terça-feira, 31 de maio de 2016
EUA alertam sobre risco de ataques terroristas na Europa nos próximos meses
Emitido pelo Departamento de Estado, alerta estará vigente até o dia 31 de agosto
Emitido pelo Departamento de Estado, alerta estará vigente até o dia 31 de agosto
VEJA
Segurança
no Aeroporto de Zaventem, em Bruxelas, é reforçada após a reabertura do
local, neste domingo (03), 12 dias após os atentados que deixaram
dezenas de mortos(Benoit Doppagne/Reuters)
O
governo dos Estados Unidos alertou nesta terça-feira seus cidadãos para
o risco de ataques terroristas na Europa durante os próximos meses de
verão no Hemisfério Norte, particularmente em meio a grandes eventos
como a Eurocopa, que será disputada na França, ou a Jornada Mundial da
Juventude, a se realizada na Polônia. O alerta, emitido pelo
Departamento de Estado, estará vigente até 31 de agosto.
"O grande número de turistas que visitam a Europa nos meses de verão
apresenta maiores alvos para ataques terroristas em lugares públicos,
especialmente em grandes eventos", diz o comunicado de alerta.
Além dos "grandes eventos", o texto faz referência ao risco de ataques terroristas em lugares turísticos, restaurantes, shoppings e meios de transporte.
O Departamento de Estado ressaltou que a França será sede da Eurocopa de 10 de junho a 10 de julho e que os estádios, as áreas de encontro de torcedores e os lugares que transmitam as partidas no país e em toda a Europa "representam alvos potenciais para os terroristas".
O alerta menciona, além disso, a realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 26 a 31 de julho em Cracóvia (Polônia), que deve receber cerca de 2,5 milhões de pessoas.
O Departamento de Estado recomenda aos americanos que estão planejando viajar à Europa nos próximos dias que permaneçam "atentos" em lugares públicos e em meios de transporte em massa. Além disso, aconselhou que evitem "lugares muito movimentados".
"As autoridades europeias continuam adotando medidas para garantir a segurança pública e desmantelar complôs terroristas", disse o Departamento de Estado.
O texto também destaca que os EUA continuarão "compartilhando informações" com seus aliados europeus para ajudar a "identificar e resistir às ameaças terroristas".
Além dos "grandes eventos", o texto faz referência ao risco de ataques terroristas em lugares turísticos, restaurantes, shoppings e meios de transporte.
O Departamento de Estado ressaltou que a França será sede da Eurocopa de 10 de junho a 10 de julho e que os estádios, as áreas de encontro de torcedores e os lugares que transmitam as partidas no país e em toda a Europa "representam alvos potenciais para os terroristas".
O alerta menciona, além disso, a realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 26 a 31 de julho em Cracóvia (Polônia), que deve receber cerca de 2,5 milhões de pessoas.
O Departamento de Estado recomenda aos americanos que estão planejando viajar à Europa nos próximos dias que permaneçam "atentos" em lugares públicos e em meios de transporte em massa. Além disso, aconselhou que evitem "lugares muito movimentados".
"As autoridades europeias continuam adotando medidas para garantir a segurança pública e desmantelar complôs terroristas", disse o Departamento de Estado.
O texto também destaca que os EUA continuarão "compartilhando informações" com seus aliados europeus para ajudar a "identificar e resistir às ameaças terroristas".
Por que Dilma não pode voltar
Dilma atribui aos adversários a intenção de fazer o que ela própria já estava realizando na prática: todos os principais programas sociais de seu governo sofreram cortes nos últimos anos, em razão da falta de dinheiro
OESP
A presidente Dilma Rousseff parece acreditar que, ao se manifestar sobre seu governo e seu afastamento, angaria simpatia e, assim, afasta a hipótese altamente provável de seu impeachment. Sempre que a petista abre a boca, porém, fica claro para o País que, se seu governo já foi desastroso, seu eventual retorno à Presidência seria um cataclismo, pois a administração seria devolvida a quem se divorciou completamente da realidade. No mundo em que vive, Dilma se confunde com Poliana: não cometeu nenhum erro, não é responsável pela pior crise econômica da história brasileira e só foi afastada em razão de um complô neoliberal operado pelo deputado Eduardo Cunha, e não porque a maioria absoluta dos brasileiros exige seu impeachment.
Dilma atribui aos adversários a intenção de fazer o que ela própria já estava realizando na prática: todos os principais programas sociais de seu governo sofreram cortes nos últimos anos, em razão da falta de dinheiro
OESP
A presidente Dilma Rousseff parece acreditar que, ao se manifestar sobre seu governo e seu afastamento, angaria simpatia e, assim, afasta a hipótese altamente provável de seu impeachment. Sempre que a petista abre a boca, porém, fica claro para o País que, se seu governo já foi desastroso, seu eventual retorno à Presidência seria um cataclismo, pois a administração seria devolvida a quem se divorciou completamente da realidade. No mundo em que vive, Dilma se confunde com Poliana: não cometeu nenhum erro, não é responsável pela pior crise econômica da história brasileira e só foi afastada em razão de um complô neoliberal operado pelo deputado Eduardo Cunha, e não porque a maioria absoluta dos brasileiros exige seu impeachment.
“Temos que defender o nosso legado”, disse à Folha de S.Paulo a
presidente responsável por recessão econômica, desemprego crescente,
inflação acima da meta e contração da atividade, do consumo e do
investimento, além de um rombo obsceno nas contas públicas. Foi essa
herança, maldita em todos os sentidos, que criou o consenso político em
torno do qual o Congresso faz avançar o impeachment. Assim, quando fala
em seu “legado”, não é à dura realidade que Dilma está se referindo, mas
sim à farsa segundo a qual seu governo beneficiou os mais pobres –
justamente aqueles que mais sofrem com a crise que ela criou.
Na entrevista, Dilma sugere que seu “legado” é a manutenção de programas sociais, o que estaria sob risco no governo de Michel Temer, instituído como parte de uma conspiração para instalar no Brasil uma “política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto”. A desmontagem da rede de proteção aos mais pobres seria, segundo ela, o objetivo dos “golpistas”. Dilma atribui aos adversários a intenção de fazer o que ela própria já estava realizando na prática: todos os principais programas sociais de seu governo sofreram cortes nos últimos anos, em razão da falta de dinheiro.
Especialista em destruir os fundamentos da economia, Dilma achou-se autorizada a comentar as possíveis medidas do governo Temer para tentar recuperar um pouco da racionalidade econômica que ela abandonou. Dilma disse ser “um absurdo” a possibilidade de que a imposição de um teto para os gastos públicos atinja áreas como educação. Para ela, “abrir mão de investimento nessa área, sob qualquer circunstância, é colocar o Brasil de volta no passado”. Foi esse tipo de pensamento, segundo o qual há gastos que devem ser mantidos “sob qualquer circunstância”, que condenou o Brasil a um déficit público superior a R$ 170 bilhões.
Ainda em seu universo paralelo, Dilma disse que em 2014 ninguém notou que o País já passava por uma crise, embora o descalabro estivesse claro para quem procurou se informar. “Quando é que o pessoal percebeu que tinha uma crise no Brasil, hein? A coisa mais difícil foi descobrir que tinha uma crise no Brasil”, disse ela, desafiando a inteligência alheia de forma grosseira até para seus padrões. Bastaria ler os documentos de análise da economia produzidos regularmente pelo Banco Central para constatar o desastre desde sua formação até o seu fiasco final com o episódio Joaquim Levy. Ela prefere imputar as mazelas da economia em seu governo à desaceleração da China, à queda do preço do petróleo, à seca no Sudeste e a um complô da oposição e de Eduardo Cunha, que, segundo suas palavras, é “a pessoa central do governo Temer”. Ou seja: para Dilma, se Cunha por acaso não existisse, ela ainda estaria na Presidência, e a crise, superada.
“A crise econômica é inevitável”, ensinou Dilma na entrevista. “O que não é inevitável é a combinação danosa entre crise econômica e crise política. O que aconteceu comigo? Houve uma combinação da crise econômica com uma ação política deletéria.” Segundo a petista, o Congresso, dominado por forças malignas que tinham a intenção de criar um “ambiente de impasse propício ao impeachment”, sabotou todas as “reformas” que ela queria aprovar. Ou seja, Dilma teima em não reconhecer que o clima hostil que ela enfrentou no Congresso foi resultado de sua incrível incompetência administrativa, potencializada por descomunal inabilidade política e avassaladora arrogância. Prefere denunciar a ação de “inimigos do povo” contra seu governo.
Finalmente, convidada a dizer quais erros acha que cometeu, Dilma respondeu: “Ah, sei lá”.
Na entrevista, Dilma sugere que seu “legado” é a manutenção de programas sociais, o que estaria sob risco no governo de Michel Temer, instituído como parte de uma conspiração para instalar no Brasil uma “política ultraliberal em economia e conservadora em todo o resto”. A desmontagem da rede de proteção aos mais pobres seria, segundo ela, o objetivo dos “golpistas”. Dilma atribui aos adversários a intenção de fazer o que ela própria já estava realizando na prática: todos os principais programas sociais de seu governo sofreram cortes nos últimos anos, em razão da falta de dinheiro.
Especialista em destruir os fundamentos da economia, Dilma achou-se autorizada a comentar as possíveis medidas do governo Temer para tentar recuperar um pouco da racionalidade econômica que ela abandonou. Dilma disse ser “um absurdo” a possibilidade de que a imposição de um teto para os gastos públicos atinja áreas como educação. Para ela, “abrir mão de investimento nessa área, sob qualquer circunstância, é colocar o Brasil de volta no passado”. Foi esse tipo de pensamento, segundo o qual há gastos que devem ser mantidos “sob qualquer circunstância”, que condenou o Brasil a um déficit público superior a R$ 170 bilhões.
Ainda em seu universo paralelo, Dilma disse que em 2014 ninguém notou que o País já passava por uma crise, embora o descalabro estivesse claro para quem procurou se informar. “Quando é que o pessoal percebeu que tinha uma crise no Brasil, hein? A coisa mais difícil foi descobrir que tinha uma crise no Brasil”, disse ela, desafiando a inteligência alheia de forma grosseira até para seus padrões. Bastaria ler os documentos de análise da economia produzidos regularmente pelo Banco Central para constatar o desastre desde sua formação até o seu fiasco final com o episódio Joaquim Levy. Ela prefere imputar as mazelas da economia em seu governo à desaceleração da China, à queda do preço do petróleo, à seca no Sudeste e a um complô da oposição e de Eduardo Cunha, que, segundo suas palavras, é “a pessoa central do governo Temer”. Ou seja: para Dilma, se Cunha por acaso não existisse, ela ainda estaria na Presidência, e a crise, superada.
“A crise econômica é inevitável”, ensinou Dilma na entrevista. “O que não é inevitável é a combinação danosa entre crise econômica e crise política. O que aconteceu comigo? Houve uma combinação da crise econômica com uma ação política deletéria.” Segundo a petista, o Congresso, dominado por forças malignas que tinham a intenção de criar um “ambiente de impasse propício ao impeachment”, sabotou todas as “reformas” que ela queria aprovar. Ou seja, Dilma teima em não reconhecer que o clima hostil que ela enfrentou no Congresso foi resultado de sua incrível incompetência administrativa, potencializada por descomunal inabilidade política e avassaladora arrogância. Prefere denunciar a ação de “inimigos do povo” contra seu governo.
Finalmente, convidada a dizer quais erros acha que cometeu, Dilma respondeu: “Ah, sei lá”.
PF indicia presidente do Bradesco na Operação Zelotes
Karime Xavier - 6.ago.2015/Folhapress | ||
Presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, foi indiciado dentro da Operação Zelotes |
NATUZA NERY/PAULO GAMA/GABRIEL MASCARENHAS/AGUIRRE TALENTO - FSP
O Ministério Público Federal no Distrito Federal recebeu nesta terça-feira (31) relatório da Polícia Federal que indicia o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, e outras nove pessoas no âmbito da Operação Zelotes, que investiga a venda de sentenças do Carf (conselho administrativo de recursos fiscais).
O Ministério Público Federal no Distrito Federal recebeu nesta terça-feira (31) relatório da Polícia Federal que indicia o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, e outras nove pessoas no âmbito da Operação Zelotes, que investiga a venda de sentenças do Carf (conselho administrativo de recursos fiscais).
O indiciamento da PF aponta os crimes de corrupção passiva, corrupção
ativa, tráfico de influência, organização criminosa e lavagem de
dinheiro.
O Ministério Público ainda avalia o relatório e deve solicitar novas diligências antes de decidir se apresenta ou não denúncia à Justiça por corrupção ativa contra o presidente do banco.
Após a divulgação da notícia, as ações do banco chegaram a cair 5%.
