Procurador omite encontros com vice e ministro da Justiça
Às vésperas de ações contra políticos, Janot se reúne com Temer e Cardozo
Assunto foi segurança pessoal do chefe do Ministério Público, e não investigação sobre Petrobras, diz governo
VERA MAGALHÃES - FSP
A poucos dias de apresentar a lista de políticos suspeitos de
envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras, o procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, manteve nesta semana encontros reservados
com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o vice-presidente da
República, Michel Temer.
As duas reuniões não foram registradas em nenhuma agenda oficial.
Janot encontrou Cardozo na noite desta quarta-feira (25) e Temer na manhã de quinta-feira (26).
O procurador deverá apontar na próxima semana os nomes dos políticos que
serão alvo de inquéritos. Deputados e senadores só podem ser
investigados com autorização do Supremo Tribunal Federal.
Principal interlocutor de Janot no governo, Cardozo teve nas últimas
semanas encontros reservados com advogados de empreiteiras investigadas
pela Operação Lava Jato. A Polícia Federal, responsável pelas
investigações, é subordinada ao ministro.
Janot e Cardozo deram versões coincidentes para o seu encontro, revelado pela Folha, mas mudaram suas versões ao longo desta quinta.
Primeiramente, o procurador-geral disse que a reunião tinha sido para
discutir a apresentação de um projeto de lei de iniciativa conjunta do
Ministério Público Federal e do Ministério da Justiça.
Cerca de 20 minutos depois, Cardozo respondeu nos mesmos termos. "Estive
discutindo com o procurador-geral medidas legislativas para
encaminhamento ao Congresso em áreas de atribuição comum entre o Poder
Executivo e o Ministério Público Federal", afirmou o ministro.
Por volta do meio-dia, foi divulgada nova versão, simultaneamente pelos
dois lados. Cardozo teria avisado a Janot de que a área de inteligência
do governo detectou um aumento do risco à segurança do procurador e
sugeriu que ele reforçasse sua segurança.
A assessoria da Procuradoria-Geral da República informou que medidas
para incrementar o aparato de segurança foram adotadas já nesta quinta,
mas não as detalhou.
Cardozo não teria detalhado, na reunião, esses riscos, nem a quais
órgãos de inteligência se referia, mas disse ao procurador que haveria
"radicais se avolumando em vários segmentos", de acordo com relatos
feitos à Folha.
A explicação para o encontro com Michel Temer, que é também presidente
do PMDB, foi outra. A conversa ocorreu na residência oficial de Temer, o
Palácio do Jaburu.
Segundo a assessoria da Procuradoria, Janot foi pedir a Temer a garantia
de que os recursos para reajustes salariais no Ministério Público serão
mantidos no Orçamento.
Ainda de acordo com assessores, Janot e Temer não trataram dos políticos
que serão alvo da Operação Lava Jato. A expectativa é que o PMDB,
partido do vice-presidente, tenha alguns de seus expoentes incluídos na
lista.
A Comissão de Ética da Presidência da República pediu nesta semana a
Cardozo explicações sobre os encontros que ele teve com advogados de
empreiteiras. O ministro afirma que é seu dever receber os advogados e
que só tratou da Operação Lava Jato em um desses encontros, que foi
registrado em sua agenda.
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