segunda-feira, 28 de abril de 2014

Na Austrália, investimento estrangeiro explica 'boom' do mercado imobiliário
Ella Delany - NYT
Compradores de classe média e aqueles que compram sua primeira casa estão sendo empurrados para fora do mercado imobiliário em expansão da Austrália, uma situação que levou a uma revisão parlamentar das leis de investimento estrangeiro para determinar se a onda recente de compradores de fora do país está contribuindo para o aumento dos preços. 
E enquanto a investigação da presidente do Comitê de Economia da Câmara afirma que não tem como alvo um país em particular, a maior parte das reportagens da mídia e comentaristas políticos dizem que foram as compras dos chineses que levaram à revisão.
Durante os últimos sete anos, os chineses compraram 24 bilhões de dólares australianos, ou US$ 22,6 bilhões em propriedades no país, de acordo com um relatório divulgado este ano pelo Credit Suisse.
Os estrangeiros têm direito a comprar apenas imóveis novos - embora vendas por procuração sejam apenas uma das formas de burlar a lei - e a Australian Broadcasting Corporation reportou que algumas instituições financeiras estimam que as vendas para chineses representam cerca de 12% de todos os imóveis novos.
Apesar da desaceleração econômica da China, o relatório do Credit Suisse estima que os chineses gastarão mais 44 bilhões de dólares em imóveis australianos ao longo dos próximos sete anos. (O valor total dos imóveis no país é de 5,02 trilhões de dólares, de acordo com o Escritório de Estatísticas australiano.)
"Nunca vi uma tendência assim em 30 anos trabalhando com imóveis, em termos de um grupo demográfico totalmente novo entrar no mercado australiano com tanto impacto", diz John McGrath, diretor-executivo da McGrath Estate Agents, com sede em Sydney. Ele observou que sua imobiliária vendeu recentemente para compradores chineses duas casas na faixa de 6 milhões de dólares, ambas no subúrbio de Mosman em Sydney.
O mercado imobiliário da Austrália é um dos mais caros do mundo. Os preços das casas nas grandes cidades subiram quase 10% no ano passado, e de acordo com o site Australian Property Monitors, a maioria dos subúrbios de Sydney agora têm preços médios de venda de mais de 1 milhão de dólares.
Não está claro o quanto, ou se parte, dessa mudança pode ser atribuído ao investimento chinês. Mas Kelly O'Dwyer, presidente da investigação do comitê da câmara, disse em um comunicado à imprensa recentemente que há preocupações de que "o investimento estrangeiro em imóveis australianos esteja causando uma distorção no mercado e tornando a moradia menos acessível e mais cara". Entretanto, ela enfatizou que o comitê examinará todos os investimentos antes de relatar suas descobertas em outubro.
Alguns observadores dizem que a situação se deve ao aumento da atividade local.
Por exemplo, os australianos que estão comprando propriedades para investimento receberam um recorde de 53,4% de todos os empréstimos imobiliários processados em janeiro em New South Wales, o estado onde fica Sydney. (Os investidores podem deduzir as perdas quando calculam os impostos devidos, uma política de longa data chamada "negative gearing".)
McGrath está entre os que não acreditam que os compradores chineses estão afetando os preços dos imóveis. "Acho que é importante observar que os chineses não estão comprando em todos os lugares", disse ele. "Consequentemente, eles não estão impulsionando os preços das propriedades para fora do alcance de todos os australianos."
Mas Simon Henry do site de imóveis Juwai.com, que atende a compradores chineses, diz que eles claramente influenciaram o mercado imobiliário de alto padrão.
"Pode-se dizer com certeza que os compradores chineses colocaram um piso sólido sob os preços no topo do mercado", disse Henry, que esteve envolvido com o mercado imobiliário australiano durante toda sua carreira. "Se os compradores chineses não estão impulsionando os preços, eles sem dúvida evitaram que caíssem."
E, ele acrescentou, "parece ser um consenso entre os corretores de propriedades de alto padrão que a cada quatro compradores, dois são chineses, um é inglês e um é local."
Vistas icônicas, como a Sydney Harbor Bridge e a Opera House, são importantes para esses compradores, dizem corretores. Duas casas com vista para o Porto de Sydney foram vendidas para compradores chineses na primavera de 2013: uma, chamada Altona, foi por 53 milhões de dólares em maio, e outra, apelidada de Bang and Olufsen, porque dizem ter a aparência de um sistema de som de luxo, foi vendida por 33 milhões de dólares em abril passado.
Contudo, diz McGrath, "os compradores chineses estão se tornando mais instruídos e astutos em relação as propriedades locais e várias localidade."Atualmente, 12 distritos são populares entre os compradores chinses, entre eles Hornsby, a noroeste do centro da cidade, e Parramatta, a oeste.
Os compradores chineses estão olhando para além de Sydney. "Eles não estão apenas comprando nas grandes cidades", disse Henry. "Eles compram nas imediações de cidades universitárias". Por exemplo, Newcastle e Cairns, ambas cidades de médio porte em New South Wales e Queensland, respectivamente, têm atraído interesse.
Observadores do setor acreditam que o interesse chinês pode ser atribuído, pelo menos nos últimos meses, ao programa Significant Investor Visa do país. Lançado em novembro de 2012, o programa oferece vistos para estrangeiros dispostos a gastar 5 milhões de dólares em investimentos aprovados.
Scott Morrison, ministro de imigração de proteção de fronteira, disse recentemente que mais de 91% dos pedidos de visto do programa vieram de cidadãos chineses.
A comunidade imobiliária fez o que pode para alimentar o interesse chinês, dizem observadores do setor. Como as imobiliárias de grandes cidades que atraíram chineses - entre elas Londres e Nova York - muitas na Austrália agora fazem propaganda de corretores que falam mandarim, têm opções de língua chinesa em seus sites e estão abrindo escritórios em grandes cidades chinesas. 
"Tivemos que de fato ensinar aos corretores australianos como trabalhar com os consumidores chineses", disse Henry, que coordena sessões de treinamento para corretores. "Por exemplo, a linguagem corporal é muito importante." 
"Na China, é importante receber cartões de visita pegando-os com as duas mãos, tomar tempo para ler o cartão e mantê-lo nas mãos durante toda a transação", ele explicou. "Muitos corretores pegavam o cartão, colocavam no bolso e então sentavam-se sobre ele."
Tradutor: Eloise De Vylder

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