O melhor emprego do mundo
Hélio Schwartsman - FSP
SÃO PAULO - Em 2009, a indústria do turismo australiana criou uma
campanha publicitária na qual oferecia a jovens de todo o planeta o que
chamava de "melhor emprego do mundo". O vencedor do processo seletivo
receberia um belo salário para passar seis meses trabalhando como
zelador de uma ilha paradisíaca na Grande Barreira de Corais. Entre os
benefícios estava morar numa faustosa villa.
É um belo emprego, mas acho que não se compara a um posto de magistrado
no Judiciário brasileiro. Os contemplados com um cargo ali recebem um
belo salário para trabalhar, não pelo prazo exíguo de seis meses, mas
pela vida toda --e com direito a uma excelente aposentadoria. Entre os
muitos benefícios oferecidos estão auxílio-moradia e férias de 60 dias.
Se as propostas que constam do projeto que o Judiciário prepara para
atualizar a Lei Orgânica da Magistratura vingarem, as coisas vão
melhorar. Os juízes ganharão o direito de fixar seus próprios
vencimentos, receberão salários extras em cada uma das duas férias e
terão aumento sempre que se casarem e gerarem filhos. Os contribuintes
também os ajudarão a pagar pós-graduações que decidam cursar e até seus
funerais. Também se cogita de oferecer tratamento privilegiado aos
magistrados em aeroportos (passaporte diplomático) e delegacias (direito
de não ser interrogado senão por outro magistrado).
Não tenho nada contra juízes ganharem bem. Admito que teria certo receio
de ser julgado por alguém que percebesse salário de fome. Mas por que
não fixar os vencimentos dos magistrados com total transparência
monetária e eliminar todas as mordomias, penduricalhos e privilégios
extrassalariais que não deveriam ter lugar num país republicano?
O raciocínio é extensivo a parlamentares e servidores em geral. O
dinheiro foi inventado justamente porque ele permite atribuir valores
comensuráveis a coisas diferentes. Isto é, ele revela em vez de esconder
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