A defesa do ajuste
Políticos e sindicalistas do PT
querem festa e farta distribuição de benesses, pouco se importando com
as condições das contas públicas ao final do processo.
Celso Ming - OESP
O ex-presidente Lula parece ter entendido melhor do que a
presidente Dilma a importância da política de ajuste da economia e a
adoção de um programa de sacrifícios hoje para obtenção de melhores
condições mais à frente.
Quarta-feira, em jantar com os senadores do PT, Lula criticou a falta
de empenho dos políticos do partido na defesa da nova política.
“Este ajuste precisa ter um objetivo. Ele não está sendo feito porque
achamos que é bom, mas, sim, para apontar um horizonte. (…) Todos
estamos falhando ao não explicar que não se trata de um fim em si mesmo
nem de uma coisa isolada”, disse Lula, conforme relato do líder do PT no
Senado, Humberto Costa (PT-PE), à Agência Estado.
Lula acrescentou que “é preciso combater sem trégua a inflação, o
mais rapidamente possível, para evitar que tudo desande”. E completou:
“Qual o País que queremos entregar ao sucessor de Dilma?”.
Além de temer os efeitos do desandamento, Lula soube compreender a
importância de uma política dedicada ao reforço dos fundamentos da
economia. Em 2002, ainda como candidato ao primeiro mandato, assinou a
Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometeu a puxar o superávit
fiscal e os juros para os níveis que viessem a ser necessários para
colocar a casa em ordem e vencer a inflação. E, depois, sustentou essa
política.
Após quatro anos de desorganização da economia e pressionada pelos
resultados, a presidente bem que virou na direção correta. Decidiu que
sua política econômica passasse a ser marcada pela austeridade na
administração das contas públicas e pelo combate à inflação. Para isso,
nomeou ministro da Fazenda o economista Joaquim Levy. Mas parou aí.
Dilma está sendo incapaz de agir com determinação na defesa do caminho
escolhido. Segue por aí, meio envergonhada da escolha que fez, com
breque de mão puxado, passando a impressão de constrangimentos
sucessivos. Mostra-se desinteressada em combater os ferozes opositores
dentro do seu governo, no Congresso, na sociedade e dentro do seu
partido.
A percepção que ganha campo é a de que a qualquer momento, a
presidente Dilma pode tirar o chão debaixo dos pés de sua equipe
econômica e mandar a austeridade para os ares. Enfim, o governo não
passa firmeza pelas escolhas que fez.
O ex-presidente Lula vem dizendo que a única maneira de entregar um
País arrumado para o sucessor de Dilma – que, presumivelmente para ele,
haverá de ser ele próprio ou outro candidato do PT – é executar com
sucesso uma política de austeridade fiscal e de implacável combate à
inflação.
O problema é que os políticos e os sindicalistas do PT pensam
diferentemente. Querem festa e farta distribuição de benesses, pouco se
importando com as condições das contas públicas ao final do processo.
Ou, então, como a renda vai encolhendo, acirram o conflito distributivo e
tentam garantir na marra o que não conseguem por arbitragem do próprio
governo.
As motivações pelas quais se quer uma economia em ordem variam de
grupo para grupo. Uns querem emprego; outros, melhores negócios; outros,
uma vida melhor para os filhos; e outros, ainda, como Lula, as melhores
condições eleitorais. Mas, para isso, é preciso um governo mais
determinado, não importando suas motivações últimas.
CONFIRA
Dispensas de pessoal
Dezembro é mês atípico porque emprega mais gente no comércio e nas
atividades produtivas de fim de ano. E janeiro é mês de férias e tal.
Mas, ao contrário do que aconteceu em meses anteriores, as notícias de
dispensa de pessoal em todos os setores começam a aparecer nas
estatísticas.
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