Defesa de territórios
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Em tempo de campanha eleitoral antecipada, os partidos
de oposição resolveram se adiantar no lançamento dos respectivos
candidatos à Presidência da República.
Pela lei, esses atos deveriam acontecer nas convenções que se
realizam a partir de 12 de junho (dia do início da Copa do Mundo). Mas, o
PSB já quer anunciar a chapa Eduardo Campos e Marina Silva em alguma
data logo após o carnaval e o PSDB em princípio escolheu o dia 29 de
março para lançar a candidatura de Aécio Neves.
O nome do vice ainda está em discussão, mas há por ora quase
unanimidade em torno do nome do senador por São Paulo Aloysio Nunes
Ferreira, também tucano.
Uma decisão está tomada: o ato de lançamento será em São Paulo, pelo
mesmo motivo que a composição da chapa deixa de adotar como regra a
aliança com outro partido e opta pelo critério regional.
Sendo São Paulo o maior colégio eleitoral do País (32 milhões dos 140
milhões de eleitores), a avaliação dos tucanos é que nesse caso uma
chapa puro-sangue agrega mais eleitores que uma aliança partidária.
Minas Gerais, palco do lançamento da candidatura do paulista Geraldo
Alckmin em 2006, é território dado como ocupado por Aécio, que precisa
conquistar a Pauliceia, onde já é bem conhecido do empresariado, mas
praticamente um anônimo entre o grande público.
Nos encontros com lideranças regionais do partido o mineiro tem dito
uma frase (de efeito, claro) que passará a repetir com frequência: "Me
deem São Paulo que eu lhes entrego a Presidência da República".
Pelo raciocínio da densidade eleitoral seria de se imaginar que
Eduardo Campos faria seu ato também em terras paulistanas, mas nesse
caso a equação é outra.
Leva em conta o peso de Marina Silva no Rio de Janeiro e por isso
será lá o anúncio oficial. Em 2010 a então candidata a presidente pelo
PV teve 31% dos votos no Rio, a segunda maior votação do País. A
primeira obteve em Brasília, onde foi a campeã, com 41, 96%.
Qual a ideia do PSB? Óbvia. Começar a jornada testando o potencial de
transferência de votos de Marina para Campos num Estado em que o
capital eleitoral dela é forte.
Lançar a candidatura em Pernambuco ou em outro Estado do Nordeste
seria chover no molhado; a mesma lógica adotada por Aécio ao não fazer
em Minas. Muito embora nenhum dos dois pretenda deixar os respectivos
Estados de lado, obedecendo à regra segundo a qual se começa a ganhar
uma eleição "em casa".
Os "tiros" iniciais refletem apenas os alvos escolhidos como pontos
de partida. E note-se que os dois continuam a atuar numa espécie de
parceria não escrita. Embora ambos precisem do Rio e de São Paulo, nem
Aécio nem Campos "invadiram" as arenas escolhidas por um e por outro
para oficializar as candidaturas.
Até quando vai durar o pacto de não agressão é uma pergunta que no
mundo político todos fazem. Mas os candidatos não parecem afobados.
Sabem que a hora chegará, mas que não é para já. Por enquanto precisam
conquistar terreno.
Isso quer dizer se tornar conhecidos do eleitorado. Espaço há. A
presidente Dilma Rousseff, conhecida por 99,6% das pessoas consultadas
nas pesquisas, tem 43,7% das intenções de votos.
Na última consulta divulgada pela CNT, na semana passada, 12,1%
diziam preferir que o próximo eleito (ou eleita) continue "totalmente" a
governar da forma atual. Só que 37,2% afirmaram o contrário: querem que
o governo seguinte mude completamente a maneira de atuar.
De onde parece evidente que o favoritismo decorre da exposição da
presidente em contraste com menor número de canais de comunicação à
disposição dos oponentes.
Se realidade ou mera impressão, poderemos conferir a partir do meio
do ano, quando a lei proíbe propaganda de governo e, apesar de Dilma
contar com 70% do horário eleitoral, nos programas de TV - notadamente o
Jornal Nacional -, todos têm espaço igual garantido. Foi o que, em
2010, fez a fama de Marina.
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