Reinaldo Azevedo - VEJA
Autoridades têm de ter responsabilidade.
Autoridades são autoridades porque a função institucional que ocupam os torna… autoridades!
Autoridades são donas do seu corpo, mas não são donas do seu cargo.
Autoridades têm o direito à vida privada desde que a vida privada não comprometa a sua função pública.
Autoridades são autoridades porque a função institucional que ocupam os torna… autoridades!
Autoridades são donas do seu corpo, mas não são donas do seu cargo.
Autoridades têm o direito à vida privada desde que a vida privada não comprometa a sua função pública.
Rodrigo
Janot, procurador-geral da República, anunciou hoje, dia 27 de
fevereiro, que sua casa em Brasília foi arrombada e invadida no “fim de
janeiro”. Não sei o que quer dizer “fim de janeiro”, mas suspeito que
haja algum registro da ocorrência em alguma instância. Acabo de me
informar e asseguro que a casa do procurador-geral é guardada, desde
sempre, por uma esquema oficial de segurança. Os agentes federais
estavam dormindo nesse dia?
Como o
procurador-geral da República é procurador-geral da República, não
procurador-geral de si mesmo, nós deveríamos ter sabido dessa
ocorrência, não? A informação deveria ter vindo a público imediatamente.
Janot faz de si mesmo o que quiser; é problema dele. A segurança do
chefe do Ministério Público Federal é problema nosso.
Estou
desconfiando de que a invasão não tenha acontecido? Não! Se estivesse,
diria. Detesto o estilo oblíquo, que sugere, que infere, que se acovarda
no estilo, geralmente ruim. Estou dando fé. Se ele diz que foi, então
foi. Quero saber a razão de anunciar isso um mês depois.
Ele
próprio sugere algo de estranho, não um simples assalto. Afinal, os
invasores deixaram de levar uma pistola com três carregadores — e
assaltantes gostam de pistolas, certo? —, máquina fotográfica e outros
objetos de valor. Tudo ficou onde estava. Só levaram o controle remoto
do portão. Mesmo assim, Janot diz não acreditar que o evento tenha
alguma relação com a Operação Lava Jato. Então tá bom.
Na
conversa fora da agenda que Janot manteve com José Eduardo Cardozo, o
ministro da Justiça o teria alertado sobre o aumento do risco à sua
segurança. Por essa razão, nada menos de 80 agentes federais faziam o
protegiam nesta sexta, num evento do MP em Uberlândia, de solidariedade a
um promotor que sofreu um atentado. A Polícia Federal, que guarda o
procurador-geral, informa que o tal alerta, vocalizado por Cardozo, não
partiu dela. Então partiu de quem?
Cardozo,
esta figura exótica da República, disse a Janot que o aumento do risco
se deve a “radicais se avolumando em vários segmentos”. Radicais se
avolumando em vários segmentos? Em quais segmentos? Gente de extrema
direita? Gente de extrema esquerda? Gente da extrema-central? Gente de
extremo saco cheio? Quais segmentos?
Eu não
gosto dessa história de autoridades virem a público para anunciar
conspirações em marcha — ou sugerir alguma. Ou espalhar, de forma
solerte, que elas existam. Sempre acho que quem apela a esse expediente
está em busca de pedir à sociedade uma licença especial para
comportamentos heterodoxos.
Por
exemplo: é bastante heterodoxo que o procurador-geral se reúna com o
ministro da Justiça e com o vice-presidente da república — e chefe
inconteste do PMDB — pouco antes de tomar uma decisão importante. Se
Geraldo Brindeiro tivesse feito isso no governo FHC, teria sido chamado
de “estuprador-geral da República”.
Tendo
havido a invasão — e a minha ressalva apenas faz parte da retórica
decorosa, que procura chegar ao cento da questão —, eu me solidarizo com
o homem Janot. Mas aponto, então, o erro brutal cometido pelo
procurador-geral, que só agora informa a ocorrência. Quanto a José
Eduardo Cardozo, dizer o quê? Eu nunca tenho nada de diferente a
recomendar a este senhor: sempre é a demissão.
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