O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, se oferece para mediar entre o governo e a oposição
Cecilia Ballesteros - El País
Reprodução/Twitter
Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, um dos países acusados pela Venezuela de participar de um suposto complô contra o governo de Nicolás Maduro, ofereceu-se na última quarta-feira (25) como mediador entre as autoridades e a oposição venezuelanas para buscar uma saída para a crise provocada pela detenção há uma semana do prefeito de Caracas e a morte a tiros, na terça-feira, de um adolescente em uma manifestação.
"Podemos colocar nosso grãozinho de areia, sempre respeitando a autonomia da Venezuela", disse.
Santos, quase o único presidente em exercício na América Latina que condenou a detenção do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, voltou a mostrar sua "preocupação" pelo destino do governante, encarcerado na mesma prisão em que permanece há um ano o líder de oposição Leopoldo López.
Insiste no diálogo entre ambas as partes, afirmando que uma troica formada pelos ministros das Relações Exteriores do Peru, da Colômbia e do Brasil está pronta para atuar se for solicitada.
"O futuro é só se ambas as partes se sentarem para dialogar, de outra forma será muito difícil", indica.
"Em meio ao clamoroso silêncio de muitos governos e a hesitação da Unasul, parece-me uma medida louvável. Pelo menos Santos se molha, coisa que outros não fazem", afirma Carlos Malamud, analista para a América Latina do Real Instituto Elcano de Madri.
"Outra coisa muito diferente é que se consiga avançar no diálogo. Não é possível nas atuais circunstâncias e no clima belicista instaurado pelo governo de Maduro."
À voz de Santos soma-se à do presidente uruguaio José Mujica, que deixará o cargo no domingo e que teme "um golpe militar de esquerda na Venezuela.
Com isso a defesa democrática vai para o c...", afirmou Mujica em entrevista publicada na quarta-feira pelo jornal uruguaio "El País". Segundo Mujica, que preside temporariamente a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), na oposição venezuelana haveria dois setores: "O de Henrique Capriles e os que querem um golpe de Estado", e alertou para que não saiam da via institucional.
"Agora que tentávamos apagar o incêndio na Colômbia, temos o da Venezuela."
A América Latina parece dividida sobre Nicolás Maduro, assim como ocorreu com Hugo Chávez, embora vá se decantando por buscar uma saída, depois do silêncio dos primeiros dias.
Bolívia, Cuba e Argentina, aliados de Caracas, tomaram partido pela teoria conspiratória contra o regime, rejeitada por Washington e na qual, além de EUA e Colômbia, estaria a Espanha, enquanto Brasil e México optaram pela condenação morna.
O primeiro, com a Chancelaria brasileira somando-se ao comunicado da Celac no qual expressava sua preocupação e solidariedade com a Venezuela e instava ao diálogo entre as duas partes, apesar de a presidente Dilma Rousseff ter qualificado a recente violência como "assuntos internos".
O segundo, na mesma linha, segundo os analistas, é o México. Só na quarta-feira condenou os fatos, depois de se saber da morte do estudante. "A situação é lamentável", afirmou o secretário das Relações Exteriores, José Antonio Meade, que também pediu o diálogo.
"Muitos governos temem criticar Maduro porque eles mesmos infringem os direitos humanos e o regime da lei", disse Michael Shifter, presidente do grupo de pensadores Diálogo Interamericano, em Washington. "Atravessam períodos difíceis e estão centrados em suas agendas. Inclusive as críticas mornas receberam respostas muito agressivas."
No mesmo sentido se manifesta Laura Tedesco, da Fundação para as Relações Internacionais e o Diálogo Exterior (Fride). "Maduro tem o apoio regional não por suas ações nem por suas conquistas, mas porque foi posto na presidência por Chávez.
Todos aceitaram Maduro, mas agora aquela decisão de Chávez está muito distante e enfrentamos diariamente a crescente irracionalidade de Maduro. Seus embates a uma democracia já demasiado fragilizada não podem ser defendidos por seus parceiros latino-americanos.
Talvez por isso é melhor refugiar-se no silêncio. Os presidentes democráticos da América Latina podem defender que um prefeito seja preso sem arriscar críticas domésticas? Pode-se defender a morte de um manifestante de 14 anos? Diante da complexidade da situação, os tradicionais parceiros do chavismo preferem o silêncio. Lamentavelmente, isso demonstra que a região ainda tem muito a fazer para defender a democracia."
Enquanto isso, o Parlamento Europeu realizou na quarta-feira um debate sobre a Venezuela no qual a maioria dos grupos pediu a libertação de Ledezma e o fim da repressão, exceto a Esquerda Unida e o Podemos. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também expressou ontem sua preocupação.
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