quarta-feira, 27 de maio de 2015

Um aperitivo da recaída na crise feia
Intrigas na economia, tumulto no Congresso, tensão lá fora e presidente alheia recolocam bodes na sala
Vinicius Torres Freire - FSP
EM ABRIL, o ar ficara menos empesteado no país. Alguns bodes da crise tinham saído da sala. Neste maio, eles voltaram. O Congresso abriu as portas para os bichos; possuído pelo fantasma de Dilma 1, o PT lhes dá capim.
Alguns cabritos foram importados, à revelia: a especulação com a alta de juros nos EUA e problemas na Europa, entre outros insondáveis, ajudaram a piorar o clima na finança por aqui. Uma evidência mais "pop" da piora é o alta do preço do dólar, mas a coisa não para por aí.
O conjunto da obra parece um aperitivo do que seria uma recaída feia na crise. Isto é, governo e Congresso relaxariam na tentativa de colocar ordem mínima nas contas do governo, o fantasma de Dilma 1 reencarnaria em outras políticas econômicas e haveria uma alta tumultuada dos juros americanos.
Nada podemos fazer quanto à alta das taxas de juros americanas, que pode ocorrer até o fim do ano. Nada a não ser tomarmos a vacina disponível, que é colocar alguma ordem na ruína deixada por Dilma 1. No entanto, os donos circunstanciais do poder fazem a farra do bode.
Parte do Palácio do Planalto e parte do PT tentam fritar de leve Joaquim Levy, ministro da Fazenda e exorcista precário dos fantasmas e aparições de Dilma 1.
Por convicção, desespero político-eleitoral ou mera irresponsabilidade, parte do governo e do petismo se aproveitou do clima de abril, do ilusório "o pior já passou", para jogar água e cal nos planos de arrocho e ajuste de Levy.
A presidente de certo modo tolera o movimento, até porque no fundo o ajuste seria mera pausa, de resto parcial, no seu programa de desenvolvimento econômico, este que vai jogar o país na pior recessão em quase um quarto de século, com sequelas duradouras.
Apesar do desmanche de quase todos os seus programas para a economia, Dilma Rousseff jamais fez mea-culpa, penitência nem promessa de correção. Acredita, segundo próximos, que depois de um ou dois anos, poderia voltar à política pau na máquina do primeiro governo.
A falta de convicção e de programa articulado de reforma da economia dá ainda mais margem à baderna no que resta da coalizão do governo e no próprio PT no Congresso, para nem falar fora dele. Como se já não bastassem políticos, no PMDB e alhures, comprometidos a levar o governo do país no cabresto, para onde querem, mas sem responsabilidade pelos seus atos.
Os ministros da economia de Dilma 2 hoje diziam agrados contemporizadores uns sobre os outros, ao menos para inglês ver, nas internas do governo. Mas a intriga que começou, de público, na sexta-feira, continuava a fazer péssima impressão.
Ontem, em depoimento ao Congresso, Alexandre Tombini deu uma mãozinha a Levy, ao criticar as políticas de Dilma 1 que detonaram os cofres do governo, os "fundamentos econômicos" e não deram em crescimento. O presidente do Banco Central, por ora, parece de público o único grande aliado do ministro da Fazenda. Mesmo parte do empresariado, industrial em particular, frita Levy.
A recessão ainda vai piorar. Impostos ainda vão subir ou pesar no bolso. O emprego míngua rápido. Motivos de tensão não vão faltar. Se o governo deixar a peteca cair, recaímos na crise do início do ano.

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