Terrorismo pós-Bin Laden é mais mortífero
Quatro anos após a morte do líder da Al Qaeda, extremismo descentralizado produz mais terroristas e vítimas
Mortes em atentados subiram 42% de 2011 a 2013; especialistas apontam papel de redes sociais em cooptação
PATRÍCIA CAMPOS MELLO - FSP
Quatro anos após a morte de Osama bin Laden, o terrorismo não para de crescer.
Em 2011, ano em que o líder da Al Qaeda foi morto pelos Seals (forças
especiais da Marinha dos EUA) em Abbottabad, no Paquistão, 12.533
pessoas morreram em decorrência de terrorismo. Em 2013, último dado
disponível, foram 17.800 mortes, um salto de 42%, segundo o Departamento
de Estado dos EUA.
Sucessivos ataques de drones contra o núcleo duro da Al Qaeda no
Afeganistão e no Paquistão de fato enfraqueceram a milícia radical.
Mas houve uma multiplicação de filiais da Al Qaeda e outros grupos
jihadistas no mundo. Eram três em 1988, 40 em 2011 e 49 em 2013, segundo
Seth Jones, pesquisador do centro de estudos Rand Corporation.
A Al Qaeda não é mais a mesma organização hierarquizada da época em que
planejava ataques audaciosos a alvos ocidentais. Foca atentados no mundo
muçulmano, sobretudo no Oriente Médio e Norte da África, e tornou-se
descentralizada.
Ayman al-Zawahiri, o substituto de bin Laden, tem pouquíssimo controle sobre ações das filiais da Al Qaeda.
E as filiais são muitas: Al Qaeda no Iraque, Al Qaeda na Península
Arábica (Iêmen), Al Qaeda no Maghreb Islâmico (Argélia, Líbia, Mali). O
próprio Estado Islâmico é uma dissidência da Al Qaeda no Iraque.
Sem contar facções que se declaram leais à Al Qaeda: Al Shabaab
(Somália), que matou 148 em uma universidade do Quênia em abril; Boko
Haram (Nigéria, Chade e Camarões), que matou mais de mil em Baga em
janeiro; Ansar al Sharia (Tunísia) e frente Al Nusra (Síria).
Com a proliferação de facções, subiu o número de ataques: foram cem em
2007; 650 em 2011 e mais de 900 em 2013. Segundo a Rand, o Estado
Islâmico foi o maior responsável por atos violentos em 2013 (43%),
seguido do Al Shabaab (25%), pela Al Nusrah (21%) e pela Al Qaeda na
Península Arábica (10%).
REDES SOCIAIS
A morte de Bin Laden, o autor dos atentados de 11 de setembro de 2001,
em 2 de maio de 2011 havia sido considerada um marco na malfadada
"guerra ao terror" e uma prova da eficácia dos assassinatos seletivos
por drones ou outros meios.
Aparentemente, houve exagero no otimismo.
Mesmo sem um líder ideológico forte, elementos novos levaram à
multiplicação do terror. A Síria em guerra civil e a Líbia em processo
de desintegração após a morte de Muammar Gaddafi se transformaram em
terreno fértil para novos grupos jihadistas.
As redes sociais são o instrumento perfeito para recrutamento de milicianos.
Para analistas, a descentralização da jihad representa um desafio, pois
ampliou o "campo de batalha". Antes, ações se concentravam em Iraque,
Afeganistão e Paquistão; agora, se estendem para África, Síria, Iêmen.
Mas eles afirmam que o maior risco é para populações locais, na África e
Oriente Médio, e na Europa. Os EUA e alvos americanos no exterior
estariam mais protegidos dos ataques dessa jihad descentralizada.
Segundo o Departamento de Estado, dos 12 533 mortos pelo terror em 2013, eram cidadãos americanos 16.
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