Já dá para ouvir o 15 de março
A pantomima petista chegou ao fim. O custo é imenso. E vai cobrar a fatura de gerações, podem escrever
Reinaldo Azevedo
- FSP
"Soc, poft, pow! Coxinha. Golpista!"
Eis o som presente do mar futuro de gente nas ruas no próximo dia 15.
Ali vão as onomatopeias e vitupérios produzidos pelos milicianos
petistas contra pessoas comuns, que pagam impostos e estão cansadas de
ser roubadas. Pois é... Os companheiros acham que chegou a hora de nos
pegar na porrada.
Na segunda, enquanto Lula e seus "tontons macoute" faziam um ato "em
defesa da Petrobras", no Rio --o que supõe distribuir sopapos didáticos
para ensinar a essa brasileirada o valor do patriotismo--, a Moody's
anunciava o rebaixamento da nota da estatal. Bastava que caísse um
degrau para passar do azul para o vermelho, do grau de investimento para
o especulativo. Mas a agência empurrou a empresa escada abaixo: a queda
foi logo de dois --e ainda com viés negativo.
A presidente Dilma Rousseff, com a clarividência habitual, atribuiu a
decisão "à falta de conhecimento". É verdade. A agência, o mercado e
todo mundo desconhecem, por exemplo, o balanço da empresa. O que se dá
como certo é que o governo indicou uma diretoria para o exercício da
contabilidade criativa, com Aldemir "Hellôôô" Bendine à frente. A crise,
no Brasil, também é brega.
A realidade ganhava, assim, traços de caricatura, de narrativa barata,
de roteiro de filme de segunda linha. Enquanto Lula, o grande sacerdote
do modelo que levou a Petrobras ao desastre, oficiava na ABI mais uma de
suas missas macabras, disparando contra elites imaginárias, a empresa
passava a arcar com mais um custo das forças malignas que ele conjurava.
Havia pouco, Paulo Okamotto, o sócio do Babalorixá de Banânia,
explicara em entrevista como o partido lida com as empreiteiras:
"Funciona assim: 'Você está ganhando dinheiro? Estou. Você pode dar um
pouquinho do seu lucro para o PT? Posso, não posso.'"
Das expressões ou palavras que criei para definir esses seres exóticos,
"petralha" é a mais popular, mas não é a de que mais me orgulho. Gosto
mesmo é de "burguesia do capital alheio", que é como chamo os
companheiros desde meados da década de 90, antes ainda de sua ascensão,
quando fingiam ares de resistência.
Sempre me impressionou a facilidade com que se insinuavam nas estruturas
do Estado e das empresas privadas e passavam a ser beneficiários do
esforço de terceiros. Voltem lá a Okamotto. Jamais lhe ocorreria indagar
se os empresários podem dar um pouco do seu risco ao PT. O partido se
apropria é de uma parte do lucro. A expressão que criei serve para
designar o petismo, mas poderia definir a máfia.
O modelo entrou em colapso. Se Dilma será ou não impichada, não sei. Como escrevi nesta Folha,
golpe é rasgar a lei e a Constituição democraticamente pactuadas. O que
dá para saber, e isto é certo, é que a pantomima petista chegou ao fim.
O custo é imenso. E vai cobrar a fatura de gerações, podem escrever. As
ruas vêm aí, e Lula, o irresponsável da segunda-feira, com seus
milicianos, nada pode fazer pela governanta. Ao contrário: é ele, hoje,
quem a desestabiliza.
A presidente tem de se escorar no braço de Eduardo Cunha e repetir
Blanche DuBois, a doidona de "Um Bonde Chamado Desejo", quando decide
seguir pacificamente para o hospício, em companhia de um alienista:
"Seja você quem for, eu sempre dependi da boa vontade de estranhos".
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