Dinheiro do trabalhador
FSP
Dos jogos de poder da baixa política às vezes surgem oportunidades para
fazer avançar o debate a respeito de temas importantes. É assim com a
proposta de aumentar a correção dos saldos do FGTS (Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço), patrocinada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente
da Câmara dos Deputados.
Ao acolher uma ideia que beneficia os trabalhadores, Cunha tenta reduzir
o desgaste sofrido pela defesa da ampliação da terceirização da mão de
obra. O projeto sugere a correção pela taxa da poupança (6,17% ao ano +
Taxa Referencial) para depósitos a partir de 2016. Hoje, o ajuste é de
3% + TR.
O rendimento atual é lesivo, insuficiente até para repor a inflação. O
ideal seria adotar, ainda que gradualmente e apenas para novos aportes,
um percentual próximo dos parâmetros de mercado.
Reformas ainda mais amplas são necessárias. Criado em 1966 como
alternativa à regra que tornava o trabalhador estável após dez anos de
empresa, o fundo é abastecido pelos empregadores, que fazem depósitos
obrigatórios de 8% dos salários pagos. O saldo permanece em contas
individuais, e os critérios de resgate são restritivos.
O FGTS é um dos muitos mecanismos de poupança forçada criados a fim de
dirigir recursos a investimentos de longo prazo. Por lei, atendem-se
habitação popular, saneamento e infraestrutura.
Não se pode ignorar que faltam fontes privadas para esses setores, mas é
preciso haver mais transparência e decisão com base em retornos para os
titulares.
Ao longo do tempo, a remuneração mais alta faria os saldos crescerem
mais depressa, permitindo aumentar os aportes nos setores de interesse
público e compensando, em certa medida, o custo mais elevado dos
financiamentos.
Também é preciso rever a estrutura de gestão, hoje conduzida por um
conselho curador de inspiração classista, num desenho que talvez não
seja o mais indicado para garantir o interesse dos cotistas. Tome-se
como exemplo recente a tentativa do governo de usar recursos do FGTS
para aportes no BNDES.
Outra mudança é ampliar o direito de escolha do trabalhador para
investir. Deve haver abertura para optar entre várias instituições.
O resultado seria um sistema mais transparente, justo e alinhado ao interesse do dono do dinheiro --o trabalhador.
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