Uma longa Quaresma
Igor Gielow - FSP
BRASÍLIA - Nos tempos de outrora, católicos observavam a Quaresma
na qual estamos com sentido de penitência pelos pecados cometidos,
visando a redenção na Páscoa.
Hoje o governo Dilma passa por algo semelhante, coincidentemente no
mesmo período de vigília religiosa. Tenta purgar seu pecados, mais ou
menos admitidos em forma de um arrocho fiscal, embora sempre haja na
praça um bufão de um Carnaval que teima em não acabar.
Hoje esta figura atende pelo nome de Lula, ao incitar as células
dormentes do MST e da CUT a ir às ruas contra a "elite golpista" que,
claro, inventou o formidável esquema de drenagem financeira da Petrobras
em favor de partidos e empreiteiros.
Tudo o que o governo não precisa agora é disso. Se é do jogo e algo
vazio ver a presidente criticar a mesma agência de classificação de
risco que antes causava sorrisos ao conceder graus de investimento, a
cada vociferação de Lula sobre o "exército do Stédile" ou para "irmos à
guerra" o Planalto é pressionado ainda mais sobre o fio de uma lâmina.
Doze anos de guerra cultural promovida pelo petismo cobram um preço. Os
espectros aparecem de lado a lado, como o ruinoso Guido Mantega percebeu
no triste episódio em que foi hostilizado em um hospital.
Em princípio, os protestos contra Dilma em 15 de março se mostravam mais
como um espasmo da rejeição ao PT em São Paulo e outros centros. A
greve de caminhoneiros e a crise tucana no Paraná mostram, porém, que
talvez haja um germe em desenvolvimento nas tais "ruas".
A conjuntura econômica tenebrosa, com o aumento do desemprego minando o
último bastião do governo na área, insinua fermento para uma reação em
cadeia que ainda não foi detectada --com um cenário institucional
desfavorável, vide o Congresso sob o PMDB. Neste caso, a Quaresma que o
governo espera ver superada em 2016 ou 2017 poderá mostrar-se ainda mais
prolongada.
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