Le Monde
Sia Kambou/AFP
Ele é o homem que expôs o escândalo. Anders Kompass é diretor de operações de campo no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, responsável pelo vazamento que está abalando o exército francês.
Na quarta-feira (29), o "The Guardian" revelou a existência de um
relatório confidencial da ONU intitulado "Abusos sexuais contra crianças
por parte das forças armadas internacionais". Este continha depoimentos
– recolhidos no local por investigadores da ONU – de jovens meninos que
acusavam soldados franceses de os terem estuprado e de terem abusado
deles em troca de comida ou dinheiro.
Segundo as estimativas e a verificação cruzada dos dados, 14 soldados franceses e 5 militares estrangeiros estariam envolvidos. Os acontecimentos teriam se passado entre dezembro de 2013 e junho de 2014, quando o Exército francês havia sido enviado à República Centro-Africana como parte da operação "Sangaris".
Se a investigação estava em andamento, por que Anders Kompass divulgou o relatório?
A ONU confirma ter aberto um inquérito na primavera de 2014, mas não cita jamais o nome do responsável pelo vazamento, ao contrário do "The Guardian".
Para o jornal britânico, que cita fontes próximas à investigação, foi de fato Anders Kompass que repassou o relatório à Justiça francesa, em julho de 2014, depois de constatar que a ONU estava demorando para agir. Ainda de acordo com o "The Guardian", um de seus superiores estava a par da iniciativa de Kompass e não fez nenhuma objeção. Mas em março de 2015 o sueco foi acusado de ter divulgado o relatório confidencial passando por cima de seus superiores.
Sob condição de anonimato, uma fonte na ONU explicou à Agence France Presse que o responsável havia deixado vazar o relatório somente uma semana depois que ele foi entregue pelos investigadores, e que portanto sua ação não poderia ser justificada pela falta de reação da ONU.
Por que Anders Kompass foi suspenso?
Um oficial de alto escalão da ONU, contatado pelo "Le Monde", também afirmou que se Kompass quisesse acelerar o processo, ele poderia ter enviado o relatório ao "The Guardian" já no mês de julho. Funcionário da ONU há 30 anos, Kompass conhece os procedimentos, inclusive a necessária edição dos relatórios para proteger as vítimas, de acordo com esse oficial.
E é justamente isso que a ONU afirma ser o motivo de crítica a Kompass. O porta-voz adjunto do secretário-geral, Farhan Haq, explicou que o relatório havia sido repassado extra-oficialmente a Paris, sem consultar seus superiores mas também sem retirar o nome das vítimas, das testemunhas e dos investigadores, o que poderia colocá-los "em risco".
Então Haq confirmou na terça-feira que o responsável pelo vazamento havia sido colocado em "licença administrativa com salário integral", enquanto não saem as conclusões de uma investigação interna sobre "essa grave negligência sobre os procedimentos" em vigor. Essa suspensão ocorreu há uma semana, segundo o "The Guardian".
Anders Kompass seria um delator?
Ainda segundo seu porta-voz, a ONU se recusa a conceder a Kompass o status de delator: "Nossa conclusão preliminar é que tal conduta não pode ser considerada como a de um delator".
Mas Bea Edwards, membro de uma associação internacional que apoia os delatores, acusa a ONU de estar fazendo uma "caça às bruxas", segundo o "The Guardian".
"Apesar do discurso oficial, há pouquíssimo comprometimento à frente da organização [das Nações Unidas] em proteger os delatores e uma forte tendência a politizar todas as questões, independentemente do grau de urgência."
O embaixador da Suécia junto à ONU também alertou as Nações Unidas, afirma o "Guardian", avisando que "não seria bom se o alto comissário para os direitos humanos forçasse" Kompass a se demitir.
O que se sabe sobre Anders Kompass?
