O acordo principal, vamos nos lembrar, ele selou com o Planalto em agosto. Ele também apostou que Janot faz dobradinha com o Planalto, mas agiu de modo distinto
Há um
processo de impeachment em curso, ainda nos seus primeiros passos. Por
escolha do governo, a tramitação será demorada — e, podem crer, o
calendário estendido joga contra o Planalto, daí o esforço malsucedido
de suspender o recesso. Sigamos.
Michel
Temer, obviamente, é alternativa de poder, dado um governo no qual
ninguém aposta. Uma nota à margem: a situação é tão surrealista que
pessoas racionais, inteligentes, sensatas mesmo, dão, às vezes,
respostas disparatadas: não acreditam no impeachment de Dilma, mas
também acham que ela não tem como chegar ao fim do mandato…
Eis que se
alevanta, então, um “líder” para não apenas inviabilizar o impeachment
no Senado — não é de hoje que Renan faz promessas (já volto ao ponto) —,
impedindo, então, a ascensão de Temer, como também para destituir o
vice-presidente da República do comando do PMDB.
Quem é o
líder? Ora, ninguém menos no que Renan Calheiros, investigado em
imodestos seis inquéritos da Operação Lava Jato. Não duvidem: se o
inimigo do Planalto fosse Renan, em vez de Cunha, quem, a esta altura,
estaria denunciado — não é mesmo, Rodrigo Janot? — e com um processo no
Conselho de Ética seria… Renan!
A ousadia
tarja-preta do presidente do Senado é mesmo impressionante, típica de
quem aposta em alguma garantia que nos escapa. De onde vem a certeza de
que pode se mover com tanta desenvoltura, oferecendo-se, a um só tempo,
como esbirro do Planalto e como o homem que vai tirar Temer do comando
do PMDB, para jogar o partido no colo do governo?
Um pouco de
lógica convencional: dado o quadro, se você é um peemedebista, leitor
amigo, gostaria de ter um capitão como esse, com essa ficha? Para
conduzir o navio a que porto?
O partido
realiza a sua convenção em março. Renan se mexe freneticamente, em
parceria com o Palácio do Planalto, para destituir Michel Temer do
comando da sigla. A Folha informa que o vice recebeu em sua casa os
figurões do PMDB do Rio, fração importante da legenda, que está contra o
impeachment, para tratar da chamada unidade. Estiveram com ele em São
Paulo o governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o
ex-governador Sérgio Cabral — além de Moreira Franco, braço-direito do
presidente do PMDB.
A ala
fluminense teria deixado claro que se opõe, sim, ao impeachment de
Dilma, mas defende que Temer continue no comando do PMDB. Moreira Franco
também conversou com o deputado estadual Jorge Picciani (PMDB-RJ), pai
de Leonardo, o líder que foi destituído e reconduzido ao posto.
Duvido um
pouco que Renan consiga liderar a rebelião para ser um condestável de um
eventual novo comando do PMDB. Ainda que não destitua Temer, é evidente
que a dobradinha Planalto-Renan surtiu um efeito positivo para o
Planalto:
a: obrigou o vice a jogar na defesa em seu próprio território;
b: lançou dúvidas em alguns setores sobre a capacidade de ele “unir o país”.
a: obrigou o vice a jogar na defesa em seu próprio território;
b: lançou dúvidas em alguns setores sobre a capacidade de ele “unir o país”.
Mas o que quer Renan?
Vejam que curioso. As respectivas estratégias de Eduardo Cunha, investigado em três inquéritos, e de Renan, investigado em seis, são distintas desde o começo. O presidente da Câmara sempre soube que, vamos dizer, não tinha trânsito no Ministério Público, e denunciou, com linguagem beligerante, que o Planalto jogava em dobradinha com Rodrigo Janot. Nunca teve dúvida de que tentariam mandá-lo para a guilhotina e procurou armar a sua defesa na Casa que preside.
Vejam que curioso. As respectivas estratégias de Eduardo Cunha, investigado em três inquéritos, e de Renan, investigado em seis, são distintas desde o começo. O presidente da Câmara sempre soube que, vamos dizer, não tinha trânsito no Ministério Público, e denunciou, com linguagem beligerante, que o Planalto jogava em dobradinha com Rodrigo Janot. Nunca teve dúvida de que tentariam mandá-lo para a guilhotina e procurou armar a sua defesa na Casa que preside.
Renan, já
faz tempo, procurou outro caminho. Celebrou um acordo com Dilma ao tempo
em que as contas do governo ainda estavam sob avaliação no TCU. Não ser
muito importunado pelo Ministério Público Federal era parte da sua
paga. E ele não foi, certo? Denunciei a manobra aqui no dia 12 de agosto e voltei ao assunto no dia 17 do mesmo mês.
No caso do
TCU, Renan não conseguiu entregar o que prometeu. O governo avançou com
tal violência contra o tribunal que não sobrou aos ministros outro
caminho que não o voto unânime contra as contabilidade de Dilma. Mas o
presidente do Senado não fez por menos e resolveu retardar a votação do
relatório. E segue sendo, desde aquela data, a fiel escudeiro do
Planalto.
Que curioso,
não? Cunha partiu para o confronto na certeza de que Janot jogava em
dobradinha com o Palácio para destruí-lo. Renan, visivelmente, faz o
contrário, mas também na certeza de que a dobradinha existe e de que
esta lhe pode ser útil.
Mas como, se
há seis inquéritos e até uma quebra de sigilo?, perguntaria alguém. Com
a devida vênia, existe uma diferença entre investigação e
mise-en-scène. Exemplo de investigação: o que o MP fez com Cunha.
Exemplo de mise-en-scène (por enquanto ao menos): o que está fazendo com
Renan. Cai na conversa quem quer.
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