Ação criminosa
O Estado de S.Paulo
O caso da ocupação e reintegração de posse de um
condomínio popular do programa Minha Casa, Minha Vida em Itaquera, na
zona leste, que deixou 22 invasores e dois policiais militares (PMs)
feridos, mostra que já está na hora de o poder público rever o seu
comportamento em relação aos chamados movimentos sociais voltados à
questão da moradia, em especial ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto
(MTST), que estão longe de ter a pureza que se atribuem, podendo mesmo
descambar para a criminalidade pura e simples. Além disso, deve também,
como propõe o Ministério Público Estadual (MPE), investigar a existência
de máfias que "vendem" moradias populares a famílias desavisadas.
Dessa vez, nenhuma liderança de "esquerda" - em geral com mal
disfarçada simpatia de altos funcionários federais - pode acusar o
governo estadual de truculência no cumprimento de ordem judicial, como
costuma acontecer. O enorme condomínio de 940 unidades, invadido por
cerca de 3 mil pessoas, é de um programa federal que é a menina dos
olhos da presidente Dilma Rousseff e a reintegração de posse foi pedida
pela Caixa Econômica Federal, que financiou sua construção. Ele foi
ocupado no fim de julho do ano passado e desde então a Caixa fez o que
pôde para recuperar pacificamente os imóveis.
Ela afirma em nota que os invasores "foram comunicados sobre a
reintegração no mês de setembro de 2013 por meio do oficial de Justiça" e
depois avisados por panfletos distribuídos pela Polícia Militar entre
dezembro e janeiro. De nada adiantou. Mas nesse caso houve outras coisas
igualmente graves. Em primeiro lugar, os invasores não tomaram
propriedades de burgueses, que na ótica de movimentos sociais devem
mesmo ter esse destino para reparar injustiças. As moradias eram
destinadas a famílias carentes com renda de até R$ 1.600, que se
tornaram suas vítimas. Elas tiveram seus direitos atropelados por
pessoas que quiseram furar a fila em que estavam.
Elas foram selecionadas pelo Minha Casa, Minha Vida, da mesma forma
que os governos estaduais e municipais fazem com seus programas
habitacionais. Mas o MTST não aceita essa regra. Quer passar por cima do
poder público em todos os seus níveis - federal, estadual e municipal -
e impor a distribuição das moradias populares de acordo com lista de
invasores feita pela entidade. Em resumo, quer se transformar numa
espécie de "poder popular", que dita as regras da distribuição de
imóveis construídos com dinheiro público, segundo seus critérios
ideológicos. Uma clara subversão da ordem, encarnada no caso desse
condomínio pelo governo do PT, que tem ministros que mesmo assim
cortejam "movimentos sociais".
Paralelamente a isso, há fortes indícios da existência tanto de
máfias que "vendem" moradias, conforme denúncia que o MPE deseja apurar,
como de outras que cobram para colocar famílias nas listas dos
programas habitacionais.
Outro aspecto preocupante do comportamento dos invasores do
condomínio de Itaquera foi o vandalismo. Antes de abandonar os imóveis,
numa ação em que a PM atuou com notável moderação, danificaram
seriamente centenas deles. Derrubaram portas e janelas e quebraram
vidraças, pias e vasos sanitários. Em outros apartamentos, colocaram
fogo em cortinas e colchões. E ainda furaram a caixa d'água do
condomínio. Foi como se dissessem - se eu não posso, outras pessoas
também não vão morar aqui. O rastro de destruição que deixaram com sua
ação criminosa - isto mesmo, criminosa - foi impressionante.
A Caixa garantiu "aos beneficiários de direito (os escolhidos pelo
programa do governo) que as unidades habitacionais serão entregues em
perfeito estado de habitabilidade". Vai custar caro ao contribuinte, mas
isso é o de menos.
O mais importante - porque isso pode evitar a repetição de casos
lamentáveis como esse - é saber se daqui para a frente as autoridades,
especialmente as do governo federal, vão concordar em ser tuteladas por
movimentos sociais que não hesitam em agir como bandidos para atingir
seus objetivos. O preço dessa rendição seria muito mais caro para o País
do que elas podem imaginar.
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