Além de Trabuco, a PF indiciou outros dois executivos do Bradesco: um dos diretores vice-presidentes, Domingos Figueiredo de Abreu, e o diretor gerente e de relações com investidores Luiz Carlos Angelotti. Os demais indiciados seriam ligados ao Carf e ao escritório de consultoria.
A Zelotes suspeita que o banco tenha negociado a contratação de serviços de um escritório que atuava para corromper conselheiros do Carf e livrar ou atenuar multas no órgão.
Em nota, o Bradesco informa que não houve contratação dos serviços oferecido pelo grupo investigado e acrescenta que foi derrotado por 6 votos a 0 no julgamento do Carf.
O Bradesco esclarece ainda que Trabuco não participou de qualquer reunião com o grupo citado.
O mérito do julgamento se refere a ação vencida pelo Bradesco em todas as instâncias da Justiça, em questionamento à cobrança de adicional de PIS/Cofins. Esta ação foi objeto de recurso pela Procuradoria da Fazenda no âmbito do Carf.
O Bradesco irá apresentar seus argumentos juridicamente por meio do seu corpo de advogados.
O Ministério Público ainda avalia o relatório e deve solicitar novas diligências antes de decidir se apresenta ou não denúncia à Justiça por corrupção ativa contra o presidente do banco.
Após a divulgação da notícia, as ações do banco chegaram a cair 5%.
Além de Trabuco, a PF indiciou outros dois executivos do Bradesco: um dos diretores vice-presidentes, Domingos Figueiredo de Abreu, e o diretor gerente e de relações com investidores Luiz Carlos Angelotti. Os demais indiciados seriam ligados ao Carf e ao escritório de consultoria.
A Zelotes suspeita que o banco tenha negociado a contratação de serviços de um escritório que atuava para corromper conselheiros do Carf e livrar ou atenuar multas no órgão.
Em nota, o Bradesco informa que não houve contratação dos serviços oferecido pelo grupo investigado e acrescenta que foi derrotado por 6 votos a 0 no julgamento do Carf.
O Bradesco esclarece ainda que Trabuco não participou de qualquer reunião com o grupo citado.
O mérito do julgamento se refere a ação vencida pelo Bradesco em todas as instâncias da Justiça, em questionamento à cobrança de adicional de PIS/Cofins. Esta ação foi objeto de recurso pela Procuradoria da Fazenda no âmbito do Carf.
O Bradesco irá apresentar seus argumentos juridicamente por meio do seu corpo de advogados.
Operação Hipócritas: PF cumpre 4 mandados de prisão em ação contra fraudes em perícia médica
Segundo as investigações, médicos recebiam propina de empresas para forjarem laudos favoráveis a elas em ações trabalhistas
Segundo as investigações, médicos recebiam propina de empresas para forjarem laudos favoráveis a elas em ações trabalhistas
Eduardo Gonçalves - VEJA
PF também cumpre 40 mandados de condução coercitiva(Vagner Rosário/VEJA.com)
A
Polícia Federal cumpre nesta terça-feira quatro mandados de prisão
preventiva e 40 de condução coercitiva de suspeitos de envolvimento com
um esquema de fraude de perícias médicas em São Paulo e Campinas (SP).
Segundo as apurações, médicos recebiam propina de empresas para forjarem
laudos favoráveis a elas em ações trabalhistas. A operação, batizada de
Hipócritas, é fruto de investigação do Ministério Público Federal com
base em uma denúncia do Sindicato dos Metalúrgicos e da representação de
um juiz do interior paulista.
Os pagamentos indevidos eram intermediados por escritórios de
advocacia contratados pelas companhias. As fraudes implicavam em perdas
para trabalhadores afastados por doenças ou acidentes de trabalho, de
acordo com as investigações. Segundo a procuradoria, o esquema
funcionava pelo menos desde 2010 e foi descoberto em ações que tramitam
nas varas do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, em Campinas, e
no da 2ª Região, em São Paulo. O MPF informou que, entre as empresas
envolvidas, estão multinacionais e gigantes do setor automobilístico.
A operação investiga a ocorrência de crimes de falsa perícia, corrupção de perito judicial, corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro. Em um dos casos, os procuradores identificaram suspeitas de que um médico perito recebeu ou pediu propina em mais de 100 perícias que estiveram sob a sua alçada. Em outro, o médico deu um parecer eximindo a empresa da responsabilidade pela morte de um funcionário. Segundo a procuradoria, o laudo era tão discrepante que chegou a ser rejeitado pelo juiz.
Os médicos peritos são contratados pelos tribunais, sem a realização de concurso, para apresentarem a sua opinião técnica sobre ações movidas pelos trabalhadores por danos à saúde. Geralmente, os magistrados seguem o parecer dos médicos técnicos para tomar as suas decisões.
"Nós começamos a perceber que um mesmo perito atuava em casos com a mesma empresa. E vimos que era recorrente que as perícias eram sempre positivas para a empresa e negativas para o trabalhador. De 105 casos, apenas um foi favorável ao operário", afirmou o presidente do sindicato dos metalúrgicos de Campinas Sidalino Orsi Júnior, um dos autores da denúncia que baseou a operação.
O nome da operação é uma referência ao grego Hipócrates (460 a.C.-375 a.C.), considerado o pai da medicina ocidental, cujo célebre juramento impõe aos médicos o exercício da profissão com consciência e dignidade, tendo a saúde dos pacientes como a primeira preocupação.
A operação investiga a ocorrência de crimes de falsa perícia, corrupção de perito judicial, corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro. Em um dos casos, os procuradores identificaram suspeitas de que um médico perito recebeu ou pediu propina em mais de 100 perícias que estiveram sob a sua alçada. Em outro, o médico deu um parecer eximindo a empresa da responsabilidade pela morte de um funcionário. Segundo a procuradoria, o laudo era tão discrepante que chegou a ser rejeitado pelo juiz.
Os médicos peritos são contratados pelos tribunais, sem a realização de concurso, para apresentarem a sua opinião técnica sobre ações movidas pelos trabalhadores por danos à saúde. Geralmente, os magistrados seguem o parecer dos médicos técnicos para tomar as suas decisões.
"Nós começamos a perceber que um mesmo perito atuava em casos com a mesma empresa. E vimos que era recorrente que as perícias eram sempre positivas para a empresa e negativas para o trabalhador. De 105 casos, apenas um foi favorável ao operário", afirmou o presidente do sindicato dos metalúrgicos de Campinas Sidalino Orsi Júnior, um dos autores da denúncia que baseou a operação.
O nome da operação é uma referência ao grego Hipócrates (460 a.C.-375 a.C.), considerado o pai da medicina ocidental, cujo célebre juramento impõe aos médicos o exercício da profissão com consciência e dignidade, tendo a saúde dos pacientes como a primeira preocupação.
A Complicação como método ideológico
Lucas de Moura Lima - IL
Todas as coisas, se postas à luz, distribuídas com equilíbrio e observadas de forma serena, apresentar-se-ão tais quais são, ao menos com o máximo de verdade que se pode obter numa esfera humana. A Verdade está sempre associada à luz, ao desatar de nós e à contemplação imparcial.
Lucas de Moura Lima - IL
Todas as coisas, se postas à luz, distribuídas com equilíbrio e observadas de forma serena, apresentar-se-ão tais quais são, ao menos com o máximo de verdade que se pode obter numa esfera humana. A Verdade está sempre associada à luz, ao desatar de nós e à contemplação imparcial.
Dito isto, e usando este critério, todo sistema de ideias que seja
simples, claro e objetivo, está do lado da Verdade, ou ao menos se pode
dizer que está “no caminho certo”. E, por outro lado, todo sistema que
seja confuso, hermético e complicado, tende a estar do lado da Mentira.
A marca histórica da esquerda é a falta de clareza. Claro, pois para justificar um sistema de crenças que não funciona, é esperado que as assertivas não pudessem ser facilmente analisadas ou refutadas, esperando-se do discípulo apenas a fé no que o mestre diz. Assim, não só disciplinas típicas da esquerda, como a Sociologia e a História, mas todas as outras são absorvidas em seu aspecto heterodoxo, para ser útil à agenda esquerdista.
Vejamos alguns exemplos de complicações oportunas:
Um time de filósofos se empenhou, alguns talvez inconscientemente, nessa missão. Cito como exemplos a Escola de Frankfurt, tendo como representantes ilustres Adorno, Horkheimer e Habermas, retomando Marx, Hegel e outros anteriores, agora em termos mais atuais e adequados à nova geração. A França contribuiu bastante, com Sartre, Foucault, Derrida, Deleuze, Guattari e outros. As obras Pensadores da Nova Esquerda, de Roger Scruton, e Imposturas Intelectuais, de Sokal, dão conta de explicar o fenômeno.
Dada a competência literária de alguns desses filósofos, como Foucault e Deleuze, o que temos é um desfile de conceitos imprecisos, conclusões ilógicas e projeção de vivências impossíveis, ao lado da beleza da escrita, da menção apaixonada de passagens literárias, cinematográficas e filosóficas, com grande pirotecnia erudita e mistura de fatos e sentenças verdadeiras no caldo mentiroso da teoria. O poder de sedução é real, fisgando o leitor incauto.
O interesse se volta, portanto, para a física quântica e ramos associados. A física quântica, através de extrapolações indevidas de descobertas de cientistas como Einstein, Heisenberg, Schrödinger, Planck e outros, ganhou a fama de ser o ramo científico onde “tudo pode”. Estar em dois lugares ao mesmo tempo, ser e não ser, teletransporte, telepatia, o mundo como um sonho, o nada que é tudo, enfim, uma espécie de “liberou geral” da ciência, contrário à física newtoniana, e que certamente não seria autorizado pelos físicos quânticos, os quais eram sérios.
E por que o interesse da esquerda na física quântica? Porque “harmoniza” com o uso de drogas, com a ideia de que o indivíduo é uma ilusão, criando uma justificativa racional para a irresponsabilidade e o ateísmo. Ambos os resultados bem úteis e “capitalizados” pelo movimento revolucionário.
A obscuridade vem de não sabermos exatamente, na enxurrada de informações, de onde vêm as tabelas, as conclusões, quais os métodos usados pelo IBGE etc. Dizem disponibilizar, mas não é simples achar. E se sabe da ingerência em órgãos de estatística por governos autoritários, como constatado pela revista The Economist, em relação à Argentina, no artigo Wrong Numbers (2013).
Na televisão, usa-se o dado, por exemplo, em relação: 1) ao mês passado 2) ao mesmo período do ano passado 3) ao desenvolvimento no trimestre 4) ao acumulado no ano 5) à série histórica dos últimos 3, ou 5, ou 10 anos. Isto dependendo do que se quer provar e do interesse de dar informação “positiva” ou “negativa”. Parte-se do resultado para a pergunta, quando deveria ser o contrário.
O resultado todos conhecem bem, em especial no Brasil: aumento do gasto público e desenvolvimentismo. Todas aquelas elegantes variáveis dispostas num arranjo indecifrável levam ao populismo. Claro, contas devem ser feitas, mas podem muito bem ser claras e resumidas. De nada adianta termos derivadas e integrais, se não sabemos somar, fato que se infere das propostas legislativas irracionais e déficit fiscal insolúvel.
A grande qualidade da Escola Austríaca foi retomar a “simplicidade” dos primeiros economistas liberais, os quais, em grande parte, eram também filósofos. O autor de Riqueza das Nações, Adam Smith, um dos pais do liberalismo clássico, por exemplo, foi também autor de Teoria dos Sentimentos Morais.
O alerta de Hayek em Desemprego e Política Monetária permanece atual. Expressa que prefere “o conhecimento imperfeito, mas verdadeiro – mesmo que ele traga, necessariamente, considerável dose de indeterminação e incapacidade de previsão – a um pretenso conhecimento exato, mas provavelmente falso”. Bertrand Russell também nos diz na obra Os Problemas da Filosofia que “as verdades da lógica e da matemática têm (grosso modo) menos evidência à medida que se tornam mais complexas”.
O Ocidente começa com a simplicidade das perguntas de Sócrates, que pedia que “os que sabem” dissessem o que, de fato, sabem. Devemos retomar isto. Quando um filósofo, estatístico, físico ou economista disser algo impenetrável e sem sentido, devemos dizer “não entendi, explique melhor”. Sem medo do ridículo, o que causará pânico entre os esquerdistas. Estejam alertas!
A marca histórica da esquerda é a falta de clareza. Claro, pois para justificar um sistema de crenças que não funciona, é esperado que as assertivas não pudessem ser facilmente analisadas ou refutadas, esperando-se do discípulo apenas a fé no que o mestre diz. Assim, não só disciplinas típicas da esquerda, como a Sociologia e a História, mas todas as outras são absorvidas em seu aspecto heterodoxo, para ser útil à agenda esquerdista.
