Medo de cara feia
Hélio Schwartsman - FSP
SÃO PAULO - "As coisas estão indo bem e, no futuro, irão ainda
melhor –não há com o que se preocupar." A frase acima, que resume bem o
que a campanha presidencial de Dilma Rousseff dizia sobre o Brasil em
2014, é a fórmula utilizada por Cass Sunstein e Reid Hastie para definir
"happy talk" (conversa feliz), que, segundo esses especialistas em
teoria da decisão, é uma das principais e mais disseminadas fontes de
fracassos coletivos.
Em "Wiser: Getting Beyond Groupthink to Make Groups Smarter" (mais
sábio: ultrapassando o pensamento de grupo para tornar grupos mais
inteligentes), Sunstein e Hastie não tratam do Brasil nem do governo
Dilma, mas, ainda assim, explicam muito do que está ocorrendo por aqui.
É que os autores esmiúçam a literatura sobre a psicologia de grupos e,
ao fazê-lo, revelam a incrível capacidade que conglomerados de gente,
sejam eles organizacionais, governamentais ou mesmo nações têm de
produzir erros e persegui-los com máximo afinco, sempre julgando que
estão fazendo a coisa certa. Mostram também por que, nas condições
certas, grupos se saem melhor do que indivíduos pensando e agindo
isoladamente.
A "happy talk" aparece com destaque porque é um dos métodos mais
eficazes de promover a complacência e calar dissensos que poderiam
revelar informações capazes de corrigir o rumo. Ninguém, afinal, deseja
ser o desmancha-prazeres que vai tirar todos de seu doce idílio –mesmo
que ele não passe de uma ilusão.
Na segunda parte da obra, Sunstein e Hastie dão dicas do que fazer para
aumentar as chances de sucesso de empreitadas coletivas. De novo, as
coisas não ficam muito bem para Dilma. Segundo os autores, os melhores
líderes costumam ser aqueles que estão ansiosos para descobrir o que
está dando errado e conseguem fazer seus subordinados dizerem o que
realmente pensam, sem medo de levar broncas ou enfrentar cara feia.
Um comentário:
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