Diretor de operações de campo no Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Anders Kompass já havia sido alvo de uma investigação da ONU. Telegramas revelados pelo WikiLeaks haviam trazido à tona um conflito de interesses sobre a questão do Saara ocidental. Ele era então suspeito de ter informado os marroquinos sobre a questão, e de ter impedido investigações sobre a questão dos direitos humanos no local. Kompass foi convocado, negou e teve seu computador de trabalho apreendido, mas nada foi revelado.
Segundo as estimativas e a verificação cruzada dos dados, 14 soldados franceses e 5 militares estrangeiros estariam envolvidos. Os acontecimentos teriam se passado entre dezembro de 2013 e junho de 2014, quando o Exército francês havia sido enviado à República Centro-Africana como parte da operação "Sangaris".
Se a investigação estava em andamento, por que Anders Kompass divulgou o relatório?
A ONU confirma ter aberto um inquérito na primavera de 2014, mas não cita jamais o nome do responsável pelo vazamento, ao contrário do "The Guardian".
Para o jornal britânico, que cita fontes próximas à investigação, foi de fato Anders Kompass que repassou o relatório à Justiça francesa, em julho de 2014, depois de constatar que a ONU estava demorando para agir. Ainda de acordo com o "The Guardian", um de seus superiores estava a par da iniciativa de Kompass e não fez nenhuma objeção. Mas em março de 2015 o sueco foi acusado de ter divulgado o relatório confidencial passando por cima de seus superiores.
Sob condição de anonimato, uma fonte na ONU explicou à Agence France Presse que o responsável havia deixado vazar o relatório somente uma semana depois que ele foi entregue pelos investigadores, e que portanto sua ação não poderia ser justificada pela falta de reação da ONU.
Por que Anders Kompass foi suspenso?
Um oficial de alto escalão da ONU, contatado pelo "Le Monde", também afirmou que se Kompass quisesse acelerar o processo, ele poderia ter enviado o relatório ao "The Guardian" já no mês de julho. Funcionário da ONU há 30 anos, Kompass conhece os procedimentos, inclusive a necessária edição dos relatórios para proteger as vítimas, de acordo com esse oficial.
E é justamente isso que a ONU afirma ser o motivo de crítica a Kompass. O porta-voz adjunto do secretário-geral, Farhan Haq, explicou que o relatório havia sido repassado extra-oficialmente a Paris, sem consultar seus superiores mas também sem retirar o nome das vítimas, das testemunhas e dos investigadores, o que poderia colocá-los "em risco".
Então Haq confirmou na terça-feira que o responsável pelo vazamento havia sido colocado em "licença administrativa com salário integral", enquanto não saem as conclusões de uma investigação interna sobre "essa grave negligência sobre os procedimentos" em vigor. Essa suspensão ocorreu há uma semana, segundo o "The Guardian".
Anders Kompass seria um delator?
Ainda segundo seu porta-voz, a ONU se recusa a conceder a Kompass o status de delator: "Nossa conclusão preliminar é que tal conduta não pode ser considerada como a de um delator".
Mas Bea Edwards, membro de uma associação internacional que apoia os delatores, acusa a ONU de estar fazendo uma "caça às bruxas", segundo o "The Guardian".
"Apesar do discurso oficial, há pouquíssimo comprometimento à frente da organização [das Nações Unidas] em proteger os delatores e uma forte tendência a politizar todas as questões, independentemente do grau de urgência."
O embaixador da Suécia junto à ONU também alertou as Nações Unidas, afirma o "Guardian", avisando que "não seria bom se o alto comissário para os direitos humanos forçasse" Kompass a se demitir.
O que se sabe sobre Anders Kompass?
Diretor de operações de campo no Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Anders Kompass já havia sido alvo de uma investigação da ONU. Telegramas revelados pelo WikiLeaks haviam trazido à tona um conflito de interesses sobre a questão do Saara ocidental. Ele era então suspeito de ter informado os marroquinos sobre a questão, e de ter impedido investigações sobre a questão dos direitos humanos no local. Kompass foi convocado, negou e teve seu computador de trabalho apreendido, mas nada foi revelado.
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