Vejamos alguns exemplos de complicações oportunas:
- Filosofia
Um time de filósofos se empenhou, alguns talvez inconscientemente, nessa missão. Cito como exemplos a Escola de Frankfurt, tendo como representantes ilustres Adorno, Horkheimer e Habermas, retomando Marx, Hegel e outros anteriores, agora em termos mais atuais e adequados à nova geração. A França contribuiu bastante, com Sartre, Foucault, Derrida, Deleuze, Guattari e outros. As obras Pensadores da Nova Esquerda, de Roger Scruton, e Imposturas Intelectuais, de Sokal, dão conta de explicar o fenômeno.
Dada a competência literária de alguns desses filósofos, como Foucault e Deleuze, o que temos é um desfile de conceitos imprecisos, conclusões ilógicas e projeção de vivências impossíveis, ao lado da beleza da escrita, da menção apaixonada de passagens literárias, cinematográficas e filosóficas, com grande pirotecnia erudita e mistura de fatos e sentenças verdadeiras no caldo mentiroso da teoria. O poder de sedução é real, fisgando o leitor incauto.
- Física
O interesse se volta, portanto, para a física quântica e ramos associados. A física quântica, através de extrapolações indevidas de descobertas de cientistas como Einstein, Heisenberg, Schrödinger, Planck e outros, ganhou a fama de ser o ramo científico onde “tudo pode”. Estar em dois lugares ao mesmo tempo, ser e não ser, teletransporte, telepatia, o mundo como um sonho, o nada que é tudo, enfim, uma espécie de “liberou geral” da ciência, contrário à física newtoniana, e que certamente não seria autorizado pelos físicos quânticos, os quais eram sérios.
E por que o interesse da esquerda na física quântica? Porque “harmoniza” com o uso de drogas, com a ideia de que o indivíduo é uma ilusão, criando uma justificativa racional para a irresponsabilidade e o ateísmo. Ambos os resultados bem úteis e “capitalizados” pelo movimento revolucionário.
- Estatística
A obscuridade vem de não sabermos exatamente, na enxurrada de informações, de onde vêm as tabelas, as conclusões, quais os métodos usados pelo IBGE etc. Dizem disponibilizar, mas não é simples achar. E se sabe da ingerência em órgãos de estatística por governos autoritários, como constatado pela revista The Economist, em relação à Argentina, no artigo Wrong Numbers (2013).
Na televisão, usa-se o dado, por exemplo, em relação: 1) ao mês passado 2) ao mesmo período do ano passado 3) ao desenvolvimento no trimestre 4) ao acumulado no ano 5) à série histórica dos últimos 3, ou 5, ou 10 anos. Isto dependendo do que se quer provar e do interesse de dar informação “positiva” ou “negativa”. Parte-se do resultado para a pergunta, quando deveria ser o contrário.
- Economia
O resultado todos conhecem bem, em especial no Brasil: aumento do gasto público e desenvolvimentismo. Todas aquelas elegantes variáveis dispostas num arranjo indecifrável levam ao populismo. Claro, contas devem ser feitas, mas podem muito bem ser claras e resumidas. De nada adianta termos derivadas e integrais, se não sabemos somar, fato que se infere das propostas legislativas irracionais e déficit fiscal insolúvel.
A grande qualidade da Escola Austríaca foi retomar a “simplicidade” dos primeiros economistas liberais, os quais, em grande parte, eram também filósofos. O autor de Riqueza das Nações, Adam Smith, um dos pais do liberalismo clássico, por exemplo, foi também autor de Teoria dos Sentimentos Morais.
O alerta de Hayek em Desemprego e Política Monetária permanece atual. Expressa que prefere “o conhecimento imperfeito, mas verdadeiro – mesmo que ele traga, necessariamente, considerável dose de indeterminação e incapacidade de previsão – a um pretenso conhecimento exato, mas provavelmente falso”. Bertrand Russell também nos diz na obra Os Problemas da Filosofia que “as verdades da lógica e da matemática têm (grosso modo) menos evidência à medida que se tornam mais complexas”.
O Ocidente começa com a simplicidade das perguntas de Sócrates, que pedia que “os que sabem” dissessem o que, de fato, sabem. Devemos retomar isto. Quando um filósofo, estatístico, físico ou economista disser algo impenetrável e sem sentido, devemos dizer “não entendi, explique melhor”. Sem medo do ridículo, o que causará pânico entre os esquerdistas. Estejam alertas!
O estupro, a histeria coletiva, o sociologismo vagabundo e as distorções da militância de gênero
Sou adepto da frase “meu corpo, minhas regras”. É evidente que uma mulher tem o direito de dizer “não” em qualquer circunstância, e isso inclui interromper o ato caso tenha mudado de ideia. Não há razão que justifique o sexo forçado. Ponto
Sou adepto da frase “meu corpo, minhas regras”. É evidente que uma mulher tem o direito de dizer “não” em qualquer circunstância, e isso inclui interromper o ato caso tenha mudado de ideia. Não há razão que justifique o sexo forçado. Ponto
Reinaldo Azevedo - VEJA
Olhem,
caras e caros, não vou entrar no mérito se houve ou não estupro
coletivo de uma adolescente de 16 anos no Complexo de Favelas São José
Operário, na Zona Oeste do Rio. Até porque, a esta altura, ainda que as
provas gritassem o contrário, seria proibido chegar a uma conclusão
diferente daquela a que já chegaram a imprensa, a militância de gênero e
a histeria politicamente correta. O vídeo sugere que um grupo de homens
manipula o corpo de uma mulher que não parece ter controle de si. Para a
Lei 12.015, de 2009, basta. É estupro. Que os culpados sejam punidos.
Mas não dá para aceitar a punição, ainda que moral e simbólica, dos não
culpados: todos os outros homens. Explico.
Alheios a
quaisquer circunstâncias e mesmo a algumas inconsistências da narrativa,
os grupos militantes saíram tonitruando por aí que a ocorrência — que
ainda precisa ser apurada — era mais uma manifestação de uma certa
cultura do estupro que existiria no Brasil.
A ministra
Cármen Lúcia, do STF, em nota, chegou a escrever: “Repito: a nós
mulheres não cabe perguntar quem é a vítima: é cada uma e todas nós”. É o
tipo de texto perigoso. Porque, de algum modo, joga todos os homens do
outro lado da linha. Ainda que a ministra tenha dito que a ocorrência
avilta todos os humanos, é evidente que se dá um peso especial à questão
de gênero.
Ocorre que
esta acaba mais mascarando do que desvelando a realidade. Digam-me aqui:
sob o controle do narcotráfico, os direitos das mulheres são os únicos
agravados no Complexo de Favelas São José Operário? A resposta,
obviamente, é não! Por lá, não se respeita é direito nenhum. Afirmar que
tal ocorrência revela a existência no país de uma cultura do estupro é
de uma estupidez inominável. Até parece que há uma naturalização de tal
crime no país e que sua gravidade não está devidamente assentada na
consciência da maioria dos brasileiros. Então vamos pensar um pouco.
As
notificações de estupro cresceram enormemente depois de 2009, o que
coincide com a aprovação da Lei 12.015, uma pérola da militância
feminista. Considera-se estupro não apenas a violência caracterizada
como tal como qualquer ato libidinoso não consentido. É evidente que se
trata de um desserviço à verdade e às próprias mulheres. Afinal, isso
serve para mascarar as circunstâncias em que os estupradores de fato
agem. Mas deixo isso de lado agora.
Por ano, com
a nova lei, os estupros saltaram para algo em torno de 47 mil no país. É
claro que é um número absurdo, ainda que parte das notificações seja
constituída dos tais atos libidinosos. Mas será isso, então, a evidência
da “cultura do estupro”?
Venham cá:
há, em média, 53 mil assassinatos por ano no Brasil, mais de 80% das
vítimas são homens. Será que se pode falar que há, também, em nosso
país, uma “cultura do assassinato de homens”?
Para que o
evento do Complexo de Favelas São José Operário pudesse ser expressão de
uma cultura, forçoso seria que, no Brasil, mulheres não pudessem, em
regra, ficar em ambientes masculinos, pouco importando variáveis outras —
econômicas, sociais, culturais — sem que corressem o risco de ser
estupradas. E isso me parece escandalosamente falso. Como é falso
afirmar que a taxa de homicídios de Moema é igual à do Capão Redondo
porque, afinal, há no Brasil uma “cultura do assassinato”.
Assim como
as variáveis socioeconômicas interferem na ocorrência dos demais crimes —
são maiores onde vigora a lei do cão; onde falta o estado necessário —,
é evidente que também deixam o seu viés nesse tipo de ocorrência. Ou o
tal estupro coletivo não se deu num ambiente em que se misturam droga,
narcotráfico, escolhas individuais perigosas e ausência de estado de
direito?
Repudio essa
bobagem de cultura de estupro porque isso tende a mascarar as duas
questões que realmente contam: 1) as condições socioeconômico-culturais
em que um episódio como aquele se torna possível; 2) as
responsabilidades individuais. Tendo havido estupro, foram aqueles
rapazes os estupradores. Os demais homens não têm nada com isso.
Que se apure
tudo. A história dos 33 estupradores me parece, em princípio,
fantasiosa. Não cabiam tantos naquele quarto. Não me parece que a vítima
estivesse em condições de ser precisa para enumerar as personagens de
um eventual revezamento. Indago: e se, no grupo, de cinco, 10 ou 30,
houver menores? A militância de gênero abre mão de uma punição mais
severa em nome do Estatuto da Criança e do Adolescente, que, obviamente,
protege também os estupradores?
E notem:
nesse caso, sou adepto da frase “meu corpo, minhas regras”. É evidente
que uma mulher tem o direito de dizer “não” em qualquer circunstância, e
isso inclui interromper o ato caso tenha mudado de ideia. Não há razão
que justifique o sexo forçado. Ponto. Ainda que a tal garota, como se
especula, tivesse aceitado fazer sexo com dois ou três, isso não daria a
outros a licença de participar se isso não fosse da sua vontade. Eu
escrevo para indivíduos, não para militantes.
Todos
sairíamos ganhando enormemente se houvesse mais respeito pelas vítimas,
em vez de transformá-las em estandartes e em símbolos de luta. Acho isso
de um oportunismo asqueroso. Um grupo de pessoas que foi protestar em
frente ao Supremo — e, até agora, não entendi por quê — e aproveitou
para gritar palavras de ordem contra… Michel Temer. O que uma coisa tem a
ver com outra? Ora, afinal, este é o país que depôs uma mulher, não é?
Não faltará quem veja nisso também uma metáfora do estupro — no caso,
estupro político. Ainda que tal evento tenha vindo na esteira da maior
roubalheira jamais praticada no país. E é evidente que seria um erro
afirmar que Dilma nos conduziu ao desastre porque é mulher.
As
militâncias dos grupelhos nunca estão interessadas pelos que sofrem.
Estes só têm importância se as ocorrências puderem ajudar a causa da
“libertação”. Qual libertação? Qualquer uma, desde que seja contra o
statu quo. Cresceu enormemente o número de estupros na Alemanha com a
chegada dos imigrantes islâmicos. A imprensa de esquerda escondeu as
ocorrências porque, concluiu-se, isso poderia gerar uma onda de
preconceitos.
Por que digo
isso? O que estou evidenciando é que a questão do estupro pode ser
“esquentada” ou “esfriada” a depender da intenção política que se tenha e
da eficiência do ativismo dos grupos que decidem fazer uma coisa ou
fazer outra.
Que os
culpados sejam punidos segundo os rigores da lei. Mas vamos parar com
essa conversa estúpida de que este é um país de potenciais estupradores.
A ser assim, também é um país de potenciais homicidas.
Ah, sim: se a
polícia conseguir, conviria ao menos investigar o que se deu naquele
dia. É o que se deve fazer quando acontece qualquer crime.
Relator entrega ao Conselho de Ética voto pela cassação de Cunha
RANIER BRAGON - FSP
O deputado Marcos Rogério entregou na manhã desta terça-feira (31) ao Conselho de Ética da Câmara o relatório e o seu voto sugerindo a cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi afastado do cargo e do mandato no dia 5 pelo Supremo Tribunal Federal.
RANIER BRAGON - FSP
O deputado Marcos Rogério entregou na manhã desta terça-feira (31) ao Conselho de Ética da Câmara o relatório e o seu voto sugerindo a cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi afastado do cargo e do mandato no dia 5 pelo Supremo Tribunal Federal.
O documento foi recebido pelo presidente do órgão, José Carlos Araújo
(PR-BA), que deve marcar sessão de leitura ainda nesta semana.
O voto de Rogério ficará lacrado até a sessão do Conselho, mas a Folha apurou com integrantes do colegiado que ele pede a cassação de Cunha com base no argumento principal de que ele mentiu à CPI da Petrobras quando, em 2015, negou ter "qualquer tipo de conta" no exterior.
Apesar de estar impedido pela presidência da Câmara de incluir como motivo de cassação a acusação de que Cunha recebeu propina no petrolão, Rogério não deixará o tema de fora de seu voto.
