sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Procurador omite encontros com vice e ministro da Justiça
Às vésperas de ações contra políticos, Janot se reúne com Temer e Cardozo
Assunto foi segurança pessoal do chefe do Ministério Público, e não investigação sobre Petrobras, diz governo 
VERA MAGALHÃES - FSP
A poucos dias de apresentar a lista de políticos suspeitos de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, manteve nesta semana encontros reservados com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o vice-presidente da República, Michel Temer.
As duas reuniões não foram registradas em nenhuma agenda oficial.
Janot encontrou Cardozo na noite desta quarta-feira (25) e Temer na manhã de quinta-feira (26).
O procurador deverá apontar na próxima semana os nomes dos políticos que serão alvo de inquéritos. Deputados e senadores só podem ser investigados com autorização do Supremo Tribunal Federal.
Principal interlocutor de Janot no governo, Cardozo teve nas últimas semanas encontros reservados com advogados de empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato. A Polícia Federal, responsável pelas investigações, é subordinada ao ministro.
Janot e Cardozo deram versões coincidentes para o seu encontro, revelado pela Folha, mas mudaram suas versões ao longo desta quinta.
Primeiramente, o procurador-geral disse que a reunião tinha sido para discutir a apresentação de um projeto de lei de iniciativa conjunta do Ministério Público Federal e do Ministério da Justiça.
Cerca de 20 minutos depois, Cardozo respondeu nos mesmos termos. "Estive discutindo com o procurador-geral medidas legislativas para encaminhamento ao Congresso em áreas de atribuição comum entre o Poder Executivo e o Ministério Público Federal", afirmou o ministro.
Por volta do meio-dia, foi divulgada nova versão, simultaneamente pelos dois lados. Cardozo teria avisado a Janot de que a área de inteligência do governo detectou um aumento do risco à segurança do procurador e sugeriu que ele reforçasse sua segurança.
A assessoria da Procuradoria-Geral da República informou que medidas para incrementar o aparato de segurança foram adotadas já nesta quinta, mas não as detalhou.
Cardozo não teria detalhado, na reunião, esses riscos, nem a quais órgãos de inteligência se referia, mas disse ao procurador que haveria "radicais se avolumando em vários segmentos", de acordo com relatos feitos à Folha.
A explicação para o encontro com Michel Temer, que é também presidente do PMDB, foi outra. A conversa ocorreu na residência oficial de Temer, o Palácio do Jaburu.
Segundo a assessoria da Procuradoria, Janot foi pedir a Temer a garantia de que os recursos para reajustes salariais no Ministério Público serão mantidos no Orçamento.
Ainda de acordo com assessores, Janot e Temer não trataram dos políticos que serão alvo da Operação Lava Jato. A expectativa é que o PMDB, partido do vice-presidente, tenha alguns de seus expoentes incluídos na lista.
A Comissão de Ética da Presidência da República pediu nesta semana a Cardozo explicações sobre os encontros que ele teve com advogados de empreiteiras. O ministro afirma que é seu dever receber os advogados e que só tratou da Operação Lava Jato em um desses encontros, que foi registrado em sua agenda.

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