segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A política velha
Merval Pereira - O Globo
Pelo jeitão que as alianças políticas para a eleição de 2018 estão tomando, dificilmente veremos uma renovação profunda dos quadros políticos nacionais, por mais que essa seja a vontade do cidadão comum.
Os partidos políticos, que fazem as regras eleitorais, já estão retomando velhos hábitos, e as alianças partidárias continuam refletindo interesses regionais que têm mais a ver com vantagens pessoais do que com programas de governo.
Ao anunciar, terça-feira passada, que estava “perdoando” os golpistas, Lula deu o sinal esperado para reagrupar antigos interesses fisiológicos, separados momentaneamente no impeachment da ex-presidente Dilma. Ela, aliás, vai ser a grande abandonada desta campanha.
Embora insista em que a anulação do impeachment na Justiça é possível, Dilma, pelo jeito, não tem a menor chance de ganhar o respaldo político para tarefa tão ingrata. Mesmo que tenham surgido denúncias de que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha andou distribuindo dinheiro para ganhar votos contra Dilma, houve também informações de que os executivos da JBS entraram em campo do outro lado, ajudando a comprar votos em favor de Dilma.
E ninguém esquece a presença de Lula na suíte presidencial de um hotel em Brasília, tentando ganhar votos contra o impeachment tendo ao lado Joesley Batista e suas burras cheias de dinheiro. Não bastassem essas dificuldades, Lula já havia dito dias atrás que o eleitorado se sentiu traído pela ex-presidente quando ela começou a tentar fazer o reajuste das contas públicas com um ministro da Fazenda saído das hostes adversárias.
O ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho, um dos petistas mais próximos ao ex-presidente Lula, admitiu em entrevista recente que a maioria do povo apoiou o impeachment de Dilma, “e nós precisamos recuperar a maioria do povo”, justificando a permissão de Lula para para que as alianças eleitorais sejam feitas com partidos que eram chamados de golpistas.
 Luiz Marinho ainda insinuou que Dilma não será candidata a nada nas eleições de 2018 e, sendo assim, sua presença no palanque de Lula “não ajuda nem atrapalha”. Já  Lula tentou dar um tom épico ao seu comando de ficar o dito pelo não dito, comparando-se ao mesmo tempo com Getúlio, Jango e JK: “Toda as vezes em que a direita nesse País resolveu usurpar o poder, a primeira coisa que fez foi destruir moralmente seus adversários. Foi assim com Getúlio (Vargas), depois com Juscelino Kubitschek, depois com Jango (João Goulart). Sou mais paciente que Getúlio e João Goulart e talvez mais que JK, que tentaram tirar três vezes e ele sempre perdoou. Estou perdoando os golpistas desse País”, afirmou o ex-presidente, em ato na Praça da Estação, na região central de Belo Horizonte, durante o encerramento da caravana que percorreu 20 cidades mineiras.
Como explicou Lydia Medeiros no Globo, a decisão de Lula não tem nada a ver com sentimentos elevados. A reconstrução da aliança entre PMDB e PT para as eleições de 2018 tem uma base puramente pragmática: o fundo eleitoral recém-aprovado pelo Congresso, de cujo saldo os dois partidos ficam com 25% do total, algo em torno de R$ 450 milhões. O restante será distribuído para mais de 30 partidos.
Esse acordão político-eleitoral, por mais que a retórica seja uma, na prática está em curso também na ação congressual para aprovação de medidas inibidoras das investigações da Lava-Jato, sendo que a mais madura é a lei de abuso de autoridade, colocada novamente na pauta pelo presidente da Câmara Rodrigo Maia.
A proibição de delação de réus presos, restrição de conduções coercitivas, limites para investigações sobre escritórios de advocacia são outras medidas engatilhadas, com apoios suprapartidários.

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