Ele argumentará que as contas vinculadas a Cunha da Suíça foram omitidas por terem sido, segundo as investigações da Procuradoria-Geral da República, abastecidas em parte com recursos oriundos do esquema de corrupção na Petrobras.
Aliados de Cunha trabalham para a aplicação de uma punição branda ao peemedebista, como a suspensão de suas prerrogativas parlamentares. Eles dizem ter maioria dos votos nesse sentido no Conselho, que é composto por 21 integrantes e que, em março, aprovou a continuidade da investigação contra Cunha por margem mínima, 11 votos a 10.
Desde então, aliados do presidente afastado da Câmara promoveram troca de cadeiras no Conselho. Eles pressionam a deputada Tia Eron (BA), do PRB de Celso Russomanno (SP) e novata no colegiado, a votar a favor de Cunha.
A votação no Conselho deve acontecer ainda na primeira quinzena de junho, caso não haja reviravoltas. Uma possível é a anulação de parte do trabalho do Conselho pelo presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), aliado de Cunha e que já deu decisões favorecendo o peemedebista.
Após a votação no Conselho, o caso de Cunha pode seguir para o plenário da Câmara (há dúvida sobre se isso ocorrerá caso o Conselho aprove apenas uma punição branda). Caso chegue ao plenário, Cunha só perde o mandato se pelo menos 257 dos seus 512 colegas votarem nesse sentido.
O deputado foi afastado do cargo e do mandato por, segundo os ministros do Supremo Tribunal Federal, usar seu poder legislativo para barrar as investigações da Lava Jato e o processo na Câmara. Cunha é réu no Supremo e é alvo de denúncia, inquéritos e pedidos de inquérito sob a acusação de integrar o petrolão.
Ele nega todas as acusações, inclusive a de que tem contas no exterior (ele diz ter doado o dinheiro para trusts, administradoras de bens e direitos de terceiros). E afirma que o Conselho tem cometido uma série de irregularidades formais em seu processo.
O voto de Rogério ficará lacrado até a sessão do Conselho, mas a Folha apurou com integrantes do colegiado que ele pede a cassação de Cunha com base no argumento principal de que ele mentiu à CPI da Petrobras quando, em 2015, negou ter "qualquer tipo de conta" no exterior.
Apesar de estar impedido pela presidência da Câmara de incluir como motivo de cassação a acusação de que Cunha recebeu propina no petrolão, Rogério não deixará o tema de fora de seu voto.
Ele argumentará que as contas vinculadas a Cunha da Suíça foram omitidas por terem sido, segundo as investigações da Procuradoria-Geral da República, abastecidas em parte com recursos oriundos do esquema de corrupção na Petrobras.
Aliados de Cunha trabalham para a aplicação de uma punição branda ao peemedebista, como a suspensão de suas prerrogativas parlamentares. Eles dizem ter maioria dos votos nesse sentido no Conselho, que é composto por 21 integrantes e que, em março, aprovou a continuidade da investigação contra Cunha por margem mínima, 11 votos a 10.
Desde então, aliados do presidente afastado da Câmara promoveram troca de cadeiras no Conselho. Eles pressionam a deputada Tia Eron (BA), do PRB de Celso Russomanno (SP) e novata no colegiado, a votar a favor de Cunha.
A votação no Conselho deve acontecer ainda na primeira quinzena de junho, caso não haja reviravoltas. Uma possível é a anulação de parte do trabalho do Conselho pelo presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), aliado de Cunha e que já deu decisões favorecendo o peemedebista.
Após a votação no Conselho, o caso de Cunha pode seguir para o plenário da Câmara (há dúvida sobre se isso ocorrerá caso o Conselho aprove apenas uma punição branda). Caso chegue ao plenário, Cunha só perde o mandato se pelo menos 257 dos seus 512 colegas votarem nesse sentido.
O deputado foi afastado do cargo e do mandato por, segundo os ministros do Supremo Tribunal Federal, usar seu poder legislativo para barrar as investigações da Lava Jato e o processo na Câmara. Cunha é réu no Supremo e é alvo de denúncia, inquéritos e pedidos de inquérito sob a acusação de integrar o petrolão.
Ele nega todas as acusações, inclusive a de que tem contas no exterior (ele diz ter doado o dinheiro para trusts, administradoras de bens e direitos de terceiros). E afirma que o Conselho tem cometido uma série de irregularidades formais em seu processo.
A multiplicação de patetas
De Sarney a Lula, de Dilma a Renan, o que choca é a naturalidade da conivência, o ambiente de cumplicidade, a consciência de ilícitos, sem lembrança do interesse público
José Casado - O Globo
A conversa ganhou um tom confessional:
— O Michel, presidente... Eu contribuí pro Michel.
— Hum...
— Não quero nem que o senhor comente com o Renan. Eu contribuí pro Michel pra candidatura do menino... Falei com ele até num lugar inapropriado... na Base Aérea.
— Mas alguém sabe que você me ajudou?
— Não, sabe não. Ninguém sabe, presidente.
Com oito décadas e meia de vida, seis delas dedicadas ao artesanato da imagem de raposa política, o ex-presidente José Sarney conversou com o aliado Sérgio Machado com a naturalidade de quem se imagina com poder de influir sobre ministros do Supremo ou qualquer magistrado. Efeito, talvez, de meio século de interferências em indicações, promoções e remoções de juízes.
Na intimidade caseira, assentado na longa convivência e conivência com Machado, sentiu-se confortável para confessar a “ajuda” secreta do ex-presidente da Transpetro, que sabia estar sob investigação por corrupção em negócios feitos durante uma década no grupo Petrobras.
Trombou no gravador ambulante e, pela própria voz, colocou-se sob suspeitas. A “contribuição” sigilosa e outras transações agora devem ser expostas pelo mais novo “colaborador do complexo investigatório denominado Caso Lava-Jato” — identificação de Machado no acordo recém-homologado pelo juiz Teori Zavascki.
Hipocondríaco, Sarney procurava um elixir político, como também faziam Lula, Dilma Rousseff, Renan Calheiros, Romero Jucá e outros do PT, PMDB, PP e PSDB. Lula, por exemplo, começara o ano mobilizando sua tropa aliada no Congresso para modificar a essência das leis sobre colaboração de pessoas físicas e empresas. A origem delas remonta a abril de 1989 na Câmara, na comissão criada por iniciativa de Miro Teixeira, com participação de Michel Temer, relator, do então deputado Sigmaringa Seixas, hoje advogado de Lula, e José Genoino, ex-presidente do PT.
Lula, com a mesma singeleza de Sarney, julga decisivo o seu seu poder de influência. Na manhã de segunda-feira, 7 de março, por exemplo, queixava-se ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, dos “meninos” do Ministério Público: “Eles se sentem enviados de Deus”. Paes concordou: “Os caras do Ministério Público são crentes, né?”. Lula reforçou: “É uma coisa absurda (...) Eu acho que eu sou a chance que esse país tem de brigar com eles pra tentar colocá-los no seu devido lugar. Ou seja, nós criamos instituições sérias, mas tem que ter limites, tem que ter regras...” Antes de dormir, falou ao advogado Sigmaringa Seixas de sua frustração com Rodrigo Janot. Lula entendia que ele tinha um dever a cumprir, a genuflexão em agradecimento por nomeá-lo procurador-geral da República: “Essa é a gratidão... Essa é a gratidão dele por ele ser procurador” — lamentou.
De Sarney a Lula, de Dilma a Jucá e Renan, os grampos escandalizam porque expõem o modo arcaico de se fazer política no Brasil. Há delitos previstos no Código Penal. Chocante, porém, é a naturalidade da conivência, o ambiente de cumplicidade, a consciência de ilícitos dos agentes públicos. É notável que os diálogos gravados não contenham sequer resquícios de lembrança do interesse público, ou mesmo referências à honestidade. Convergem na intenção de “acabar” com as investigações, em autodefesa. Talvez seja o milagre da multiplicação de patetas.
De Sarney a Lula, de Dilma a Renan, o que choca é a naturalidade da conivência, o ambiente de cumplicidade, a consciência de ilícitos, sem lembrança do interesse público
José Casado - O Globo
A conversa ganhou um tom confessional:
— O Michel, presidente... Eu contribuí pro Michel.
— Hum...
— Não quero nem que o senhor comente com o Renan. Eu contribuí pro Michel pra candidatura do menino... Falei com ele até num lugar inapropriado... na Base Aérea.
— Mas alguém sabe que você me ajudou?
— Não, sabe não. Ninguém sabe, presidente.
Com oito décadas e meia de vida, seis delas dedicadas ao artesanato da imagem de raposa política, o ex-presidente José Sarney conversou com o aliado Sérgio Machado com a naturalidade de quem se imagina com poder de influir sobre ministros do Supremo ou qualquer magistrado. Efeito, talvez, de meio século de interferências em indicações, promoções e remoções de juízes.
Na intimidade caseira, assentado na longa convivência e conivência com Machado, sentiu-se confortável para confessar a “ajuda” secreta do ex-presidente da Transpetro, que sabia estar sob investigação por corrupção em negócios feitos durante uma década no grupo Petrobras.
Trombou no gravador ambulante e, pela própria voz, colocou-se sob suspeitas. A “contribuição” sigilosa e outras transações agora devem ser expostas pelo mais novo “colaborador do complexo investigatório denominado Caso Lava-Jato” — identificação de Machado no acordo recém-homologado pelo juiz Teori Zavascki.
Hipocondríaco, Sarney procurava um elixir político, como também faziam Lula, Dilma Rousseff, Renan Calheiros, Romero Jucá e outros do PT, PMDB, PP e PSDB. Lula, por exemplo, começara o ano mobilizando sua tropa aliada no Congresso para modificar a essência das leis sobre colaboração de pessoas físicas e empresas. A origem delas remonta a abril de 1989 na Câmara, na comissão criada por iniciativa de Miro Teixeira, com participação de Michel Temer, relator, do então deputado Sigmaringa Seixas, hoje advogado de Lula, e José Genoino, ex-presidente do PT.
Lula, com a mesma singeleza de Sarney, julga decisivo o seu seu poder de influência. Na manhã de segunda-feira, 7 de março, por exemplo, queixava-se ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, dos “meninos” do Ministério Público: “Eles se sentem enviados de Deus”. Paes concordou: “Os caras do Ministério Público são crentes, né?”. Lula reforçou: “É uma coisa absurda (...) Eu acho que eu sou a chance que esse país tem de brigar com eles pra tentar colocá-los no seu devido lugar. Ou seja, nós criamos instituições sérias, mas tem que ter limites, tem que ter regras...” Antes de dormir, falou ao advogado Sigmaringa Seixas de sua frustração com Rodrigo Janot. Lula entendia que ele tinha um dever a cumprir, a genuflexão em agradecimento por nomeá-lo procurador-geral da República: “Essa é a gratidão... Essa é a gratidão dele por ele ser procurador” — lamentou.
De Sarney a Lula, de Dilma a Jucá e Renan, os grampos escandalizam porque expõem o modo arcaico de se fazer política no Brasil. Há delitos previstos no Código Penal. Chocante, porém, é a naturalidade da conivência, o ambiente de cumplicidade, a consciência de ilícitos dos agentes públicos. É notável que os diálogos gravados não contenham sequer resquícios de lembrança do interesse público, ou mesmo referências à honestidade. Convergem na intenção de “acabar” com as investigações, em autodefesa. Talvez seja o milagre da multiplicação de patetas.
Lula não vai preso? Por que Lula ainda não foi preso? Quando Lula será preso?
A população se faz cotidianamente essas perguntas; deputado assumidamente corrupto diz que Lula sabia de tudo e era o chefe
A população se faz cotidianamente essas perguntas; deputado assumidamente corrupto diz que Lula sabia de tudo e era o chefe
Reinaldo Azevedo - VEJA
De
muito longe, a notícia mais importante do dia são os detalhes que vieram
a público da delação do ex-deputado Pedro Correia (PP). Ele confirma
duas coisas que este blog sempre assegurou:
a: não existe diferença entre mensalão e petrolão;
b: Lula sempre soube de tudo e esteve no comando das negociações.
b: Lula sempre soube de tudo e esteve no comando das negociações.
Correa
conta que era um dos membros de um tal Conselho Político criado por
Lula, que reunia o então presidente, os ministros Antonio Palocci e José
Dirceu e presidentes de partidos da base aliada.
Ali se via
a agenda do Congresso e cada um expunha as “dificuldades” que teriam
com suas respectivas bases. Lula então encarregava Dirceu de, sob sua
supervisão, forçar os dirigentes das estatais e dos órgãos públicos a
satisfazer os apetites dos partidos. Ou por outra: ali se combinava o
pagamento de propina.
