Reinaldo Azevedo - VEJA
Curioso este
governo Dilma: negocia com bandidos, recebe invasores que partem para a
porrada, deixa-se fotografar com seus líderes, mas endurece o jogo com
quem trabalha e tem demandas que são, sim, justas.
Explico-me.
Gilberto Carvalho, ex-secretário-geral da Presidência, confessou em
entrevista que se encontrou com black blocs depois das tais jornadas de
junho de 2013. Numa das conversas, ele revelou, um deles atirou um rolo
de papel higiênico contra a autoridade. Carvalho continuou conversando.
Entendo.
No dia 12
de fevereiro do ano passado, uma manifestação do MST na Esplanada dos
Ministérios deixou, atenção!, 30 policiais militares feridos. Carvalho
foi bater um papinho com eles, e Dilma, ela mesma, os recebeu em palácio
no dia seguinte. Afinal, como se sabe, eis um governo que dialoga.
Com os
caminhoneiros, que são trabalhadores, a postura é bem outra. São as
primeiras vítimas da recessão em curso do governo da companheira. A
categoria está na lona. A equação que junta elevação dos combustíveis,
preço do frete e queda das commodities quebrou as pernas da turma, que
se manifesta Brasil afora bloqueando as estradas.
Já escrevi
aqui e já disse no programa “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan: não
endosso manifestações que cassam das pessoas o direito de ir e vir. Acho
que é possível fazer de outro modo. Mas compreendo a justeza das
reivindicações e acho que o governo tem de negociar. Houve, sim, uma
reunião com lideranças dos caminhoneiros. Ocorre que são sindicalistas
pelegos, que não representam os que estão efetivamente parados.
Jose
Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, resolveu endurecer o jogo, a mando
de Dilma. Afirmou que os nomes dos motoristas multados por infração de
trânsito nos bloqueios de estradas serão enviados aos juízes para
viabilizar a cobrança das multas por descumprimento das ordens judiciais
de desbloqueio. As multas da Justiça estão fixadas entre R$ 5.000 e R$
10 mil por hora para cada caminhoneiro. O ministro afirmou, ainda, que
pediu à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar crimes
cometidos ao longo dos protestos, inclusive a suspeita de que empresas
estariam por trás das manifestações.
Pois é…
Pelo visto, o que falta aos caminhoneiros que estão bloqueando as
estradas é um selo de qualidade ideológica. Pertencessem a um dos
aparelhos que estão na rede de apoio ao petismo, não estariam sendo
perseguidos pelo governo. Ou vocês já viram o MST, liderado por João
Pedro Stedile, e o MTST, liderado por Guilherme Boulos, arcar com o peso
das ilegalidades que promovem? Ao contrário: Dilma se deixa fotografar
ao lado desses patriotas.
No fim das
contas, o mal dos caminhoneiros é trabalhar, é pagar impostos. Fossem
meros invasores da propriedade alheia, mas com pedigree ideológico,
estariam sendo abraçados por Dilma e Cardozo.
Dilma está em maus lençóis. A companheira é hoje a principal promotora do protesto do dia 15 de março.
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