sábado, 19 de setembro de 2015

Mídia estrangeira muda tom e aponta maior ímpeto de impeachment no Brasil
Daniel Buarque - UOL
Reportagem do "Financial Times" indica aumento do risco de impeachment no BrasilReportagem do “Financial Times'' indica aumento do risco de impeachment no Brasil
Vários textos editoriais publicados na imprensa internacional no mês passado deixaram claro o posicionamento estrangeiro contrário a qualquer ideia de impeachment no Brasil, mesmo com toda a crise política. Pouco antes, o tom geral era até mesmo de que o impeachment seria equivalente a uma tentativa de golpe. Agora, depois do rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard and Poor's, da divulgação de indicadores sobre a gravidade da crise econômica, da frustração em torno do pacote de ajustes fiscais do governo e da insistência da oposição em discutir a interrupção do governo de Dilma Rousseff, esta semana foi possível perceber uma mudança de tom na mídia estrangeira. As publicações internacionais passaram a ver ímpeto nas ações deste tipo, e começam a indicar que é possível que o mandato do governo realmente seja abreviado.
Artigo do FT diz que governo está perto do fim da linha
Artigo do 'FT' diz que governo está perto do fim
A mudança de tom foi percebida primeiramente na análise da agência de inteligência geopolítica dos EUA Stratfor. Poucos meses depois de dizer que impeachment era improvável, o think tank indicou nesta semana que o movimento para tirar Dilma do poder ganha força. Além dele, a consultoria internacional Eurasia, especialista em análise de risco político, elevou de 30% para 40% sua perspectiva de possibilidade de impeachment no Brasil.
A partir de análises nesta linha, algumas das principais publicações jornalísticas no resto do mundo começaram a ver o risco de fim antecipado do atual governo como possível (ainda que não necessariamente provável).
O jornal de economia “Financial Times'', por exemplo, publicou nesta semana dois textos indicando o possível fim da linha da presidência de Dilma. É importante lembrar que o “FT'' tradicionalmente se colocou contra o governo e crticou a condução da economia desde antes da reeleição, no ano passado, mas ainda assim ele indica aumento da força contra a presidente.
Uma análise publicada pelo jornal diz que “os lobos estão se aproximando do governo'', e indica que os principais pontos que colocam seu cargo sob risco são a queda na atividade industrial, a diminuição do consumo e da confiança dos consumidores e o aumento do desemprego.
Texto da rede Bloomberg aponta aumento de chances de impeachment
Texto da rede Bloomberg aponta aumento de chances de impeachment
Segundo o “FT'', é possível ver o momento como o “começo do fim'' do Brasil de Dilma. Texto assinado pelo analista brasileiro Paulo Sotero, do Wilson Center, diz que o governo não tem mais a credibilidade necessária para conter a crise.
Reportagem sobre crise brasileira no 'Washington Post'
Reportagem sobre crise brasileira no 'Washington Post'
Outra rede de economia, Bloomberg publicou uma reportagem sobre a pressão política sobre o governo. “Discussões no Congresso e o apoio ao pedido refletem uma crescente união da oposição em relação ao impeachment enquanto a maior economia da América Latina se afunda na recessão'', diz.
Em uma reportagem sobre a crise no país, o jornal americano “Washington Post'' lembrou dos protestos contra a presidente e a mobilização popular pelo fim do governo de Dilma. “A questão agora é saber se uma segunda agência de risco também vai rebaixar o Brasil. Se isso acontecer, o impacto pode ser dramático'', diz.
A agência de notícias Reuters publicou uma nota sobre o editorial do jornal “Folha de S.Paulo'' do domingo, em que o jornal diz que o governo está tendo sua “última chance'', reforçando na mídia internacional o sentimento de que o governo está sob risco.
Sem tratar especificamente da questão política do impeachment, a revista “The Economist'' publicou nesta quinta-feira uma reportagem sobre o aumento do desemprego do Brasil. Para a publicação, a “mordida'' da recessão está sendo sentida por milhares de brasileiros, e pode afetar ainda mais a força do governo Dilma. A revista critica o ajuste fiscal proposto e diz que “assim como esforços anteriores do governo, este ajuste parece insuficiente para reparar as finanças públicas, mas mais de que o necessário para irritar o Congresso, onde a cada vez mais impopular presidente não tem controle e onde o movimento para sua saída tem ganhado força. Dilma está se segurando em seu emprego por enquanto. Muitos brasileiros comuns não tiveram a mesma sorte'', diz.
"The Economist" diz que Dilma ainda se segura no emprego, mas que corre risco
“The Economist'' diz que Dilma ainda se segura no emprego, mas que corre risco
Ainda não é uma opinião unânime entre a mídia internacional, mas percebe-se claramente uma nova linha de interpretação do atual momento brasileiro. A análise do posicionamento estrangeiro mostra que o movimento pelo impeachment não chega a ter apoio no resto do mundo, mas que olhares externos já começam a ver a saída de Dilma do governo como uma possibilidade real.

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