Em seu depoimento, disse Corrêa:
“O presidente Lula encarregava o ministro José Dirceu de fazer as cobranças sobre os dirigentes para que atendessem, com mais presteza às solicitações dos partidos. Em alguns setores as reivindicações eram de arrecadação de propina e, em outros, de interesses políticos, visando o favorecimento dos estados e municípios dos parlamentares.”
“O presidente Lula encarregava o ministro José Dirceu de fazer as cobranças sobre os dirigentes para que atendessem, com mais presteza às solicitações dos partidos. Em alguns setores as reivindicações eram de arrecadação de propina e, em outros, de interesses políticos, visando o favorecimento dos estados e municípios dos parlamentares.”
Em nota, obviamente, o Instituto Lula nega tudo.
Por que não está preso?
Aonde quer que eu vá, as pessoas me procuram para perguntar quando Lula será preso, se será ou por que não é preso. É uma indagação justa.
Aonde quer que eu vá, as pessoas me procuram para perguntar quando Lula será preso, se será ou por que não é preso. É uma indagação justa.
É claro
que uma prisão tem de estar ancorada em provas, em evidências
inquestionáveis de envolvimento com um crime, e Lula não é exatamente
burro.
Mas os
mortais têm todo o direito de achar que é impossível que ele não
soubesse do mensalão e do petrolão. A razão é simples: nada se decide no
partido ainda hoje que não passe por ele. O homem bate o martelo até
sobre quem vai e quem não vai ser candidato pelo partido.
Inferir
que não sabia de dois baita esquemas de corrupção operados por sua
legenda, que tinham como um dos objetivos manter unida a “base aliada”,
corresponde a fazer pouco da nossa inteligência.
A notícia
está gerando pouco barulho. O momento, agora, é de caçada a Michel
Temer. Há um casamento entre setores radicalizados do PT, incrustados na
máquina pública, e petistas infiltrados na imprensa para inviabilizar o
novo governo.
O objetivo
explícito é devolver Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto. E isso
implica esquecer por que diabos o PT acabou, afinal de contas, perdendo o
poder. Foi por seus vícios, não por suas virtudes.
As mal-ajambradas explicações de Dilma
Em entrevista, Dilma repete a visão delirante do ‘golpe’ e ainda defende a ideia risível de que em 2014 era muito difícil perceber que o Brasil estava em crise. Não lia jornais
O Globo
Antes de ser afastada da Presidência, no início da manhã de 12 de abril, Dilma Rousseff, entrincheirada no Planalto, cumpriu uma intensa agenda de comícios indoor, em que, inflamada, repetiu a tese ilusória de que estava sendo vítima de um “golpe”.
Não adiantou. O Senado acolheu o pedido de impeachment por crimes de responsabilidade, devido a infrações graves contra o princípio da responsabilidade fiscal e a lei orçamentária, passando a correr o prazo de até 180 dias para seu efetivo julgamento pela Casa, sob a presidência do ministro responsável pelo STF, Ricardo Lewandowski.
A presidente afastada guardou algum silêncio até este domingo, com a publicação de uma entrevista à “Folha de S.Paulo”, em que aproveitou para desdobrar a tese esperta do “golpe” — comprada internamente por militantes, e, no exterior, por aliados, simpatizantes e desavisados —, colocando-se, mais uma vez, como vítima do deputado, também afastado, Eduardo Cunha. Convém apresentar-se como alvo de uma unanimidade nacional — negativa.
Dilma bate na tecla, também nada verossímil, de que o impeachment visa a desmontar a Lava-Jato, como se ela, Lula e o PT não houvessem tramado contra a Operação. O mais lógico, e menos custoso, seria eles reforçarem a aliança com certas parcelas do PMDB em torno deste objetivo comum.
Outro falseamento da realidade — já explorado por Dilma — é culpar a oposição por criar obstáculos a tentativas de o governo enviar reformas ao Congresso. Ora, os governos do PT se notabilizaram por evitar e sabotar reformas. Com a exceção de mudanças no sistema previdenciário do servidor público, iniciadas no primeiro mandato de Lula e completadas apenas em fins de 2015, já no segundo mandato de Dilma. Demorou muito.
Mais dessintonizada ainda da realidade foi a resposta da presidente afastada quando questionada sobre o fato de ter defendido um programa de governo na campanha à reeleição e aplicado outro, um caso irretocável de estelionato eleitoral.
Na visão edulcorada de Dilma, o governo e nem ninguém perceberam que o Brasil havia entrado em crise. Ora, ora. No ano da campanha, 2014, o PIB já desacelerava, o emprego rateava. Numa interpretação benévola com Dilma, ela deixou de ler a imprensa profissional a partir de 2012/13, desde quando veículos como O GLOBO começaram a alertar para os erros de política econômica e os consequentes sinais, cada vez mais fortes, de que viria uma explosão fiscal.
Se a presidente no aguardo do impeachment, assessores e seguidores esperavam melhorar de situação, com a entrevista, frustraram-se. Dilma continua a viver em um mundo próprio, em que a vida real se subordina à vontade política. Engano fatal, por certo.
Em entrevista, Dilma repete a visão delirante do ‘golpe’ e ainda defende a ideia risível de que em 2014 era muito difícil perceber que o Brasil estava em crise. Não lia jornais
O Globo
Antes de ser afastada da Presidência, no início da manhã de 12 de abril, Dilma Rousseff, entrincheirada no Planalto, cumpriu uma intensa agenda de comícios indoor, em que, inflamada, repetiu a tese ilusória de que estava sendo vítima de um “golpe”.
Não adiantou. O Senado acolheu o pedido de impeachment por crimes de responsabilidade, devido a infrações graves contra o princípio da responsabilidade fiscal e a lei orçamentária, passando a correr o prazo de até 180 dias para seu efetivo julgamento pela Casa, sob a presidência do ministro responsável pelo STF, Ricardo Lewandowski.
A presidente afastada guardou algum silêncio até este domingo, com a publicação de uma entrevista à “Folha de S.Paulo”, em que aproveitou para desdobrar a tese esperta do “golpe” — comprada internamente por militantes, e, no exterior, por aliados, simpatizantes e desavisados —, colocando-se, mais uma vez, como vítima do deputado, também afastado, Eduardo Cunha. Convém apresentar-se como alvo de uma unanimidade nacional — negativa.
Dilma bate na tecla, também nada verossímil, de que o impeachment visa a desmontar a Lava-Jato, como se ela, Lula e o PT não houvessem tramado contra a Operação. O mais lógico, e menos custoso, seria eles reforçarem a aliança com certas parcelas do PMDB em torno deste objetivo comum.
Outro falseamento da realidade — já explorado por Dilma — é culpar a oposição por criar obstáculos a tentativas de o governo enviar reformas ao Congresso. Ora, os governos do PT se notabilizaram por evitar e sabotar reformas. Com a exceção de mudanças no sistema previdenciário do servidor público, iniciadas no primeiro mandato de Lula e completadas apenas em fins de 2015, já no segundo mandato de Dilma. Demorou muito.
Mais dessintonizada ainda da realidade foi a resposta da presidente afastada quando questionada sobre o fato de ter defendido um programa de governo na campanha à reeleição e aplicado outro, um caso irretocável de estelionato eleitoral.
Na visão edulcorada de Dilma, o governo e nem ninguém perceberam que o Brasil havia entrado em crise. Ora, ora. No ano da campanha, 2014, o PIB já desacelerava, o emprego rateava. Numa interpretação benévola com Dilma, ela deixou de ler a imprensa profissional a partir de 2012/13, desde quando veículos como O GLOBO começaram a alertar para os erros de política econômica e os consequentes sinais, cada vez mais fortes, de que viria uma explosão fiscal.
Se a presidente no aguardo do impeachment, assessores e seguidores esperavam melhorar de situação, com a entrevista, frustraram-se. Dilma continua a viver em um mundo próprio, em que a vida real se subordina à vontade política. Engano fatal, por certo.
Odebrecht oficializa negociação de delação premiada e vai detalhar doações
Mônica Bergamo - FSP
A Odebrecht e o Ministério Público Federal assinaram na quarta passada o documento que formaliza a negociação de delação premiada e de leniência da empreiteira no âmbito da Operação Lava Jato. As conversas já vinham ocorrendo há alguns meses, mas a partir de agora são oficiais.
Mônica Bergamo - FSP
A Odebrecht e o Ministério Público Federal assinaram na quarta passada o documento que formaliza a negociação de delação premiada e de leniência da empreiteira no âmbito da Operação Lava Jato. As conversas já vinham ocorrendo há alguns meses, mas a partir de agora são oficiais.
HIERARQUIA
Integrantes do Ministério Público pretendem, com a formalização, convocar até mesmo Emílio Odebrecht, ex-presidente da empresa e pai de Marcelo Odebrecht, que está preso, para dar informações.
TUDO E TODOS
A empreiteira se comprometeu oficialmente a detalhar o financiamento de todas as campanhas majoritárias de anos recentes com as quais colaborou –como as de Dilma Rousseff a presidente da República e Michel Temer vice e a de Aécio Neves a presidente, em 2014. Ou seja, nenhum dos grandes partidos (PT, PSDB e PMDB) deve ser poupado.
LINHA PONTILHADA
Apesar dos rumores insistentes de que Marcelo Odebrecht pode envolver diretamente Dilma, que teria pedido a ele recursos para a campanha de 2014 num encontro no Palácio da Alvorada, o tema não foi ainda abordado oficialmente com o Ministério Público Federal.
APERITIVO
Os procuradores negociaram para ter acesso a toda a contabilidade de caixa dois da empresa, o que pode envolver centenas de políticos e até mesmo autoridades de outros poderes. Para se ter uma ideia do alcance dos dados que devem ser fornecidos, só numa das operações de busca e apreensão feitas na empreiteira foi encontrada uma lista com o nome de mais de 300 políticos.
BATALHÃO
O termo assinado pela Odebrecht e pelos procuradores não define o número exato dos executivos que devem delatar. Mas ele pode chegar a 50.
VOCÊ DECIDE
O ex-ministro da AGU (Advocacia-Geral da União) José Eduardo Cardozo deve entrar hoje com denúncia contra o sucessor, Fábio Osório, na Comissão de Ética da Presidência da República. O petista se diz "estupefato" com a iniciativa de Osório de abrir sindicância contra ele por ter classificado o impeachment de "golpe" ao defender Dilma Rousseff no processo.
VOCÊ DECIDE 2
Osório sustenta que o ex-ministro "jamais poderia ter usado o cargo para atentar contra a imagem dos poderes constituídos, acusando-os de participarem de uma conspirata contra o chefe do Executivo". O advogado de Cardozo, Marco Aurélio Carvalho, diz que "nem nos anos de chumbo da ditadura militar" houve acusação de "delitos de opinião jurídica" contra advogados.
Integrantes do Ministério Público pretendem, com a formalização, convocar até mesmo Emílio Odebrecht, ex-presidente da empresa e pai de Marcelo Odebrecht, que está preso, para dar informações.
TUDO E TODOS
A empreiteira se comprometeu oficialmente a detalhar o financiamento de todas as campanhas majoritárias de anos recentes com as quais colaborou –como as de Dilma Rousseff a presidente da República e Michel Temer vice e a de Aécio Neves a presidente, em 2014. Ou seja, nenhum dos grandes partidos (PT, PSDB e PMDB) deve ser poupado.
LINHA PONTILHADA
Apesar dos rumores insistentes de que Marcelo Odebrecht pode envolver diretamente Dilma, que teria pedido a ele recursos para a campanha de 2014 num encontro no Palácio da Alvorada, o tema não foi ainda abordado oficialmente com o Ministério Público Federal.
APERITIVO
Os procuradores negociaram para ter acesso a toda a contabilidade de caixa dois da empresa, o que pode envolver centenas de políticos e até mesmo autoridades de outros poderes. Para se ter uma ideia do alcance dos dados que devem ser fornecidos, só numa das operações de busca e apreensão feitas na empreiteira foi encontrada uma lista com o nome de mais de 300 políticos.
BATALHÃO
O termo assinado pela Odebrecht e pelos procuradores não define o número exato dos executivos que devem delatar. Mas ele pode chegar a 50.
VOCÊ DECIDE
O ex-ministro da AGU (Advocacia-Geral da União) José Eduardo Cardozo deve entrar hoje com denúncia contra o sucessor, Fábio Osório, na Comissão de Ética da Presidência da República. O petista se diz "estupefato" com a iniciativa de Osório de abrir sindicância contra ele por ter classificado o impeachment de "golpe" ao defender Dilma Rousseff no processo.
VOCÊ DECIDE 2
Osório sustenta que o ex-ministro "jamais poderia ter usado o cargo para atentar contra a imagem dos poderes constituídos, acusando-os de participarem de uma conspirata contra o chefe do Executivo". O advogado de Cardozo, Marco Aurélio Carvalho, diz que "nem nos anos de chumbo da ditadura militar" houve acusação de "delitos de opinião jurídica" contra advogados.
