Pulando na frigideira
Hélio Schwartsman - FSP
SÃO PAULO - O que vai na cabeça de políticos? Qual mecanismo os leva a atitudes que a maioria de nós consideraria irracionais?
Estamos agora diante de dois exemplos intrigantes. A presidente Dilma
Rousseff, do PT, e o governador do Paraná, o tucano Beto Richa,
disputaram e venceram sua própria sucessão. Até aí, tudo normal.
Políticos costumam mesmo concorrer em eleições com a meta de ganhar. Não
hesitam muito em mentir, adotar plataformas populistas, apelar ao caixa
2 etc. para lograr esse objetivo.
O problema é que, nestes casos em particular, como ambos estavam no
poder, tinham pleno conhecimento da encrenca que os aguardava. Por que,
então, se engajaram numa missão quase suicida, com reduzidíssimas
chances de fazerem uma boa gestão e com o sério risco de ver suas
biografias apequenadas?
A melhor explicação que vislumbro está na noção de autoengano, que
alimentou neles a ilusão de que poderiam se sair bem. No modelo proposto
pelo biólogo Robert Trivers, nós nos deixamos iludir por nossas
fabulações porque essa é a melhor maneira de mentir de modo convincente.
Se não consideramos o que dizemos como falsidade, ninguém vai nos
apanhar exibindo os sinais de nervosismo típicos de quem mente.
Pode parecer meio infantil, mas os sinais de que a maioria de nós se
deixa levar por algum nível de autoengano são ubíquos. Eles são
particularmente evidentes em pesquisas, como as que revelam que 87% dos
alunos de MBA de Stanford julgam sua performance acadêmica acima da
mediana da escola ou que 93% dos americanos acreditam que são motoristas
mais hábeis que a média.
O fato de a estratégia ser eficaz, não significa que não produza efeitos
colaterais indesejáveis. Como escreveu Steven Pinker, "o autoengano é a
mais cruel das motivações, pois ele nos faz sentir bem quando estamos
errados e nos encoraja a lutar quando deveríamos nos render".
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