O fim do centrão
Merval Pereira - O Globo
A organização da nova correlação de forças no
Congresso exigirá do presidente interino Michel Temer mais habilidade
que normalmente, pois se é certo que o centrão já não tem uma liderança
que o coloque em posição de disputar o poder parlamentar, o espírito que
o gerou, a vontade de ser partícipe desse novo núcleo político
majoritário, existe nos diversos partidos que o compõem.
Pequenos
grupos políticos surgidos em conseqüência de uma lei partidária que
parece ter como lema a velha máxima de que sempre cabe mais um, acabam
se transformando em máquinas de criar embaraços ao governo da ocasião
para literalmente vender facilidades em troca.
Um dos problemas na
reforma política que necessariamente terá que ser feita é justamente
permitir a criação de espécies de consórcios partidários, que teriam os
mesmos benefícios e privilégios dos partidos que atingissem o mínimo
necessário de votos para atuar no Congresso.
O centrão, por exemplo,
poderia se transformar num consórcio desses, e em vez de desidratar,
como gostaria presidente interino Michel Temer, ganharia consistência. O
difícil nessas situações é unificar siglas que não têm nada em comum a
não ser o desejo de participar do jogo político para benefício próprio.
E
são tantos os interesses específicos dessas pequenas siglas – que já
chegaram a reunir 300 deputados – que se torna impossível saber para que
lado seguirão. Se esse é um problema quase insolúvel para o centrão,
sua dissolução é uma boa notícia para a prática política.
Uma
tendência possível é que, diante da cláusula de barreira aprovada, esses
deputados procurem uma legenda mais forte, pois perderiam a facilidade
da coligação proporcional, principal responsável pela eleição de vários
desses deputados de poucos votos.
Diz o ministro Geddel Vieira Lima,
responsável pela ligação do governo com os partidos, que é incorreto
identificar esse grupo como centrão, já que os partidos teriam
identidades próprias. É uma maneira sutil de inflar o ego de cada
deputado desses para atraí-los para o governo, coisa que pode parecer
dispensável aos neófitos como a presidente afastada Dilma, mas é
fundamental nesse jogo de aproximações que, sendo um jogo, não tem
necessidade de refletir a realidade, mas apenas a aparência que cada
jogador gostaria de ter.
Mesmo que a maioria deles, ou todos, estejam
inclinados a estar próximos do governo, qualquer governo, é preciso
fingir que sua cooptação é fruto de uma negociação política, não uma
conseqüência quase automática de seu adesismo.
Peguemos Gilberto
Kassab, ministro das Comunicações, Ciências e Tecnologia de Temer,
ministro das Cidades de Dilma, um político de múltiplas facetas como se
vê. Criou do nada o PSD, um partido que, segundo sua definição, não é de
direita, nem de centro, nem de esquerda.
Pois é do PSD Rogério
Rosso, o candidato do Centrão que disputou o segundo turno, exemplo do
que está sendo desidratado para que a maneira de fazer política fique
mais transparente. Ninguém dirá isso no governo, mas o fim do centrão
tal como foi criado representa um avanço democrático que deve ser
comemorado.
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