Homens que pretendiam se juntar ao EI eram monitorados desde agosto nos EUA
Marc Santora, Stephanie Clifford e Al Baker - NYT
Jewel Samad/AFP
Nos últimos meses, segundo as autoridades, Saidakhmetov decidiu ir aos campos de morte e se juntar à luta. Mas antes que pudesse partir para a guerra, ele primeiro necessitava pegar seu passaporte com sua mãe.
Saidakhmetov foi preso na quarta-feira (25), juntamente com dois outros homens do Brooklyn, Abdurasul Hasanovich Juraboev, 24 anos, e Abror Habibov, 30 anos. Eles foram acusados de fornecer apoio ao Estado Islâmico, alegações detalhadas no inquérito de 23 páginas preparado pelo FBI e que o gabinete da promotoria federal no Brooklyn impetrou na Justiça.
O caso representa a primeira vez que acusações de terrorismo são impetradas publicamente contra alguém em Nova York, por tramar viajar para o exterior para combater sob a bandeira do grupo terrorista, e intensificou as preocupações com a ameaça global representada pela organização.
Nos últimos meses, o Estado Islâmico conseguiu atrair um grande número de simpatizantes, de meninas adolescentes em Londres a jovens descontentes nos países árabes.
Os três homens presos em Nova York não parecem se encaixar facilmente em um "tipo". Eles não se destacavam em seu bairro e vestiam roupas ocidentais. Mas de modo privado, esbravejavam contra o que consideravam o mau comportamento ao seu redor. As autoridades não revelaram nenhum antecedente criminal dos homens, mas online e em conversas gravadas, os homens pareciam ter prazer em sonhar com massacres sangrentos.
Juraboev, um cidadão do Uzbequistão, e Saidakhmetov, um cidadão do Cazaquistão, vivem nos Estados Unidos há vários anos e ambos contam com status de residência permanente. Eles compartilhavam um apartamento alugado pela mãe de Saidakhmetov.
Em casos anteriores de terrorismo, notou uma autoridade, os suspeitos frequentemente tentavam se misturar com seus arredores. Esse foi o caso dos sequestradores do 11 de Setembro, disse a autoridade, notando que "visando desenvolver cobertura, eles iam a restaurantes, bares de striptease e para Las Vegas".
"Estes caras não faziam muita coisa", disse a autoridade, que falou sob a condição de anonimato devido à investigação ainda estar em andamento. "Eles passavam muito tempo online, passavam muito tempo no trabalho e só."
O advogado de Saidakhmetov, Adam D. Perlmutter, disse na quarta-feira que a dependência do governo de um informante confidencial remunerado era uma preocupação. "Ele foi bastante instigado por um informante confidencial, segundo o inquérito", disse Perlmutter. "Ele é um garoto. Ele está obviamente assustado. As táticas grosseiras do governo federal estão em ação aqui, como de costume."
Apesar dos homens frequentarem várias mesquitas e terem se encontrado com um informante confidencial do governo em uma dessas mesquitas, as autoridades disseram que não há evidência de que os ensinamentos nesses locais alimentaram o desejo deles de se juntar ao Estado Islâmico. "Não há nenhuma indicação de que alguma mesquita teve algo a ver com a radicalização", disse a autoridade. "As mesquitas não tiveram nada a ver com isso, fora serem locais de oração para essas pessoas."
Habibov, que foi preso na Flórida, é acusado de financiar a trama para viajar para a Síria e de encorajar o grupo. Cidadão uzbeque, ele chegou aos Estados Unidos em 2006, mas seu visto expirou. Farhod Sulton, o presidente da Federação Vatandosh Uzbeque-Americana, que opera um centro cultural, uma mesquita e um jornal no Brooklyn, conhecia um pouco Habibov.
"Eu já me encontrei com ele. É um sujeito religioso. Ele estava meio que perdido. Não tinha nenhuma educação, sobre o Uzbequistão, sobre religião ou sobre os Estados Unidos", ele disse. "Era apenas um seguidor cego."
Juraboev chegou ao país em 2011 e Saidakhmetov chegou ao país em 2012. Eles parecem ter feito poucos amizades desde que chegaram ao Brooklyn. Em agosto, segundo o inquérito, eles se encantaram pelo Estado Islâmico.
Em 8 de agosto, Juraboev postou uma mensagem em um site simpatizante do Estado Islâmico: "Saudações. Nós queremos jurar fidelidade e nos comprometermos, apesar de não estarmos presentes aí. Eu estou agora nos Estados Unidos, mas não temos nenhuma arma. Mas é possível nos comprometermos como mártires dedicados enquanto estamos aqui".
Essa postagem chamou a atenção dos agentes federais, que visitaram Juraboev. Segundo o inquérito, ele confessou ter feito a postagem, identificou Saidakhmetov como alguém que sentia o mesmo que ele, e chegou até mesmo a dizer aos agentes que mataria o presidente Barack Obama se fosse ordenado pelo Estado Islâmico.
Após duas visitas ao seu apartamento, os agentes não abordaram Juraboev diretamente de novo, em vez disso optando por monitorá-lo e a seus associados. Em dezembro, pouco antes do Natal, a mãe de Saidakhmetov visitou o apartamento e perguntou por quanto tempo Juraboev pretendia morar ali.
Ele disse para ela que pretendia partir em março, segundo o inquérito. Quando ela perguntou para onde ele iria, ele disse que para o Uzbequistão, mas posteriormente confidenciou ao informante que, na verdade, pretendia usar a viagem ao Uzbequistão como cobertura para ir à Síria.
Juraboev e Saidakhmetov compraram passagens –eles planejavam viajar para a Turquia e então entrar na Síria– e à medida que a data da viagem se aproximava, eles pareciam mais ansiosos. Mas Saidakhmetov ainda precisava de seu passaporte e, em 19 de fevereiro, ele ligou para sua mãe. Em uma conversa gravada pelos agentes federais, ele pediu seu passaporte. Ela perguntou para onde ele ia. Ele disse que iria se juntar ao Estado Islâmico.
"Se uma pessoa tem a chance de se juntar ao Estado Islâmico e não o faz, no dia do juízo será perguntado a ele o motivo, e é pecado viver em uma terra de infiéis", ele teria lhe dito, segundo o inquérito. Ela desligou o telefone. Não está claro se ele conseguiu seu passaporte posteriormente.
Mas o informante confidencial do governo ajudou Saidakhmetov a obter os documentos de viagem. Dias antes de sua partida, ele disse ao informante que sua alma já estava a caminho do paraíso. Ele disse que assim que chegasse na Síria, ele rasgaria seus documentos, pronto para dar início a uma nova vida.
Na manhã de quarta-feira, agentes federais estavam à espera dele no Aeroporto Internacional Kennedy e o prenderam assim que entrou na ponte de embarque.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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