Voluntarismo ‘desenvolvimentista’ destroçou a Petrobras
O estilo de executar um programa econômico
guiado por atos de vontade política foi adotado pelo lulopetismo na
estatal, com resultados também ruinosos
O Globo
Passado pouco mais de um ano da deflagração pela Polícia
Federal da Operação Lava-Jato, o fio da meda que levou ao petrolão, já
houve desdobramentos antes inimagináveis. Mais um tesoureiro do PT, João
Vaccari Neto, foi parar na prisão — sina iniciada por Delúbio Soares no
mensalão —, e o partido terminou atingido de forma direta; legendas
aliadas (PMDB, PP) estão na linha de fogo, com os presidentes da Câmara e
do Senado, os peemedebistas Eduardo Cunha e Renan Calheiros, sob
escrutínio do Ministério Público; e grandes empreiteiras foram tragadas
pelo escândalo, com executivos e acionistas também presos.
Em outro plano, transcorre a crise da Petrobras, cujos
números, à medida que aparecem, traçam os contornos de uma catástrofe
empresarial espantosa, porque foi construída com método. Um caso para
estudos, a desmontagem da Petrobras pelo esquema lulopetista durante 12
anos é surpreendente, pelos ruinosos números que gerou.
Apenas de janeiro de 2010 a dezembro último, o valor da
companhia, calculado pela cotação das ações em bolsa, convertido para o
dólar, caiu 73%, mesmo com as promissoras reservas do pré-sal. A
derrocada se explica pela administração temerária da empresa, em toda a
gestão do petista militante José Sérgio Gabrielli, com destaque para os
investimentos mal feitos. A companhia padece de um elevado endividamento
— mais de R$ 300 bilhões —, construído em cima de inversões mal
formuladas. Hoje é evidente que o mesmo estilo voluntarista da política
econômica “desenvolvimentista”, executada a partir do final do segundo
governo Lula, foi aplicado na Petrobras com resultados desastrosos
idênticos.
Ainda presidente, Lula determinava a construção de
refinarias sem estudos de viabilidade, e assim era feito. Abreu e Lima
(PE), a que teve o custo inicial multiplicado por dez, saiu de um acerto
pessoal entre Lula e o caudilho venezuelano Hugo Chávez. Não poderia
dar certo. Duas outras unidades (Ceará e Maranhão), ao menos a Petrobras
conseguiria tirar de seus planos, mas tendo gastado centenas de milhões
em terraplenagem.
O lulopetismo viu no pré-sal a base de um projeto de
capitalismo de Estado, num modelo semelhante ao tentado na ditadura
militar por Geisel. Este é um sistema que se nutre do autoritarismo e o
reproduz. Vieram daí o aumento da exigência do “conteúdo nacional" nos
investimentos no pré-sal, a mudança do modelo de exploração etc. Também
não dará certo. Mas ajudou a virtualmente quebrar a maior empresa do
país.
A corrupção se aproveitou da falta de controles de um
“método de gestão" que dispensava parâmetros técnicos nas decisões, para
privilegiar a vontade de líderes partidários. Aplainou-se o terreno
para se repetir na Petrobras, numa escala muito maior, o mensalão,
também com o desvio de dinheiro público de uma estatal para o projeto de
poder lulopetista. Trágico para a Petrobras e o país, mas foi simples
assim.
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