites do
petismo. Na luta pela reeleição, destruíram-se as contas públicas e
mascararam-se os rombos; em campanha, Dilma prometeu não fazer o que
seria imperativo.
Daí vem o segundo erro. A petista se reelegeu acreditando que poderia
repetir o truque de 2003, quando Lula adotou política econômica ortodoxa
e povoou os ministérios com figuras de proa.
O momento era outro. Lula comprometera-se a não romper contratos e tinha
legitimidade inconteste. Além disso, o país começava a se beneficiar da
maior alta dos preços de matérias-primas em décadas.
Hoje, tudo é diferente. Depois do mensalão, do escândalo na Petrobras e
do inegável estelionato eleitoral, o desgaste interno é grande, e a
bonança externa, pequena.
Daí o ruído em torno do ajuste --por erro de diagnóstico ou por qualquer
outro motivo, petistas talvez não tenham visto que seria impossível
promover uma arrumação econômica fácil e indolor para sua base de apoio.
Lula dá vazão a rumores de que gostaria de substituir o ministro da
Fazenda, Joaquim Levy. Membros do partido, como o senador Lindbergh
Farias (RJ), atacam o ministro e defendem reforçar a aposta no
expansionismo de gastos.
Esquecem que algumas das medidas polêmicas foram gestadas por Guido
Mantega. Ademais, atribuir a recessão atual ao ajuste é falso --se
gastos sempre maiores levassem ao crescimento, o PIB não teria estagnado
nos últimos anos.
De dilema em dilema, talvez próceres do PT percebam que retomar a
irresponsabilidade orçamentária adiará a retomada econômica, o que
aniquilaria as chances do partido em 2018 --ao menos nesse caso o
pragmatismo eleitoral produziria efeitos benéficos para o país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário