segunda-feira, 28 de abril de 2014

Dilma é vítima de uma ética excessiva e a culpa é sua, leitor!
Rodrigo Constantino - VEJA

Sim, essa é a conclusão da coluna de Renato Janine Ribeiro no Valor hoje. Após muitos rodeios, o professor titular de Ética e Filosofia Política na USP conclui que falta ética aos brasileiros e sobra à Dilma, eis seu grande problema. Janine escreve:
[...] uma presidenta séria, pouco disposta a brincadeiras, exigente com o Tesouro, isto é, com “o seu dinheiro, o meu, o nosso”, avessa a concessões em matéria de princípios – como o Código Florestal -, acreditando na coisa pública e inimiga dos malfeitos, nome que dá à corrupção. Nem a mídia mais hostil a seu governo e partido questiona sua honestidade. Num país em que a discussão política é pobre a ponto de se concentrar numa nota só, que é acusar o adversário de desonesto, ela é criticada por suas políticas e por sua eficiência, não por sua moral.
Exigente com o nosso dinheiro? É por isso que quase US$ 2 bilhões foram jogados fora com a compra da refinaria em Pasadena? É por isso que seu governo só faz aumentar gastos públicos sem retorno algum para a sociedade? É por isso que até programa para distribuir iPads foi criado pela presidente em claro ato demagógico de compra de votos? É por isso que ela tinha verdadeira obsessão com o trem-bala, um monstrengo que, caso colocado em prática, torraria dezenas de bilhões do nosso dinheiro? É por isso que o BNDES emprestou USR 1 bilhão para a ditadura cubana construir um porto? É por isso que seu governo transfere centenas de milhões a esta mesma ditadura para importar escravos ao país? É por isso que seu ministro faz tantos malabarismos toscos para continuar desperdiçando o dinheiro público e desrespeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal?
Avessa a concessões em matéria de princípios? Por isso ela disse que fará “o diabo” para ser reeleita? Por isso fecha parceria com todo tipo de escroque? Por isso realizou concessões e privatizações após anos demonizando tais práticas quando era o PSDB que estava no poder? Por isso Erenice Guerra estava em sua posse, após cair por escândalo de nepotismo e indícios de tráfico de influência? Por isso Carlos Lupi voltou para seu governo?
Dilma não é mais criticada por sua política e sua (falta de) eficiência por não haver crítica no aspecto moral, e sim porque sua péssima política e sua incrível ineficiência estão afundando de vez com a economia brasileira. Ou seja, chama mais a atenção. Mas seu governo é recordista em escândalos de “malfeitos”, eufemismo abusado pela presidente, aliás, o que já demonstra seu “rigor” ético contra a CORRUPÇÃO (nome mais adequado).
Para Janine, essa personalidade inflexível de Dilma é que lhe causaria tantos problemas:
Isso tem um custo político, que ela paga. Não é pragmática, queixam-se os empresários. Não gosta de política, reclamam políticos e colunistas. Nos dois casos, isso significaria que não escuta o outro, não quer ter notícias más, não faz concessões. Mas é tênue a linha separando essa descrição, que delineia um governante no limite do autoritário, e a do político sem princípios. Fazer uma negociação, que é coisa boa, está a apenas duas ou três letras de fazer uma negociata. Onde ficam as fronteiras da negociação, legítima, necessária na política, e da negociata, sua caricatura, sua negação?
A falta de pragmatismo não é por ser ética demais, e sim por ser ideológica demais, ou seja, age feito aqueles equinos com a visão tapada apontada apenas para uma única direção – no caso, uma totalmente equivocada. Fazer acordos e concessões é a essência do regime democrático. Não é preciso confundir isso com negociatas, desde que sejam concessões programáticas.
Ou seja, um partido cede parte de um projeto, faz concessões, pois precisa negociar com outros eleitos de forma legítima e que desejam coisas diferentes. Nem por isso tais trocas precisam envolver mesadas como no mensalão, ou seja, compra de votos. Não! As fronteiras podem nem sempre ser tão claras como o professor gostaria, mas é evidente que há negociações legítimas em qualquer democracia, necessárias, e há negociatas, as preferidas pelo PT de Dilma.
E eis que surge o verdadeiro culpado: você! Para Janine, a sociedade brasileira não pratica a ética, enquanto Dilma é ética demais da conta, e paga um preço alto:
Muitas críticas a Dilma, penso eu, exprimem um problema nosso, de nossa sociedade, não exatamente dela. Queremos ética na política, mas sabemos que na prática não é bem assim. Desconfiamos que a ética, na política, não entrega os bens desejados. Por isso, prestamos homenagem, da boca para fora, à moral, mas – pragmaticamente – aceitamos infrações a ela. Isso não é raro. Já vi pessoas que se indignavam com a desonestidade vigente mas sobrefaturavam a conta que emitiam. Essa divisão na personalidade, essa contradição ética entre a fala honesta e a prática desonesta, percorre a sociedade brasileira de cima em baixo. Ninguém esquece o senador goiano que era um dos críticos mais veementes da corrupção petista, estando, ele próprio, envolvido em negócios que lhe custaram o mandato.
Eu já vi pessoas enaltecendo a importância da fidelidade conjugal após chegar de um motel com a amante. Mas isso não faz todos nós canalhas, apenas aqueles que assim agem. Tal generalização é injusta e perigosa. Não nego que exista no Brasil uma permissividade grande com “malfeitos”, mas tenho alguns pontos a colocar: 1) nem todos agem assim, então vamos valorizar os mais éticos e condenar os demais; 2) há claramente gradações em “malfeitos”, e é preciso separar o joio do trigo, os casos mais banais daqueles que afetam mais gente e causam estrago muito maior; 3) o fato de muita gente relativizar a questão ética é justamente parte da explicação de por que o PT está no poder há tanto tempo; 4) espera-se que o exemplo venha de cima sim, ou seja, nada pior para a degradação moral do que as autoridades e as elites agindo de forma totalmente antiética.
Janine pode tentar aliviar a barra de Dilma e do PT junto, mas não vai conseguir. A realidade salta aos olhos de quem ainda os têm abertos. Dilma é péssima presidente pois é uma gestora incompetente, arrogante, inflexível com sua ideologia ultrapassada nacional-desenvolvimentista, incapaz de escutar os outros e admitir seus inúmeros erros, autoritária e grosseira com críticos.
Além disso, faz parte de um partido que é simplesmente o mais imoral de todos, e o faz em silêncio, ou seja, cumplicidade. A Dilma que não tolera malfeitos é um mito, uma construção de marketing, um engodo. Atribuir à suposta rigidez ética seus problemas de governança, como tenta Janine, é simplesmente ridículo.

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