quinta-feira, 5 de julho de 2012

INDÚSTRIA BRASILEIRA: POR QUE PAROU? PAROU POR QUÊ?

Desalento improdutivo
FSP - Editorial
Isenções fiscais e outras medidas do governo federal não conseguem combater tendência da indústria a conter investimento em 2012
Dados recentes da economia desferem duro golpe nas expectativas de retomada. Em um mês, as projeções de aumento do PIB caíram de 3% para menos de 2%, e a pequena alta na atividade industrial se converteu em queda.
Algo perturbador é o investimento, que manifesta o pior desempenho: entre janeiro e maio, a produção de máquinas e equipamentos caiu 12% em relação ao mesmo período do ano passado. Foi a maior redução entre os setores da indústria, que recuou 3,4% no todo.
O máximo a esperar das últimas medidas governamentais seria algum impacto temporário na demanda. O corte de IPI para automóveis, por exemplo, mostrou resultados: as vendas cresceram 24% de maio a junho. Com isso, os estoques nas concessionárias caíram de 39 para 27 dias, mais perto da normalidade.
Diferentemente de 2009-2010, quando o IPI reduzido ajudou a consolidar vendas encorpadas, dessa vez é provável que apenas se antecipe demanda. As condições de crédito ainda não são propícias.
O contraponto, até o momento, aparece nos fatores renda, emprego e consumo de não duráveis.
A queda da inflação e correções salariais ainda ensejam elevação da ordem de 5% no rendimento do trabalho (acumulado até maio, já descontada a inflação). E o emprego, apesar da menor geração de vagas formais nos últimos meses, segue sólido, impulsionado pelo setor de serviços.
Nos próximos meses, a combinação de desova de estoques e renda familiar ainda robusta deve permitir certo repique na produção. Mas não cabe tomar essa melhora como superação confiável das dificuldades, pois subsistem os impedimentos estruturais.
Talvez o mais grave seja a produtividade da indústria, estagnada desde 2009. Há muitas razões para isso, desde dificuldades de ajuste de mão de obra às variações de produção até perda de eficiência em setores que sofrem forte pressão competitiva de importados.
Maior produtividade é a base para que um ciclo de crescimento possa sustentar-se. Sem ela, maior demanda interna degenera em perda de mercado para importados competitivos. É esse segundo fenômeno que assola a indústria no presente.
Até o momento, nenhuma medida do governo federal foi capaz de alterar esse quadro. As desonerações fiscais são tímidas e restritas a setores escolhidos. Os custos internos continuam a subir, e os entraves de infraestrutura persistem.
O resultado é a demanda interna concentrada em consumo de curto prazo, e não em despesas para ampliar produção futura.

Nenhum comentário: