Executivos da Camargo viram delatores
Procuradores acertam acordo com presidente e vice da empresa, que terão de relatar crimes da empreiteira
Acerto prevê multa de R$ 10 mi e revelação de irregularidades além da Petrobras, como na usina de Belo Monte
MARIO CESAR CARVALHO - FSP
Dois executivos da cúpula da empreiteira Camargo Corrêa fecharam na
noite desta sexta-feira (27) um acordo de delação premiada com
procuradores e policiais federais da Operação Lava Jato.
Eles são os primeiros integrantes de uma empreiteira de grande porte que
decidem relatar crimes e irregularidades em obras da Petrobras para
tentar obter pena menor.
Os procuradores, no entanto, recusaram o acordo com João Auler, presidente do conselho de administração da empreiteira.
Segundo a Folha apurou, eles julgaram que o executivo não contara
tudo o que sabia sobre as irregularidades em que a empreiteira está
supostamente envolvida.
A dupla que fez o acordo é formada pelo presidente da empreiteira,
Dalton Avancini, e pelo vice Eduardo Leite. Com eles, a Operação Lava
Jato passa a ter 15 delatores.
A multa a ser paga pelos dois executivos deve ultrapassar R$ 10 milhões.
O trio está preso desde o meio de novembro na sede da Polícia Federal em
Curitiba. A dupla que fez o acordo deve sair nos próximos dias.
Eles são réus na Justiça Federal, acusados de ter pago cerca de R$ 40
milhões em propina para obter contratos como o da construção da
refinaria Abreu e Lima (PE), e o da modernização da refinaria Presidente
Vargas (PR).
A expectativa dos procuradores é que os executivos revelem, além dos
problemas na Petrobras, irregularidades na construção da usina de Belo
Monte, por exemplo.
AMIGOS DE DOLEIRO
A Camargo Corrêa tinha uma espécie de conta corrente com Alberto
Youssef, na qual ele adiantava dinheiro à empresa, segundo o doleiro.
Em conversa gravada pela Polícia Federal, Youssef reclama: "Tô com um
pepinão aqui na Camargo que você nem imagina. Cara me deve 12 paus [R$
12 milhões], não paga. Pior que diretor é amigo, vice-presidente é
amigo".
A empreiteira havia tentado fechar um acordo de leniência com
procuradores, mas abandonou as negociações afirmando que a multa
proposta, de R$ 1,5 bilhão, quebraria a empresa. Acordo de leniência é
similar ao acordo de delação para empresas.
O primeiro valor estipulado pelos procuradores foi de R$ 2 bilhões,
superior ao valor de mercado da empreiteira antes da Lava Jato, de R$
1,7 bilhão --na avaliação de um banco, de acordo com um executivo da
empresa ouvido pela Folha. A Camargo topava pagar até R$ 500 milhões.
Em 2013, a empresa teve receita de R$ 5,9 bilhões e tinha 28 mil funcionários, segundo relatório anual do grupo.
A Camargo Corrêa perdeu valor após as investigações porque terá de pagar
multas milionárias impostas pela Justiça e vai perder negócios futuros
da Petrobras, que a colocou no final de 2014 numa lista de 23 empresas
proibidas de assinar novos contratos com a estatal.
Só numa ação de improbidade apresentada na semana passada, os
procuradores pedem que a Camargo pague uma multa de R$ 844 milhões ao
lado da Sanko Sider, empresa acusada de ter sido usada para o repasse de
suborno pago pela empreiteira.
O grupo do qual a Camargo faz parte alcançou uma receita de R$ 25,8 bilhões em 2013, último dado disponível.
O advogado da empresa, Celso Vilardi, disse que não havia sido informado
"oficialmente" da conclusão da negociação. Ele disse que renunciará à
defesa de Dalton Avancini, que fez o acordo, mas continuará no caso de
João Auler, que não fez.
Vilardi não quis comentar o acordo porque afirma não conhecer o texto pactuado.
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