A crise de confiança é maior que o desequilíbrio fiscal
Problema central é a insegurança na condução
da política econômica, assumida de fato desde 2010 pela presidente. A
economista Dilma acredita em almoço grátis
O Globo
Ao dar posse aos novos ministros da Fazenda e do Planejamento, ontem
em Brasília, a presidente Dilma Rousseff resumiu o que pensa sobre a
política econômica: “Precisamos ir além das tarefas de corte de gastos”,
disse. “A tarefa dos ministros é, de imediato, contagiar a sociedade
com a crença de que equilíbrio fiscal e crescimento econômico podem e
devem ir juntos".
Complementou, aos ministros: “Três orientações: trabalhar com metas
realistas; atuar para reduzir a dívida pública de forma consistente e
fazer o que for preciso para retomar o crescimento, sem guinada e sem
mudanças bruscas".
O nomeado para a Fazenda, Nelson Barbosa, se preocupara em conversar
com um grupo de representantes de fundos de investimentos, em
teleconferência à tarde.
Tinha seus motivos. Ele é reconhecido (e por isso mesmo, temido) como
um dos artífices da “matriz econômica" incensada por Dilma, que, em boa
medida, está na origem do desastre econômico dos últimos dois anos.
Barbosa se esforçou numa mensagem tranquilizadora. Afirmou que o foco
continua a ser no ajuste fiscal e no combate à inflação. Informou que,
no próximo ano, o governo vai se dedicar à realização da meta de
superávit fiscal (primário) equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto.
Até citou a reforma da Previdência como prioridade: “ É a reforma mais
crítica do momento. Temos que ajustar o sistema à realidade da economia
brasileira".
Talvez tivesse êxito, caso não insistisse em afirmar que sua chegada à
Fazenda não significa mudança na condução da política econômica. “A
direção da política econômica é a mesma”, repetiu. A evidente
insegurança dos agentes econômicos continuou a influenciar o recuo da
Bolsa e a valorização do dólar.
O problema central é, justamente, a falta de confiança na condução da
política econômica, assumida de fato desde 2010 pela presidente da
República.
A economista Dilma acredita em almoço grátis. Reelegeu-se sob os
fogos de artifício de intervenções desastradas em setores como o de
energia e a concessão de extraordinários subsídios de bancos públicos
aos eleitos pelo governo Lula como “campeões nacionais".
A consequência foi a corrosão do caixa governamental. Uma calamitosa
tentativa de remédio com pedaladas fiscais agravou a situação e resultou
na crise política que está aí, depois de um biênio de recessão,
expressivo aumento do desemprego e um setor industrial destroçado pela
ressurrecta tática de combate à inflação pela valorização do real em
relação ao dólar.
Dilma precisa resolver os desequilíbrios fiscais com urgência.
Diagnóstico e terapia são conhecidos, assim como a sua resistência
política.
O novo problema é que a crise de confiança no governo se tornou maior
e mais profunda que a crise fiscal cevada no Palácio do Planalto.
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