quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Opositores rejeitam reforma de inteligência na Argentina após morte de promotor
Resposta à morte do promotor Nisman é tachada de ‘oportunista’
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Manifestantes seguram cartaz com a inscrição "Cristina Assassina" em protesto contra a presidente argentina. Oposição se manifestou no Congresso Nacional contra plano de reforma dos serviços de inteligência da presidente Cristina Kirchner Foto: Ivan Fernandez / AP
Manifestantes seguram cartaz com a inscrição "Cristina Assassina" em protesto contra a presidente argentina. Oposição se manifestou no Congresso Nacional contra plano de reforma dos serviços de inteligência da presidente Cristina Kirchner - Ivan Fernandez / AP
O projeto de reforma do sistema de Inteligência nacional anunciado na noite da última segunda-feira pela presidente argentina, Cristina Kirchner, foi rechaçado em massa pelos partidos opositores do país, que alertaram para o risco de uma maior concentração de poder em mãos do Executivo. Deputados da oposição se reuniram no Congresso para analisar o texto enviado pelo kirchnerismo e questionaram a “atitude oportunista” da presidente, que reuniu-se nesta terça-feira com um grupo de sobreviventes e familiares de vítimas do atentado à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), ocorrido em 1994, que matou 85 pessoas.
Embora nenhum funcionário do governo tenha participado da marcha convocada semana passada pelas principais associações civis da comunidade judaica para exigir o esclarecimento da morte do promotor Alberto Nisman (que estava à frente da unidade de investigações sobre o ataque), a chefe de Estado convidou membros do movimento 18J (o ataque ocorreu no dia 18 de julho) para reiterar o compromisso de seu governo com a verdade.
O encontro, realizado na residência oficial de Olivos, incluiu apenas um setor dos familiares de vítimas da Amia, que mantém uma boa relação com a Casa Rosada. O líder do grupo, Sergio Burstein, elogiou o que chamou de valentia da presidente ao promover a dissolução da atual Secretaria de Inteligência do Estado (Side), cujos agentes são considerados peças-chave no caso Nisman. De acordo com o kirchnerismo, o promotor — que denunciou Cristina e seu chanceler, Héctor Timerman, pela suposta negociação de um acordo secreto com o Irã para acobertar funcionários iranianos acusados de terem participado do ataque à Amia — foi vítima de uma operação executada por setores descontentes da Side. O objetivo, alegam os governistas, seria desestabilizar o governo. 
Enterro será nesta quinta-feira
Já outros grupos de familiares e importantes associações judaicas criticaram a atitude de Cristina desde que Nisman foi encontrado morto em seu apartamento de Puerto Madero, e consideram que existem fortes suspeitas sobre a responsabilidade do governo.
— Denunciamos que este projeto de reforma da Lei de Inteligência é uma manobra que vai aprofundar a politização dos organismos de Inteligência, com o objetivo de desviar a atenção da sociedade do problema central, que é a impunidade — declarou a deputada Margarita Stolbizer, líder da bancada do partido opositor GEN.
Deputados oposicionistas também exigiram que funcionários como o secretário de Segurança, Sergio Berni, que esteve no apartamento de Nisman no dia de sua morte, compareçam ao Congresso para darem explicações. Foi solicitada, ainda, a anulação do memorando de entendimento com o Irã, aprovado pelo Legislativo há dois anos, por iniciativa do kirchnerismo. 
A oposição assegura que o projeto significa a concessão de amplos poderes à Procuradoria-Geral da República, que representa os promotores e atualmente é comandada por Alejandra Gils Carbó, claramente alinhada com as políticas da Casa Rosada. Além disso, o projeto prevê mandatos de quatro anos para as autoridades da futura Agência Federal de Inteligência, o que obrigaria o futuro governo, a ser eleito no próximo dia 24 de outubro, a herdar um comando de Inteligência designado pelo kirchnerismo.
— A Secretaria de Inteligência deveria proteger os argentinos, e o kirchnerismo não tem credibilidade — declarou o chefe de governo portenho, Mauricio Macri, um dos candidatos mais fortes para as próximas eleições presidenciais.
Em meio às disputas entre governo e oposição, nesta quarta-feira será realizado o velório de Nisman. O corpo do promotor foi entregue nesta terça à sua família, após ser descartada a possibilidade de uma nova autópsia. O enterro será quinta-feira, no cemitério judaico de La Tablada, na Grande Buenos Aires. As investigações da promotora Viviana Fein continuam avançando, mas ainda sem resultados contundentes. Faltam exames de sangue, perícias sobre a arma, os telefones de Nisman e depoimentos.

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