Filho de Lula investigado na Zelotes recebeu R$ 10 milhões, não apenas R$ 2,5 milhões
Isso é que competência. Numa conta ligeira, pai e os dois filhos já receberam R$ 47 milhões. A classe operária não chegou ao paraíso, mas Lula sim!
Reinaldo Azevedo - VEJA
Isso é que competência. Numa conta ligeira, pai e os dois filhos já receberam R$ 47 milhões. A classe operária não chegou ao paraíso, mas Lula sim!
Reinaldo Azevedo - VEJA
Epa! A
Operação Zelotes descobriu, informa a “Coluna do Estado”, no Estadão,
que Luís Cláudio, o filho de Lula que é dono da LFT Marketing Esportivo,
não embolsou apenas R$ 2,5 milhões do escritório Marcondes &
Mautoni. Não! Isso é café pequeno. O rapaz levou quase R$ 4 milhões
dessa empresa de lobby, acusada de comprar medidas provisórias durante o
governo Lula. Mas calma!
Ao todo, a
LFT, de que o rapaz é dono e da qual é o único funcionário, embolsou R$
10 milhões. É um gênio da consultoria! O único trabalho conhecido desse
portento é justamente o que teria feito para o Marcondes & Mautoni. A
Polícia Federal descobriu tratar-se de uma cópia da Internet. Luís
Cláudio é o copia-cola mais caro do país.
Que beleza!
Nada como um
pai socialista para que os filhos se tornem empreendedores notáveis,
não é mesmo? Já fiz esta observação aqui, mas vale repeti-la: quando FHC
chegou ao poder, seus netos eram herdeiros de um dos maiores bancos do
país: o Nacional. Quando FHC saiu da Presidência, esses mesmos netos
eram uns sem-banco. O Nacional quebrou. E não teve socorro oficial. E
não tinha de ter mesmo, ora!
Quando Lula
chegou ao poder, Fábio Luiz da Silva, o seu mais velho, era monitor de
jardim zoológico. Dois anos depois, estava rico, no comando da Gamecorp,
de que a Oi (à época, Telemar) se tornou sócia. Não sei o que fazia
Luiz Cláudio. Talvez fosse apenas estudante. Hoje, já é também um
milionário.
Sobre
Lulinha, certa feita, afirmou o pai: “É o Ronaldinho dos negócios”. À
época, Ronaldinho era… Ronaldinho!!! Modéstia do Apedeuta. Estamos
diante de uma família de craques. Numa conta, assim, de padaria, podemos
lembrar os sucessos financeiros da família Lula da Silva: o patriarca
levou R$ 27 milhões por supostas palestras; cada um dos filhos, por sua
vez, teve um aporte de R$ 10 milhões: foi a grana que a Telemar botou na
Gamecorp e também o valor recebido por Luís Cláudio. Nesses três itens,
estamos falando de R$ 47 milhões.
Com Lula, a
classe operária pode não ter chegado ao paraíso, para lembrar o nome de
um filme, mas é inegável que ele e sua família chegaram, não é mesmo?
Luís Cláudio
e seu pai são investigados na Operação Zelotes, que só não é o
escândalo dos escândalos porque nenhuma ocorrência consegue tirar essa
condição do petrolão. É essa gente de moral ilibada que está lutando
desesperadamente para voltar ao poder.
A Zelotes
investiga o pagamento de propinas na compra de medidas provisórias, a
venda de decisões do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) e
o eventual pagamento de propina no contrato para a compra dos caças
Gripen, de fabricação sueca.
Dá para
entender o desespero do PT ao ser apeado do poder. E também dá para
entender o amor que essa gente tem pelo estado. Imaginem se todo
brasileiro prosperasse na velocidade em que prosperam os Lula da Silva. O
Brasil seria a maior economia do mundo.
Fabiano Silveira será alvo do CNJ, que vê indício de crime em conversa gravada com Renan Calheiros
Painel - FSP
Painel - FSP
Aqui se paga? Mesmo apeado do Ministério da
Transparência, Fabiano Silveira pode continuar levando dor de cabeça a
Michel Temer. O Conselho Nacional de Justiça abre, nesta terça,
investigação prévia para apurar se ele usou o cargo de conselheiro do
órgão para favorecer interesses privados. A corregedora Nancy Andrighi
viu indício de crime nas conversas em que ele orienta Renan Calheiros
sobre a Lava Jato. Ao fim dessa fase, ela deve pedir ao plenário que
abra um processo contra Silveira.
Tudo de casa Conselheiro do órgão de 2013 a 2016 por indicação do Senado, Silveira é submetido às mesmas punições dos magistrados no exercício das funções.
Não se vá No telefonema da demissão, Michel Temer ainda tentou segurar seu ministro. O auxiliar, porém, ficou inseguro quando viu, na imprensa, a expressão “por enquanto” sendo usada por integrantes do governo para definir sua permanência.
Não lavo nem passo Quando optou por mantê-lo, o presidente interino renegou conscientemente o titulo de faxineiro, marca popular nas ruas, mas antipática em um Congresso parcialmente enrolado na Lava Jato.
Açougue Seis meses depois de ter questionado o Ministério da Agricultura sobre exportações de carne enlatada a países da África na década de 1980, o PSOL recebeu resposta de que não constam atividades nem no nome nem no CPF de Eduardo Cunha.
Segredo Cunha, que justifica os recursos que tem no exterior com a exportação do produto, diz que a atividade nunca foi feita por sua pessoa física, mas em nome de empresas. Ele não quis, porém, fornecer a relação de clientes.
Destinos cruzados O Palácio do Planalto tem muito a perder com um eventual afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado. O comando da Casa cairia no colo do vice Jorge Viana, do PT.
Você de novo Bruno Mendes, que apareceu com Fabiano Silveira em áudio gravado por Sérgio Machado, é figura conhecida da Lava Jato. Foi citado na delação premiada de Ricardo Pessoa (UTC).
Elo perdido O empreiteiro narrou aos investigadores que Renan Calheiros teria indicado Mendes para “operacionalizar” doações ao PMDB.
Abafa Advogados traçam estratégia para melar o uso das gravações como prova em delações: falam em compará-las ao “flagrante preparado” — quando alguém é induzido à prática de um crime, o que não é aceito pela Justiça em todos os casos.
Supersincero De um ministro de Temer sobre a folga dada pelo Planalto ao estipular um deficit de R$ 170,5 bilhões: “Na prática, na minha pasta, não precisamos cortar nada, se assim quisermos”.
Enigma Petistas e executivos que trabalhavam com a Petrobras se dividem na interpretação do apelido “Italiano”, um das dezenas de codinomes que aparecem nas planilhas de doação da empreiteira Odebrecht.
Tutti buona gente Um grupo acredita que se trata de Antonio Palocci, ex-ministro de Lula e Dilma. Outros dizem que o apelido se refere a Guido Mantega, chefe da equipe econômica de ambos.
Tudo de casa Conselheiro do órgão de 2013 a 2016 por indicação do Senado, Silveira é submetido às mesmas punições dos magistrados no exercício das funções.
Não se vá No telefonema da demissão, Michel Temer ainda tentou segurar seu ministro. O auxiliar, porém, ficou inseguro quando viu, na imprensa, a expressão “por enquanto” sendo usada por integrantes do governo para definir sua permanência.
Não lavo nem passo Quando optou por mantê-lo, o presidente interino renegou conscientemente o titulo de faxineiro, marca popular nas ruas, mas antipática em um Congresso parcialmente enrolado na Lava Jato.
Açougue Seis meses depois de ter questionado o Ministério da Agricultura sobre exportações de carne enlatada a países da África na década de 1980, o PSOL recebeu resposta de que não constam atividades nem no nome nem no CPF de Eduardo Cunha.
Segredo Cunha, que justifica os recursos que tem no exterior com a exportação do produto, diz que a atividade nunca foi feita por sua pessoa física, mas em nome de empresas. Ele não quis, porém, fornecer a relação de clientes.
Destinos cruzados O Palácio do Planalto tem muito a perder com um eventual afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado. O comando da Casa cairia no colo do vice Jorge Viana, do PT.
Você de novo Bruno Mendes, que apareceu com Fabiano Silveira em áudio gravado por Sérgio Machado, é figura conhecida da Lava Jato. Foi citado na delação premiada de Ricardo Pessoa (UTC).
Elo perdido O empreiteiro narrou aos investigadores que Renan Calheiros teria indicado Mendes para “operacionalizar” doações ao PMDB.
Abafa Advogados traçam estratégia para melar o uso das gravações como prova em delações: falam em compará-las ao “flagrante preparado” — quando alguém é induzido à prática de um crime, o que não é aceito pela Justiça em todos os casos.
Supersincero De um ministro de Temer sobre a folga dada pelo Planalto ao estipular um deficit de R$ 170,5 bilhões: “Na prática, na minha pasta, não precisamos cortar nada, se assim quisermos”.
Enigma Petistas e executivos que trabalhavam com a Petrobras se dividem na interpretação do apelido “Italiano”, um das dezenas de codinomes que aparecem nas planilhas de doação da empreiteira Odebrecht.
Tutti buona gente Um grupo acredita que se trata de Antonio Palocci, ex-ministro de Lula e Dilma. Outros dizem que o apelido se refere a Guido Mantega, chefe da equipe econômica de ambos.
O paradoxo de Temer
Ele
foi aconselhado a não incluir no ministério pessoas investigadas nas
diversas operações criminais em curso, especialmente a Lava-Jato. Também
não deveria acatar sugestões de políticos expostos a essas
investigações, muito menos dos presidentes da Câmara (afastado) Eduardo
Cunha, e do Senado Renan Calheiros, ambos com pencas de processos no
Supremo Tribunal Federal (STF).
Mas as ligações políticas de longo alcance com toda essa cúpula do PMDB impede que Temer tenha a independência que o momento exige de um presidente que assumiu o cargo interinamente devido ao impedimento de uma presidente que, apanhada em desvios fiscais graves, tem, além de tudo, o envolvimento carnal com um partido, o PT, metido em todo tipo de falcatrua.
Curiosamente acontece com Temer o mesmo que com Dilma: o seu entorno está todo contaminado por denúncias de corrupção, com raras exceções, mas as acusações diretas contra ele são ainda tênues. No caso dela, são mais consistentes, até mesmo pelo domínio dos fatos que ela detinha desde que era ministra das Minas e Energia e chefiava o Conselho de Administração da Petrobras. Mas, assim como Dilma está sendo, ele também poderá ser atingido letalmente por delações premiadas ou gravações clandestinas.
Portanto, Temer não tem as mãos livres para agir com desenvoltura neste momento em que depende do apoio do Senado para confirmar o impedimento definitivo da presidente afastada Dilma Rousseff e também do Congresso para aprovar medidas econômicas impopulares, mas decisivas. Por isso ele tem que, ao mesmo tempo em que negocia com políticos, manter a sociedade esperançosa de novos dias, tarefa difícil que às vezes pode ser até mesmo paradoxal.
Nada menos transparente do que a reunião que Fabiano Silveira teve com o presidente do Senado Renan Calheiros, cuja gravação foi revelada pelo Fantástico da Rede Globo na noite de domingo. O teor das conversas não deixava dúvidas de que o novo ministro estava orientando seu “chefe” da ocasião a como escapar dos procuradores da Lava-Jato.
Parece pouco provável que ele, como chegou a alegar, não soubesse quem era o presidente da Transpetro Sérgio Machado, mas isso é o de menos. O que revelou o grau de comprometimento de Silveira com o presidente do Senado foi a sugestão para que Calheiros não entregasse ao Ministério Público sua defesa detalhada, evitando assim que os procuradores tivessem base para contestá-la e investigá-lo.
Outro ponto crucial das gravações foi o relato do presidente do Senado de conversas que Fabiano Silveira mantivera com membros do Ministério Público, com o intuito de sondar o que eles teriam contra Calheiros. Isto é, Fabiano Silveira, que àquela altura era membro do Conselho Nacional de Justiça indicado pelo próprio Calheiros, usava sua posição para obter informações que beneficiassem quem o indicou.
E assim supostamente agiria no ministério da Transparência, uma pasta fundamental no combate à corrupção, percepção que retira do ministro sua autoridade moral. O presidente da República, Michel Temer, tem um duplo desafio pela frente: recuperar a credibilidade da economia e a imagem do Brasil como um país confiável e seguro enquanto ambiente de negócios.
Recuperar a economia requer esforços e fórmulas que estão sendo encaminhadas pela equipe econômica, em conjunto com áreas estratégicas do Governo. Já encaminharam medidas de forte impacto positivo. A recuperação da credibilidade – interna e externa – suscita, porém, para além da agenda econômica, a importância da agenda anticorrupção do governo Michel Temer.
E essa agenda tem sustentação não apenas na opinião pública, o que já não seria pouco, mas num conjunto de exigências internacionais de investidores que buscam ambientes transparentes e seguros para negócios. Países corruptos são tidos como refratários aos investidores internacionais e propensos à insegurança jurídica.
