terça-feira, 29 de abril de 2014

Israel fala em acordo com EUA ao suspender negociações e gera mal-estar diplomático
Isabel Kershner e Jodi Rudoren - NYT
Dias após suspender as negociações de paz no Oriente Médio mediadas pelos Estados Unidos, por causa de um pacto de reconciliação acertado entre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e seu rival, o Hamas, o grupo militante islâmico, Israel levantou na segunda-feira (28) uma nova fonte de tensão potencial com os Estados Unidos, devido à abordagem de Washington para o governo de união planejado pelos palestinos.
Israel declarou que não retomará as negociações com qualquer governo palestino que seja apoiado pelo Hamas, mesmo que o governo seja composto de figuras tecnocráticas apolíticas e políticos independentes, que atendam as condições internacionais para aceitação.
Uma autoridade israelense disse na segunda-feira que Israel recebeu no passado "um compromisso específico do governo americano" apoiando essa posição –uma alegação que parece contrariar alguns sinais mais recentes de Washington.
Um alto funcionário do Departamento de Estado disse na segunda-feira que o governo "não revelará detalhes de conversas privadas".
A autoridade israelense, que falou sob a condição de anonimato devido à questão diplomática ser delicada, disse que o compromisso foi feito a Israel durante o primeiro mandato do presidente Barack Obama e foi reafirmado desde sua reeleição. A autoridade não especificou se o compromisso foi feito por escrito ou pessoalmente pelo presidente.
Mas ela insistiu que o governo Obama apoiou a posição de Israel contra negociar com um governo de unidade, a menos que o Hamas aceite os princípios apresentados pelas potências mundiais, depois que o grupo islâmico venceu as eleições palestinas em 2006: reconhecer o direito de Israel existir, renunciar toda a violência e aceitar todos os acordos assinados anteriormente.
O Hamas continua rejeitando essas condições. Taher el-Nounou, um conselheiro de Ismail Haniyeh, o primeiro-ministro do grupo em Gaza, reiterou no domingo que o Hamas não reconheceria Israel.
Na ausência desse reconhecimento, Washington, como Israel, classificou o Hamas como um grupo terrorista e proíbe negociações diretas com ele.
Mas desde que as facções palestinas anunciaram o acordo para curar seu cisma na quarta-feira (23), incluindo os planos para formação de um governo de unidade composto por tecnocratas em cinco semanas e a realização de eleições seis meses depois, a posição do governo americano em relação ao governo de unidade parece menos clara.
Em uma reação inicial na semana passada, Jen Psaki, uma porta-voz do Departamento de Estado, chamou a ação palestina de "decepcionante" e o momento de "perturbador", ocorrendo dias antes da data de encerramento de 29 de abril para as negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos, que têm sido o foco do trabalho do secretário de Estado americano, John Kerry, e enquanto os negociadores trabalham febrilmente em uma fórmula para tentar prorrogá-la.
Psaki disse que "qualquer governo palestino deve se comprometer de forma explícita e não ambígua com a não violência, reconhecer do Estado de Israel e aceitar os acordos e obrigações anteriores entre as partes", sem fazer qualquer menção ao Hamas.
Ela acrescentou: "É difícil ver como pode-se esperar que Israel negocie com um governo que não acredita em seu direito de existir".
Posteriormente, quando perguntada se a exigência era para que o Hamas mudasse suas antigas posições, Psaki disse que se o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, "desejar prosseguir na reconciliação, o Hamas precisaria obedecer esses princípios para fazer parte do governo. Logo, se é um governo unificado, sim, eles precisam obedecer esses princípios".
Mas a declaração dela não pareceu responder às preocupações de Israel com um governo de unidade no qual o Hamas não participe diretamente.
O acordo de reconciliação visa curar um racha político e geográfico entre Abbas, cujo governo está situado na Cisjordânia, e o Hamas, que controla Gaza desde 2007. Abbas, que também é o líder da OLP e do partido Fatah que a domina, acertou vários acordos de unidade com o Hamas nos últimos anos, incluindo planos para um governo transitório de unidade e eleições, mas os acordos nunca tiveram sucesso.
Este acordo mais recente, que parece ter mais substância, pegou as autoridades israelenses e americanas de surpresa. Não há certeza de que seu resultado será diferente dos acordos fracassados que o precederam, possivelmente contribuindo para a não clareza na posição americana.
"As chances são contrárias à formação desse governo tecnocrático", disse recentemente um funcionário americano, falando sob a condição de anonimato. "Nós já vimos esse filme quatro vezes."
O governo israelense suspendeu as negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos com os palestinos um dia após o anúncio do pacto de unidade. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse: "Quem escolhe o terrorismo do Hamas não quer a paz".
Dore Gold, um alto conselheiro de Netanyahu e ex-embaixador de Israel na ONU, reiterou que Israel não negociará com um governo de unidade palestino enquanto o Hamas não aceitar os princípios internacionais.
"Nós não somos enganados por um grupo de cavalheiros vestindo ternos, enquanto na sala dos fundos, o verdadeiro controle é do Fatah e do Hamas", disse Gold em uma recente entrevista. "Os tecnocratas estarão sob clara direção dos dois movimentos."
Saeb Erekat, o negociador chefe da OLP, disse em uma entrevista na segunda-feira que ao longo das negociações, os israelenses perguntavam constantemente aos palestinos como eles lidariam com Gaza. Erekat disse ter dito aos israelenses: "Vocês estão certos. Nós devemos ter uma só autoridade, uma só arma e um só estado de direito. Assim, de acordo com o programa de Abbas, nós prosseguiremos com a reconciliação. Então eles dizem não, vocês escolheram o Hamas e não a paz".
A decisão de Israel de suspender as negociações, disse Erekat, foi "a decisão mais míope" que Israel poderia ter tomado.
Apesar da parceira de Israel nas negociações ser a OLP e não o governo da Autoridade Palestina, Naftali Bennett, o ministro da Economia de Israel e líder do partido Lar Judeu de direita, descreveu essas distinções como "acrobacias intelectuais".
"Abbas é o presidente da Autoridade Palestina. O mundo o reconhece assim. Agora o governo incluirá o Hamas e nós não falaremos com ele", ele disse aos repórteres em Jerusalém, no domingo.
Ele acrescentou: "Este é precisamente o ponto onde esperamos que o mundo mostre mais clareza e faça a coisa certa. Nos pedir para negociarmos com um governo apoiado pelo Hamas é como pedir aos Estados Unidos para negociar com um governo apoiado pela Al Qaeda, mesmo que esse governo diga que reconhece os Estados Unidos. Alguém consideraria isso?"

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