Preso por tentar se juntar ao EI ganhava US$ 500 para cortar cebolas, diz ex-chefe
GIULIANA VALLONE - FSP
Abdurasul Juraboev, 24, chegou aos Estados Unidos há dois anos, vindo do
Uzbequistão, onde nasceu e seus pais ainda vivem. Vivia no Brooklyn, em
Nova York, e, há cerca de seis meses, trabalhava no restaurante de
comida árabe Gyro King.
Era um funcionário dedicado e nunca se atrasava, mas nesta quarta-feira
(25) não apareceu para trabalhar. Foi então que seus colegas de trabalho
descobriram que havia sido preso acusado de apoiar a facção radical
Estado Islâmico.
"Foi muito surpreendente. Era um garoto pacífico, muito reservado, e que
nunca havia expressado nenhum tipo de ódio contra o país ou qualquer
religião", disse à Folha o dono do restaurante, Zakarya Kahn, 40.
De acordo com o empregador, Juraboev era bastante religioso, mas nunca
deu indícios de radicalismo. No Gyro, ele ganhava US$ 500 por semana
para "cortar cebolas e fazer a limpeza", disse Kahn.
Há algumas semanas, o jovem disse ao dono do restaurante que teria de
viajar no fim deste mês, queria voltar para casa, no Uzbequistão.
"Perguntei se iria voltar ao emprego e ele me disse: 'Não poderei
voltar, a situação na minha casa não é pacífica", contou Kahn.
Mas, segundo o FBI, a polícia federal americana, a viagem que Juraboev
planejava era para a Turquia, de onde iria à Síria para se juntar ao
Estado Islâmico.
Ele foi preso nesta quarta no apartamento que dividia com Akhror
Saidakhmetov, 19, do Cazaquistão, também detido quando tentava embarcar
para a Turquia no aeroporto John F. Kennedy, em NY. Os dois tinham
residência permanente nos EUA.
"O outro garoto [Saidakhmetov] também vinha aqui às vezes. Disseram que
têm 19 anos, mas aparentava 16", disse Kahn. A mãe do jovem também vive
nos EUA e, preocupada com a radicalização do filho, havia tomado seu
passaporte.
Foi avisada por repórteres na frente do apartamento do filho, na
quarta-feira, sobre sua prisão. "Não pode ser", gritou. "Não é verdade."
O processo contra os dois e um terceiro homem, Abror Habibov, 30, preso
na Flórida, os acusa de conspiração e tentativa de fornecer apoio
material para o grupo radical. Os três estão detidos.
De acordo com os documentos, Juraboev usava o nome de Abdulloh Ibn Hasan em sites em língua uzbeque de apoio ao Estado Islâmico.
Em agosto de 2014, postou uma mensagem afirmando que queria se
comprometer com a facção enquanto não podia viajar. "Quero dizer, atirar
no [presidente dos EUA, Barack] Obama e então sermos abatidos a tiros,
isso serve? Isso vai meter medo no coração dos infiéis."
Desde então, estava sendo monitorado pelos agentes federais --ele chegou
a ser interrogado, mas foi liberado porque o FBI queria acompanhar seus
passos para saber com quem estaria envolvido.
"Era um bom garoto, eu não sei o que deu errado. Talvez estivesse sendo
manipulado por alguém", afirmou Kahn. "Mas se fez mesmo isso que dizem, é
algo condenável."
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