Vitor Hugo Soares - Blog do Noblat
Segue o baile do poder. Levanta poeira no balanço da gafieira em que se
tornou o segundo mandato do governo petista da presidente Dilma
Rousseff. Nesta semana divisória das duas quinzenas de setembro, o rolo
aumentou com a “bolsa de apostas” de Brasília pulsando em ritmo febril,
em relação a cabeças cortadas que devem rolar.
As orquestras (são várias e barulhentas) tocam alto “pra polícia não
manjar”, mas é inútil. E o reboliço é mais intenso e nervoso na casa da
mandatária - corredora de bicicleta do Planalto nas horas vagas - que na
oscilante e quase modorrenta Bovespa . Salvo os sustos das variações
violentas na cotação do dólar e das quedas incontroláveis das ações da
Petrobras, fonte de riqueza e orgulho nacional corroída “pela ditadura
da propina” (curta e mais que perfeita definição do jurista Miguel Reali
Jr) por corruptos e corruptores, públicos e privados, de máscaras ou
capuzes arrancados pela Operação Lava Jato.
Multiplicam-se os palpites e as especulações sobre a crescente e veloz
perda de prestígio e relevância do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, acompanhados dos ruídos sobre a sua queda (ou manutenção), e
os inevitáveis fuxicos sobre nomes do (a) provável substituto (a) no
cobiçado gabinete do Palácio do Planalto, apesar da má fama de ter-se
transformado em usina de queimações e crises políticas e administrativas
nos anos de domínio petista.
São emblemáticas, no particular, as previsões opostas colhidas nos
bastidores, de dois dos mais lidos e bem informados colunistas políticos
(repórteres furadores da melhor cepa) do jornalismo político
brasileiro. Ambas abrigadas no portal G1, de O Globo: Aloízio Mercadante
sai da Casa Civil, diz Cristiana Lobo, na Globo News. Aloízio
Mercadante fica, afirma Camarottii, no mesmo canal privado de televisão.
"Coisas de um tempo em que a cabra não reconhece o filhote cabrito”.
Diriam os sábios mineiros da política na época de seu Laio, personagem
notável de Guimarães Rosa na novela “A volta do marido pródigo”, de
Sagarana; ou o arguto Tancredo Neves, se vivo estivesse. Um cenário bem
parecido, também, com o descrito no samba famoso Piston na Gafieira, de
Billy Blanco.
Enquanto o duro Mercadante vai não vai, é bom dar uma olhada em volta
do salão. Observar os modos e atitudes dos principais personagens que
dançam agarradinhos, daqueles que procuram briga, ou dos que
simplesmente circulam ou fazem rondas periódicas no lugar.
À exemplo do ex-presidente Lula, que voltou a Brasília na quinta-feira
(17), repentinamente, pela primeira vez desde o lançamento do novo
pacote de ajuste fiscal, com CPMF e tudo. Ele levou uns dias fazendo
fita, “costeando o alambrado” (a expressão feliz é de Leonel Brizola),
ciscando no terreiro peronista da Argentina, em campanha no palanque
presidencial de André Sciolli, o candidato do peito da presidente
Cristina Kirchner à sua sucessão. Ela empenha o canavial da sogra para
manter o mando do clã dos Kirchner na Casa Rosada. Antes de voltar, Lula
deu uma passada pelo Paraguai, para mais uma rodada de proselitismo
político na base do “não tenho nada com isso”.
No reencontro com a afilhada, no Alvorada, porém, o ex-presidente,
fundador do PT, principal líder do partido no poder há 13 anos, mostrou
as garras que - mesmo desgastadas pelos mais recentes episódios da Lava
Jato que lhe tiram o sossego - , ainda arranham e ferem. Revelou, ao
mesmo tempo, não ter perdido o interesse pelo palácio, e que anda
ligado, de olho no jogo pesado em curso no planalto central. Em
especial, na reforma administrativa que Dilma deve anunciar até o dia
30, antes de embarcar para New York, onde fará o discurso de praxe na
abertura de mais uma Conferência Anual das Nações Unidas (ONU).
Pelo relato publicado no Estadão (assinado por Vera Rosa), Lula
recomendou a Dilma que faça uma reforma ministerial mais ampla para
garantir sustentação política e evitar o processo de impeachment. Foi
direto ao ponto: pediu à mandatária (como no tempo dos antigos barões ou
velhos coronéis da política brasileira, que aumente o espaço dos
aliados “fiéis” e reduza os cargos dos “traidores”. Muitas orelhas
arderam na madrugada de quinta-feira em Brasilia, e algumas seguiam
pegando fogo ontem (19).
Principalmente ao lembrar: antes do novo e inesperado desembarque de
Lula para a conversa no Alvorada, o jornal espanhol El Pais jogou mais
álcool no fogo, ao revelar que a “bolsa de aposta” em Brasília coloca a
atual ministra da Agricultura Katia Abreu, a ruralista do governo
petista, como uma das favoritas de Dilma para substituir o petista
Mercadante no gabinete vizinho ao da mandatária, que assim daria espaço
ao rebelde PMDB.
O outro pretendente é o ministro da Defesa, Jaques Wagner,
ex-governador da Bahia. Petista histórico do peito de Lula, que perde
fôlego e força a olhos vistos no governo, como o Rio São Francisco à
míngua, antes da transposição, ou a própria Bahia no governo de Rui
Costa, o afilhado de Wagner. O resto, a conferir.
Dilma, Lula e Mercadante (Foto: Divulgação)
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