sábado, 1 de setembro de 2012


Governo espanhol cogita deixar imigrantes indefinidamente em ilha no Mediterrâneo

F. Gragera e M. Ceberio - El Pais

O Ministério do Interior deixa dez imigrantes             durante dois dias em uma ilhota espanhola inabitada perto do Marrocos, por medo do "efeito chamada"
O Estado espanhol abriu uma nova e importante brecha no conflito da imigração irregular do Marrocos. A nova via dos imigrantes subsaarianos para entrar na Espanha, através das ilhotas e rochedos de soberania espanhola ao longo da costa marroquina - de muito fácil acesso a nado ou em botes -, pode se transformar em um quebra-cabeça de difícil solução para o governo de Mariano Rajoy. A última embarcação chegou à ilha de Terra - uma ilhota inabitada a cerca de 100 metros da costa - na quarta-feira (29) de madrugada com 16 subsaarianos, criando uma situação diante da qual as autoridades ainda não reagiram.
Dez dos imigrantes continuam na ilhota e o Ministério do Interior ainda não decidiu se os transferirá para Melilla ou ao continente, ou preferirá uma opção que seria desconcertante: deixá-los onde estão, um penhasco desolado, confiando que voltarão a nado para o Marrocos.
As duas alternativas de atuação são delicadas. Se as autoridades transladarem os imigrantes para Melilla [cidade autônoma espanhola, situada no norte da África, encravada no Marrocos] ou para a península, correm o risco de que essa forma de entrada muito simples seja utilizada maciçamente como "uma ponte aérea de acesso" à Espanha, segundo indicou Abdelmalik El Barkani, delegado do governo em Melilla. Mas adiar indefinidamente sua presença na ilha, esperando que a abandonem voluntariamente, também é uma opção  arriscada.
A ilhota é espanhola, e portanto o governo será responsável por qualquer coisa que aconteça com esses imigrantes. Por outro lado, mesmo que a distância que separa a ilha de Terra do Marrocos seja pequena, alguém que não saiba nadar não pode enfrentá-la. E finalmente não parece provável que os emigrantes vão renunciar facilmente a ser trasladados para a Espanha.
A única coisa que as autoridades parecem ver claramente é que os imigrantes mais vulneráveis serão atendidos. Nesta quinta-feira as primeiras medidas de socorro se concentraram nas seis mulheres que iam no bote, três grávidas e três menores, que foram transferidas para o próximo penhasco de Alhucemas, onde há uma guarnição do exército espanhol. Dali foram conduzidas a Melilla no final da tarde.
Fontes policiais e governamentais reconheceram que o Executivo está muito preocupado com a situação, que se cogitavam todas as opções e que por isso os imigrantes continuavam na ilhota. Um porta-voz do Interior indicou que estão trabalhando para buscar uma solução para o problema. Na realidade, só há duas opções: deixá-los ali ou transferi-los. O ministério indicou que provavelmente adotará essa última decisão, embora ainda não se saiba quando, e talvez os subsaarianos passem mais algum tempo na ilhota. Enquanto isso, fontes da delegação do governo afirmam que proporcionaram aos imigrantes uma "ajuda mínima", sem explicar qual.
As declarações de El Barkani na quinta-feira faziam pensar que não se procederia à transferência dos subsaarianos para a península ou para Melilla. O delegado do governo na cidade autônoma afirmou que não se pode ceder à chantagem das máfias que traficam seres humanos e que apelam à fibra humanitária para abrir novas vias de entrada no território espanhol, e defendeu que se deveria questionar a consideração que se dá aos que chegam "violentando as fronteiras" ou "prestando-se a situações de chantagem humanitária que favoreçam o negócio das máfias". Ao longo do dia, porém, parece que o governo mudou de opinião, segundo a posição posterior, mais matizada, do ministério.
A ilha de Terra faz parte, junto com o rochedo de Alhucemas e a ilha do Mar, de um arquipélago situado a 92 quilômetros a oeste de Melilla. É só uma das novas vias, junto com outras ilhotas e rochedos, que os imigrantes começaram a usar para entrar na Espanha. Em 19 de agosto, um grupo de 41 subsaarianos conseguiu acesso ao rochedo de Alhucemas em uma lancha a motor. E este ano pela primeira vez chegaram botes com imigrantes ao arquipélago espanhol das Chafarinas, situado a 37 quilômetros a leste de Melilla.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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