Merval Pereira - O Globo
Mais uma vez o presidente interino Michel Temer
titubeou para demitir um ministro envolvido em revelações que o
inviabilizavam no cargo. O que mais preocupa não é simplesmente a
tibieza que Temer vem revelando, que não se esvai com um tapa alegórico
na mesa. A razão desse comportamento é que está no centro das atenções.
Mas as ligações políticas de longo alcance com toda essa cúpula do PMDB impede que Temer tenha a independência que o momento exige de um presidente que assumiu o cargo interinamente devido ao impedimento de uma presidente que, apanhada em desvios fiscais graves, tem, além de tudo, o envolvimento carnal com um partido, o PT, metido em todo tipo de falcatrua.
Curiosamente acontece com Temer o mesmo que com Dilma: o seu entorno está todo contaminado por denúncias de corrupção, com raras exceções, mas as acusações diretas contra ele são ainda tênues. No caso dela, são mais consistentes, até mesmo pelo domínio dos fatos que ela detinha desde que era ministra das Minas e Energia e chefiava o Conselho de Administração da Petrobras. Mas, assim como Dilma está sendo, ele também poderá ser atingido letalmente por delações premiadas ou gravações clandestinas.
Portanto, Temer não tem as mãos livres para agir com desenvoltura neste momento em que depende do apoio do Senado para confirmar o impedimento definitivo da presidente afastada Dilma Rousseff e também do Congresso para aprovar medidas econômicas impopulares, mas decisivas. Por isso ele tem que, ao mesmo tempo em que negocia com políticos, manter a sociedade esperançosa de novos dias, tarefa difícil que às vezes pode ser até mesmo paradoxal.
Nada menos transparente do que a reunião que Fabiano Silveira teve com o presidente do Senado Renan Calheiros, cuja gravação foi revelada pelo Fantástico da Rede Globo na noite de domingo. O teor das conversas não deixava dúvidas de que o novo ministro estava orientando seu “chefe” da ocasião a como escapar dos procuradores da Lava-Jato.
Parece pouco provável que ele, como chegou a alegar, não soubesse quem era o presidente da Transpetro Sérgio Machado, mas isso é o de menos. O que revelou o grau de comprometimento de Silveira com o presidente do Senado foi a sugestão para que Calheiros não entregasse ao Ministério Público sua defesa detalhada, evitando assim que os procuradores tivessem base para contestá-la e investigá-lo.
Outro ponto crucial das gravações foi o relato do presidente do Senado de conversas que Fabiano Silveira mantivera com membros do Ministério Público, com o intuito de sondar o que eles teriam contra Calheiros. Isto é, Fabiano Silveira, que àquela altura era membro do Conselho Nacional de Justiça indicado pelo próprio Calheiros, usava sua posição para obter informações que beneficiassem quem o indicou.
E assim supostamente agiria no ministério da Transparência, uma pasta fundamental no combate à corrupção, percepção que retira do ministro sua autoridade moral. O presidente da República, Michel Temer, tem um duplo desafio pela frente: recuperar a credibilidade da economia e a imagem do Brasil como um país confiável e seguro enquanto ambiente de negócios.
Recuperar a economia requer esforços e fórmulas que estão sendo encaminhadas pela equipe econômica, em conjunto com áreas estratégicas do Governo. Já encaminharam medidas de forte impacto positivo. A recuperação da credibilidade – interna e externa – suscita, porém, para além da agenda econômica, a importância da agenda anticorrupção do governo Michel Temer.
E essa agenda tem sustentação não apenas na opinião pública, o que já não seria pouco, mas num conjunto de exigências internacionais de investidores que buscam ambientes transparentes e seguros para negócios. Países corruptos são tidos como refratários aos investidores internacionais e propensos à insegurança jurídica.
Bumlai diz que fez empréstimo fraudulento para PT por medo de invasão de terras
Os 12 milhões de reais emprestados pelo Banco Schahin ao pecuarista foram destinados a campanhas petistas e empresário envolvido no caso Celso Daniel. Empréstimo foi compensado por contrato bilionário com a Petrobras
Os 12 milhões de reais emprestados pelo Banco Schahin ao pecuarista foram destinados a campanhas petistas e empresário envolvido no caso Celso Daniel. Empréstimo foi compensado por contrato bilionário com a Petrobras
Laryssa Borges - VEJA
Pecuarista José Carlos Bumlai em depoimento em CPI do Congresso Nacional(Ueslei Marcelino/Reuters)
O
empresário e pecuarista José Carlos Bumlai disse nesta segunda-feira ao
juiz federal Sergio Moro que assinou um empréstimo fraudulento de cerca
de 12 milhões de reais para o PT por medo de ser alvo de invasão de
terras. Amigo do ex-presidente Lula, Bumlai foi o avalista de um
empréstimo fictício junto ao Banco Schahin usado para pagar despesas
eleitorais de 2004 e para repassar dinheiro de uma suposta chantagem
feita pelo empresário Ronan Maria Pinto, em Santo André (SP).
Segundo os investigadores da Operação Lava Jato, o empresário
integrou um esquema de corrupção envolvendo a contratação da Schahin
pela Petrobras para operação do navio sonda Vitoria 10000. A transação
só ocorreu após o pagamento de propina a dirigentes da Petrobras e ao
PT. A exemplo do escândalo do mensalão, o pagamento de dinheiro sujo foi
camuflado a partir da simulação de um empréstimo no valor de 12,17
milhões de reais do Banco Schahin, com a contratação indevida da Schahin
pela Petrobras para operar o navio sonda Vitoria 10000 e na simulação
do pagamento do suposto empréstimo com a entrega inexistente de embriões
de gado.
"Eu cometi um grande erro. Levado pela minha situação à época, que era proprietário de 210 mil hectares de terra, tudo produtivo, o PT assumindo o governo federal, nós éramos um grande alvo para invasões. Não falei 'não' até por uma questão de receio, mas também achei que o empréstimo não ia sair", disse ele ao juiz Sergio Moro. Em depoimento à Polícia Federal, Bumlai já havia admitido que o empréstimo era fictício.
Segundo a versão apresentada pelo pecuarista, que é réu na Operação Lava Jato, o pedido para a consolidação do empréstimo partiu do então tesoureiro do PT Delúbio Soares, embora o tema tenha sido tratado também pelo ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto e pelo lobista Fernando Baiano. "Quando eu cheguei no banco, o empréstimo já estava totalmente aprovado. Só precisava de um trouxa que nem eu para assinar e ficar responsável por ele", relatou Bumlai. No depoimento, o empresário, que enfrenta um tratamento de câncer, pediu que o juiz Sergio Moro seja "misericordioso" com ele em seu julgamento.
"Eu cometi um grande erro. Levado pela minha situação à época, que era proprietário de 210 mil hectares de terra, tudo produtivo, o PT assumindo o governo federal, nós éramos um grande alvo para invasões. Não falei 'não' até por uma questão de receio, mas também achei que o empréstimo não ia sair", disse ele ao juiz Sergio Moro. Em depoimento à Polícia Federal, Bumlai já havia admitido que o empréstimo era fictício.
Segundo a versão apresentada pelo pecuarista, que é réu na Operação Lava Jato, o pedido para a consolidação do empréstimo partiu do então tesoureiro do PT Delúbio Soares, embora o tema tenha sido tratado também pelo ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto e pelo lobista Fernando Baiano. "Quando eu cheguei no banco, o empréstimo já estava totalmente aprovado. Só precisava de um trouxa que nem eu para assinar e ficar responsável por ele", relatou Bumlai. No depoimento, o empresário, que enfrenta um tratamento de câncer, pediu que o juiz Sergio Moro seja "misericordioso" com ele em seu julgamento.
Pouca transparência
FSP
Dado que Michel Temer (PMDB) alocou na Esplanada dos Ministérios figuras
acossadas pela Operação Lava Jato, era fácil prever que em algum
momento o presidente interino se veria levado a promover mudanças em seu
gabinete.
FSP
Não se imaginava, porém, que precisaria fazê-las antes de completar 20 dias de governo.
Depois que conversas comprometedoras reveladas por esta Folha custaram ao senador Romero Jucá (PMDB-RR) a pasta do Planejamento, era simples predizer que as gravações feitas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, alvejariam outros membros do primeiro escalão de Temer.
Não se antecipava, todavia, que o atingido seria Fabiano Silveira, ministro da Transparência, Fiscalização e Controle (antiga CGU, Controladoria-Geral da União) –um funcionário de carreira do Senado sobre quem não pesavam suspeitas.
Áudios divulgados pelo programa Fantástico, da TV Globo, mostram Silveira criticando a Lava Jato e passando a Machado e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), orientações sobre como proceder em relação à Procuradoria-Geral da República —ambos são investigados.
Os diálogos seriam do final de fevereiro, quando Silveira integrava o Conselho Nacional de Justiça. Embora não constituam crime, expõem contradições que nenhum governo deveria tolerar.
Como conselheiro do CNJ, Silveira deveria atuar para aperfeiçoar a Justiça, e não prestar assessoria a políticos com pendências judiciais. Como ministro da Transparência, não poderia ter seu nome associado a conchavos sorrateiros e ver posto sob dúvida seu compromisso com o combate à corrupção.
Pelo precedente do caso Jucá, supunha-se que Temer agiria de forma resoluta. Não foi o que aconteceu, contudo. A despeito dos veementes protestos de servidores do órgão de controle e apesar da reação negativa da opinião pública, o presidente interino hesitava.
Talvez temesse se tornar refém de um padrão, mas, acima de tudo, procurava não contrariar Renan, a quem coube indicar o titular do Ministério da Transparência.
Michel Temer depende do presidente do Senado não somente para aprovar medidas centrais de seu pacote econômico mas também para garantir os 54 votos necessários ao impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT).
No equilíbrio precário entre as exigências da opinião pública, que clama por mais ética, e as de muitos senadores, que desejam o oposto, Temer fazia a sua escolha.
A carta de demissão apresentada por Fabiano Silveira salva o presidente interino de um vexame prolongado, mas não afasta a percepção de que o governo Temer é vulnerável à transparência.
Depois que conversas comprometedoras reveladas por esta Folha custaram ao senador Romero Jucá (PMDB-RR) a pasta do Planejamento, era simples predizer que as gravações feitas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, alvejariam outros membros do primeiro escalão de Temer.
Não se antecipava, todavia, que o atingido seria Fabiano Silveira, ministro da Transparência, Fiscalização e Controle (antiga CGU, Controladoria-Geral da União) –um funcionário de carreira do Senado sobre quem não pesavam suspeitas.
Áudios divulgados pelo programa Fantástico, da TV Globo, mostram Silveira criticando a Lava Jato e passando a Machado e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), orientações sobre como proceder em relação à Procuradoria-Geral da República —ambos são investigados.
Os diálogos seriam do final de fevereiro, quando Silveira integrava o Conselho Nacional de Justiça. Embora não constituam crime, expõem contradições que nenhum governo deveria tolerar.
Como conselheiro do CNJ, Silveira deveria atuar para aperfeiçoar a Justiça, e não prestar assessoria a políticos com pendências judiciais. Como ministro da Transparência, não poderia ter seu nome associado a conchavos sorrateiros e ver posto sob dúvida seu compromisso com o combate à corrupção.
Pelo precedente do caso Jucá, supunha-se que Temer agiria de forma resoluta. Não foi o que aconteceu, contudo. A despeito dos veementes protestos de servidores do órgão de controle e apesar da reação negativa da opinião pública, o presidente interino hesitava.
Talvez temesse se tornar refém de um padrão, mas, acima de tudo, procurava não contrariar Renan, a quem coube indicar o titular do Ministério da Transparência.
Michel Temer depende do presidente do Senado não somente para aprovar medidas centrais de seu pacote econômico mas também para garantir os 54 votos necessários ao impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT).
No equilíbrio precário entre as exigências da opinião pública, que clama por mais ética, e as de muitos senadores, que desejam o oposto, Temer fazia a sua escolha.
A carta de demissão apresentada por Fabiano Silveira salva o presidente interino de um vexame prolongado, mas não afasta a percepção de que o governo Temer é vulnerável à transparência.
Colapso da Venezuela ruma para território sombrio
Nicholas Casey e Patricia Torres - NYT
Meridith Kohut/The New York Times
Kevin Munoz espera por clientes no escuro em sua loja, durante apagão em Caracas, na Venezuela
Os tribunais estão fechados na maioria dos dias. O departamento para abrir uma empresa, idem. O Ministério Público foi transformado em banco de alimentos para funcionários do governo.
Nicholas Casey e Patricia Torres - NYT
Meridith Kohut/The New York Times
Kevin Munoz espera por clientes no escuro em sua loja, durante apagão em Caracas, na Venezuela
Os tribunais estão fechados na maioria dos dias. O departamento para abrir uma empresa, idem. O Ministério Público foi transformado em banco de alimentos para funcionários do governo.
