Um aperitivo da recaída na crise feia
Intrigas na economia, tumulto no Congresso, tensão lá fora e presidente alheia recolocam bodes na sala
Vinicius Torres Freire - FSP
EM ABRIL, o ar ficara menos empesteado no país. Alguns bodes da crise
tinham saído da sala. Neste maio, eles voltaram. O Congresso abriu as
portas para os bichos; possuído pelo fantasma de Dilma 1, o PT lhes dá
capim.
Alguns cabritos foram importados, à revelia: a especulação com a alta de
juros nos EUA e problemas na Europa, entre outros insondáveis, ajudaram
a piorar o clima na finança por aqui. Uma evidência mais "pop" da piora
é o alta do preço do dólar, mas a coisa não para por aí.
O conjunto da obra parece um aperitivo do que seria uma recaída feia na
crise. Isto é, governo e Congresso relaxariam na tentativa de colocar
ordem mínima nas contas do governo, o fantasma de Dilma 1 reencarnaria
em outras políticas econômicas e haveria uma alta tumultuada dos juros
americanos.
Nada podemos fazer quanto à alta das taxas de juros americanas, que pode
ocorrer até o fim do ano. Nada a não ser tomarmos a vacina disponível,
que é colocar alguma ordem na ruína deixada por Dilma 1. No entanto, os
donos circunstanciais do poder fazem a farra do bode.
Parte do Palácio do Planalto e parte do PT tentam fritar de leve Joaquim
Levy, ministro da Fazenda e exorcista precário dos fantasmas e
aparições de Dilma 1.
Por convicção, desespero político-eleitoral ou mera irresponsabilidade,
parte do governo e do petismo se aproveitou do clima de abril, do
ilusório "o pior já passou", para jogar água e cal nos planos de arrocho
e ajuste de Levy.
A presidente de certo modo tolera o movimento, até porque no fundo o
ajuste seria mera pausa, de resto parcial, no seu programa de
desenvolvimento econômico, este que vai jogar o país na pior recessão em
quase um quarto de século, com sequelas duradouras.
Apesar do desmanche de quase todos os seus programas para a economia,
Dilma Rousseff jamais fez mea-culpa, penitência nem promessa de
correção. Acredita, segundo próximos, que depois de um ou dois anos,
poderia voltar à política pau na máquina do primeiro governo.
A falta de convicção e de programa articulado de reforma da economia dá
ainda mais margem à baderna no que resta da coalizão do governo e no
próprio PT no Congresso, para nem falar fora dele. Como se já não
bastassem políticos, no PMDB e alhures, comprometidos a levar o governo
do país no cabresto, para onde querem, mas sem responsabilidade pelos
seus atos.
Os ministros da economia de Dilma 2 hoje diziam agrados
contemporizadores uns sobre os outros, ao menos para inglês ver, nas
internas do governo. Mas a intriga que começou, de público, na
sexta-feira, continuava a fazer péssima impressão.
Ontem, em depoimento ao Congresso, Alexandre Tombini deu uma mãozinha a
Levy, ao criticar as políticas de Dilma 1 que detonaram os cofres do
governo, os "fundamentos econômicos" e não deram em crescimento. O
presidente do Banco Central, por ora, parece de público o único grande
aliado do ministro da Fazenda. Mesmo parte do empresariado, industrial
em particular, frita Levy.
A recessão ainda vai piorar. Impostos ainda vão subir ou pesar no bolso.
O emprego míngua rápido. Motivos de tensão não vão faltar. Se o governo
deixar a peteca cair, recaímos na crise do início do ano.
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