Reforma na laje ministerial
Presidente troca ministros, ninguém dá a mínima, mas rodízio pode dar problema
Vinicius Torres Freire
- FSP
Dilma Rousseff faz uma reforma ministerial. Quase ninguém dá a mínima, exceto envolvidos, essa gente de PMDB etc.
Um motivo óbvio do desprezo é que quase nenhum cidadão prestante sabe quem são os ministros. Não vale mesmo a pena.
Primeiro, porque os ministros são muitos, uns 40. Já é difícil lembrar os 11 titulares da seleção brasileira.
Segundo, porque os ministros são algo irrelevantes. Não são notáveis, embora alguns sejam notórios, e, no que interessa ao país, não raro o ministro é um 2 de paus.
A presidente muita vez nomeia o indivíduo para satisfazer um partido PMDB qualquer desses. O ministro leva como dote uma cota de boquinhas. Mas tem de aceitar que a presidente nomeie um zelador ou interventor.
Quando tem interesse na área, Dilma escolhe ou adota um secretário do ministério que tenha algum espírito público e conhecimento da coisa, com o qual discute os assuntos da pasta. Jornalistas de Brasília e políticos dizem que tal pessoa tem "perfil técnico". Isto é, alguém que não foi treinado nem está imediatamente disponível para a mumunha.
Em suma, Dilma é a ministra em áreas de seu interesse. Quanto ao resto, quando não os ignora, apavora seus comandados, centraliza demais e envolve-se em minúcias, com o que torna arrastados processos de decisão. Um jornalista do "Financial Times" escreveu, sarcasticamente, que Dilma decide a cor das apresentações ministeriais em PowerPoint.
Um ou outro ministério-feudo do PT tem mais autonomia, assim como uma ou outra pasta com burocracia e missão mais azeitadas (como o do Desenvolvimento Social) ou as salvas pela inapetência de Dilma, tais como Itamaraty, Justiça ou Agricultura, para lembrar as maiores.
Quase qualquer ministério, no entanto, está sujeito a ter de inventar (ou engolir) um programa desses com nome fantasia, Brasil Bonitinho, Brasil Mimimi, coisas buriladas por ministros informais da propaganda, assessores de marketing eleitoral que prestam serviços amigos durante o governo.
Com exceção do caso de Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, a reforma ministerial é uma operação tapa-buraco. Empresários não quiseram aceitar o Ministério do Desenvolvimento. Alguns temem participar de um naufrágio, de resto sem apitar nada, ou de queimar o filme com seus pares; a maioria não quis se sujeitar a ser tratorada por Dilma.
No entanto, esse rodízio deprimente pode dar problema. A presidente insiste em nomear um tipo do PMDB em vez de outro, um seis por um meia-dúzia.
Devido a essas diferenças, entre outros motivos, o PMDB ameaça Dilma e o país com a aprovação de projetos que vão arruinar ainda mais este governo. Não satisfeito, o PMDB junta sua fome com a vontade de empresários de comer o fígado do governo (ou, pelo menos, de comprar um fígado subsidiado), promovendo reuniões com capitães de empresa a fim de azucrinar e pressionar a presidente.
Que fase.
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