Passo a passo, a Venezuela está fechando.
O país há muito está acostumado a uma grave escassez de alimentos, até mesmo dos básicos. Mas continua derivando cada vez mais para território desconhecido.
Nas últimas semanas, o governo tomou uma das medidas mais desesperadas já adotadas por um país para economizar eletricidade: o fechamento de muitos órgãos oficiais, que agora só abrem dois dias por semana, em meio período.
Mas esse é apenas o começo dos problemas da Venezuela. A eletricidade e a água estão sendo racionadas e enormes áreas já passaram meses com pouco abastecimento.
Muitas pessoas não conseguem fazer telefonemas internacionais por causa de uma disputa entre o governo e as companhias telefônicas sobre regulamentos cambiais e tarifas.
A Coca-Cola Femsa, empresa mexicana que engarrafa o refrigerante no país, disse que vai interromper a produção de bebidas porque está ficando sem açúcar.
Na semana passada, os protestos se tornaram violentos em partes da Venezuela onde manifestantes exigiram que os supermercados fossem abastecidos. Na sexta-feira o governo disse que continuará com a semana de trabalho truncada por mais 15 dias.
"Houve muitos problemas, mas uma coisa que não vi até agora foram protestos simplesmente para conseguir comida", disse David Smilde, um analista sediado em Caracas para o Instituto sobre América Latina, um grupo de direitos humanos de Washington, referindo-se às manifestações da semana passada.
A crescente crise econômica --alimentada pelos baixos preços do petróleo, a principal exportação do país; uma seca que anulou a capacidade de produção de energia elétrica e uma longa queda na produção industrial e agrícola-- tornou-se intensamente política para o presidente Nicolás Maduro. Este mês, ele declarou o segundo estado de emergência do ano e ordenou exercícios militares, citando ameaças estrangeiras.
Mas o presidente parece cada vez mais cercado.
Autoridades americanas dizem que as múltiplas crises levaram Maduro a perder a aprovação de membros de seu próprio Partido Socialista, que acreditam que poderá se voltar contra ele, levando o caos às ruas.
Antigos aliados como o Brasil, cuja presidente de esquerda, Dilma Rousseff, foi removida neste mês para enfrentar um processo de impeachment, agora criticam abertamente a Venezuela. José Mujica, o ex-presidente uruguaio de esquerda, chamou Maduro na semana passada de "louco como um bode".
As tensões regionais chegaram ao máximo na semana passada, quando Maduro foi à televisão para reclamar da Organização dos Estados Americanos, que criticou a condução das crises econômica e política pelo governo venezuelano. Maduro visou Luis Almagro, seu secretário-geral, chamando-o de "antigo traidor" e implicando que era um espião.
Almagro respondeu com uma carta aberta culpando o presidente, conclamando-o a permitir o referendo de revogação que seus adversários estão promovendo este ano para retirar Maduro do cargo.
As escolas públicas da Venezuela estão fechadas às sextas-feiras, em mais uma medida para economizar eletricidade. Por isso González esperava na fila com sua filha mais velha em um caixa automático enquanto seu marido cuidava do outro em casa.
"Neste momento minha menina deveria estar na escola elementar e o pequeno no jardim da infância", disse ela. "Meu marido e eu estamos inventando novas rotinas."
González, uma advogada autônoma, levava uma vida de classe média até recentemente. Mas diz que o fechamento do governo a deixou sem trabalho e sua família sem comida.
"A menina mais velha, que entende o que está acontecendo, diz: 'O que temos, mamãe: pão, arepas ou nada?'" Ela disse que em uma noite recente a família comeu apenas massa com ketchup.
Para Vanessa Arneta, que mora com sete parentes em um apartamento nos arredores de Caracas, é a falta de água na cidade que causa mais problemas. A água só chega uma vez por semana, às quintas-feiras, ao seu bairro de San Antonio de los Altos.
Nesse dia, eles rapidamente dividem as tarefas. Um sobrinho entra no chuveiro enquanto o outro lava os pratos, diz Arneta. Um de seus irmãos lava o banheiro enquanto alguém enche baldes com água para guardar.
Mas Arneta diz que a água hoje tem uma cor amarronzada e está deixando a família doente. Muitos venezuelanos dizem ter irritações na pele por causa da água ou pela incapacidade de tomar banho e lavar lençóis e toalhas.
"Seu corpo está cheio de pequenas bolhas e elas cheiram muito mal", disse Arneta sobre uma das irmãs.
O governo da Venezuela diz que os problemas são consequência de uma "guerra econômica" que é travada pelas elites que acumulam suprimentos, assim como pelos esforços do governo dos EUA para desestabilizar o país.
Mas a maioria dos economistas concorda que a Venezuela sofre de anos de má gestão econômica, incluindo a dependência excessiva do petróleo e controles de preços que levaram muitas empresas a parar de fabricar produtos.
Alguns venezuelanos estão canalizando suas frustrações para demonstrações contra o governo. Os adversários de Maduro, que hoje controlam a Assembleia Nacional, vêm encenando protestos semanais em apoio ao referendo de revogação.
Na quarta-feira, manifestantes se chocaram com policiais que dispararam gás lacrimogêneo contra o povo e foram atacados com garrafas e pedras.
"A situação econômica deste país é o colapso", disse Pablo Parada, um estudante de direito, que participava na semana passada de uma greve de fome na frente do escritório da OEA em Caracas. "Há pessoas passando fome."
Parada disse que o objetivo da greve é pressionar a OEA a pressionar as autoridades venezuelanas a permitir que o referendo se realize este ano, a única maneira de o país se recuperar, segundo ele.
Em geral há pouco tráfego em Caracas simplesmente porque poucas pessoas estão saindo, por falta de dinheiro ou de trabalho.
Há poucos dias, no centro da cidade, pedestres circulavam, mas quase todos os edifícios --incluindo vários museus, o registro público e um centro de seguridade social-- estavam vazios, dando a impressão de um feriado.
Só os guardas trabalhavam.
"Agora está nas mãos de Deus", disse um deles, Luis Ríos, ecoando uma frase comumente ouvida aqui.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
O país há muito está acostumado a uma grave escassez de alimentos, até mesmo dos básicos. Mas continua derivando cada vez mais para território desconhecido.
Nas últimas semanas, o governo tomou uma das medidas mais desesperadas já adotadas por um país para economizar eletricidade: o fechamento de muitos órgãos oficiais, que agora só abrem dois dias por semana, em meio período.
Mas esse é apenas o começo dos problemas da Venezuela. A eletricidade e a água estão sendo racionadas e enormes áreas já passaram meses com pouco abastecimento.
Muitas pessoas não conseguem fazer telefonemas internacionais por causa de uma disputa entre o governo e as companhias telefônicas sobre regulamentos cambiais e tarifas.
A Coca-Cola Femsa, empresa mexicana que engarrafa o refrigerante no país, disse que vai interromper a produção de bebidas porque está ficando sem açúcar.
Na semana passada, os protestos se tornaram violentos em partes da Venezuela onde manifestantes exigiram que os supermercados fossem abastecidos. Na sexta-feira o governo disse que continuará com a semana de trabalho truncada por mais 15 dias.
"Houve muitos problemas, mas uma coisa que não vi até agora foram protestos simplesmente para conseguir comida", disse David Smilde, um analista sediado em Caracas para o Instituto sobre América Latina, um grupo de direitos humanos de Washington, referindo-se às manifestações da semana passada.
Meridith Kohut/The New York Times
Homens enchem galões com água de poço em Caracas
A crescente crise econômica --alimentada pelos baixos preços do petróleo, a principal exportação do país; uma seca que anulou a capacidade de produção de energia elétrica e uma longa queda na produção industrial e agrícola-- tornou-se intensamente política para o presidente Nicolás Maduro. Este mês, ele declarou o segundo estado de emergência do ano e ordenou exercícios militares, citando ameaças estrangeiras.
Mas o presidente parece cada vez mais cercado.
Autoridades americanas dizem que as múltiplas crises levaram Maduro a perder a aprovação de membros de seu próprio Partido Socialista, que acreditam que poderá se voltar contra ele, levando o caos às ruas.
Antigos aliados como o Brasil, cuja presidente de esquerda, Dilma Rousseff, foi removida neste mês para enfrentar um processo de impeachment, agora criticam abertamente a Venezuela. José Mujica, o ex-presidente uruguaio de esquerda, chamou Maduro na semana passada de "louco como um bode".
As tensões regionais chegaram ao máximo na semana passada, quando Maduro foi à televisão para reclamar da Organização dos Estados Americanos, que criticou a condução das crises econômica e política pelo governo venezuelano. Maduro visou Luis Almagro, seu secretário-geral, chamando-o de "antigo traidor" e implicando que era um espião.
Almagro respondeu com uma carta aberta culpando o presidente, conclamando-o a permitir o referendo de revogação que seus adversários estão promovendo este ano para retirar Maduro do cargo.
Meridith Kohut/The New York Times
Omaira Hernandez dá banho na neta Isabella, 2, com água coletada de um poço
"O senhor trai seu povo e sua suposta ideologia com sua diatribe sem
substância", escreveu Almagro. "Negar ao povo esse voto, negar-lhes a
possibilidade de decidir o tornaria apenas mais um ditador mesquinho,
como tantos que este hemisfério já teve."
Enquanto a briga
continua, Mariángel González, 32, dois filhos, está mais preocupada com a
retirada do governo da vida cotidiana.As escolas públicas da Venezuela estão fechadas às sextas-feiras, em mais uma medida para economizar eletricidade. Por isso González esperava na fila com sua filha mais velha em um caixa automático enquanto seu marido cuidava do outro em casa.
"Neste momento minha menina deveria estar na escola elementar e o pequeno no jardim da infância", disse ela. "Meu marido e eu estamos inventando novas rotinas."
González, uma advogada autônoma, levava uma vida de classe média até recentemente. Mas diz que o fechamento do governo a deixou sem trabalho e sua família sem comida.
"A menina mais velha, que entende o que está acontecendo, diz: 'O que temos, mamãe: pão, arepas ou nada?'" Ela disse que em uma noite recente a família comeu apenas massa com ketchup.
Meridith Kohut/The New York Times
Maida Guerrero lava roupas depois de passar quatro dias sem água em casa, na favela de Catia, em Caracas
Para Vanessa Arneta, que mora com sete parentes em um apartamento nos arredores de Caracas, é a falta de água na cidade que causa mais problemas. A água só chega uma vez por semana, às quintas-feiras, ao seu bairro de San Antonio de los Altos.
Nesse dia, eles rapidamente dividem as tarefas. Um sobrinho entra no chuveiro enquanto o outro lava os pratos, diz Arneta. Um de seus irmãos lava o banheiro enquanto alguém enche baldes com água para guardar.
Mas Arneta diz que a água hoje tem uma cor amarronzada e está deixando a família doente. Muitos venezuelanos dizem ter irritações na pele por causa da água ou pela incapacidade de tomar banho e lavar lençóis e toalhas.
"Seu corpo está cheio de pequenas bolhas e elas cheiram muito mal", disse Arneta sobre uma das irmãs.
O governo da Venezuela diz que os problemas são consequência de uma "guerra econômica" que é travada pelas elites que acumulam suprimentos, assim como pelos esforços do governo dos EUA para desestabilizar o país.
Mas a maioria dos economistas concorda que a Venezuela sofre de anos de má gestão econômica, incluindo a dependência excessiva do petróleo e controles de preços que levaram muitas empresas a parar de fabricar produtos.
Alguns venezuelanos estão canalizando suas frustrações para demonstrações contra o governo. Os adversários de Maduro, que hoje controlam a Assembleia Nacional, vêm encenando protestos semanais em apoio ao referendo de revogação.
Meridith Kohut/The New York Times
Mural retratando o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, é visto em Caracas
Na quarta-feira, manifestantes se chocaram com policiais que dispararam gás lacrimogêneo contra o povo e foram atacados com garrafas e pedras.
"A situação econômica deste país é o colapso", disse Pablo Parada, um estudante de direito, que participava na semana passada de uma greve de fome na frente do escritório da OEA em Caracas. "Há pessoas passando fome."
Parada disse que o objetivo da greve é pressionar a OEA a pressionar as autoridades venezuelanas a permitir que o referendo se realize este ano, a única maneira de o país se recuperar, segundo ele.
Em geral há pouco tráfego em Caracas simplesmente porque poucas pessoas estão saindo, por falta de dinheiro ou de trabalho.
Há poucos dias, no centro da cidade, pedestres circulavam, mas quase todos os edifícios --incluindo vários museus, o registro público e um centro de seguridade social-- estavam vazios, dando a impressão de um feriado.
Só os guardas trabalhavam.
"Agora está nas mãos de Deus", disse um deles, Luis Ríos, ecoando uma frase comumente ouvida aqui.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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